Beagá tem renda per capta de bares superior a qualquer outra cidade


“O melhor programa é sentar-se à mesa com os amigos e bater um bom, papo.” Esta foi a resposta de Denílson Barbosa, 30 anos assistente de administração, ao ser perguntado sobre a importância dos bares para o belo-horizontino. Ele é um dos quase dois milhões e quinhentos habitantes da capital mineira, que vive rodeado pelos 12 mil bares da cidade, segundo dados da Amibar, total per capta superior a qualquer outra cidade.

Esses números renderam uma matéria no jornal americano, “New York Times” que definiu a cidade como a “capital brasileira dos bares” e atribui tal primazia ao ditado popular que se “Minas não tem mar eu vou para o bar.” Mas não é apenas a falta do mar que leva os moradores de Beagá, o apelido da cidade, aos bares. Ainda segundo Denilson ele prefere o bar a outros lugares por que “bar você não paga para entrar, e estes outros lugares são para 'azaração' e não para sentar e conversar.” Já seu amigo Eduardo Luís, 26 anos professor universitário, considera que BH tem poucas sugestões culturais, geralmente cinemas, que ele vai às vezes, e teatros que no geral são bem caros. Então ele acaba seguindo para o bar. Para os dois o bar tem um importante papel de socialização e a cerveja, bebida predominante na mesa, é apenas uma facilitadora.

A capital mineira proporciona uma variedade de opção de bares que vão desde os mais sofisticados até os mais simples e famosos “botecos”. Eduardo afirmou que na hora de escolher o bar, opta pelo mais perto de casa, e também pelo que tem o melhor serviço e qualidade. Observa o ambiente e destaca que os que têm música deixam o lugar mais saudável, não ocorrem muitas brigas e confusões. O assistente de administração concordou e disse que além do local os petiscos e bebidas também são escolhidos pelo o que está dentro de suas condições financeiras e pelo o que mais o agrada e completou: “há vários tipos de cerveja, mas eu escolho a que vai me da dor de cabeça no outro dia e não a que vai me da dor de cabeça na hora que eu estiver bebendo.”Os amigos costumam gastar aproximadamente 30 reais em um fim de semana nas mesas de BH. E dizem que compensa. O assistente de administração ressalta que embora o bar tenha uma grande importância não é uma prioridade. “É saudável beber até certo ponto, mas não sacrifico um objetivo de vida econômico para ir ao bar. Você pode avaliar ate que ponto ele é benéfico ou não, você pode regrar as idas ao local para não gastar tanto,” diz. Eduardo concorda, embora o bar tenha uma grande importância, ele não deixa de comprar algo que ele queira para se divertir. Neste caso diminui os botecos e compra o que for necessário.

Diferente dos dois está Glaidson Martins de 26 anos, que quando perguntado se deixa de comprar coisas pessoais para vir a um bar ele responde com uma risada digna de mineiro come-quieto “A gente nem pensa em comprar nada. Geralmente com o que sobra é que a gente compra outras coisas.” Seu gasto médio é de $R50, 00 e geralmente ao fim do mês está sem dinheiro por causa das noites (e as vezes dias) nos bares. “Não tem nada pra fazer se não ir pra boteco aqui em Minas. Pra cachaceiro é 100%.” Ele tem o perfil do belo-horizontino que gosta de à noite ir a um barzinho para se divertir. Além do ambiente descontraído ele destaca a liberdade de sentar na calçada e não ter que pagar para entrar.

Além de um espaço para a socialização e diversão, os bares e botecos também são fonte de renda para muitas pessoas, não só para os donos dos estabelecimentos, mas também cria uma mão-de-obra terceirizada. Do outro lado do balcão Tânia Maria, 43 anos, proprietária de bar, afirma que conseguiria sobreviver somente com os lucros do bar, embora ela tenha outros tipos de renda. Segundo ela, os dias de mais movimento são os fins de semana e dias de jogos dos times mineiros. “É só juntar as duas paixões dos brasileiros, cerveja e futebol, que o bar enche.” Com maioria de público jovem, Tânia diz ter cerca de 70% de clientes fixos. Com três anos de comércio que mantém o estabelecimento não só pelos lucros, mas também pelo prazer de gerenciá-lo.


Natália Oliveira e Jéssica Batista

O Encontro da Senhorita Tecnologia com a Senhora Dificuldade

Agulha nas mãos e linha, Odete Poddighi da Fonseca, de 74 anos, tece sua infância, quando ela mesma fabricava seus brinquedos e suas bonecas de pano. Na juventude começou a tricotar e bordar para passar o tempo. Quando o rádio surgiu em sua casa ficou maravilhada com as músicas que saiam daquela “caixinha” e ficava sem entender como aquele som podia sair dela. Ela calcula que foi em 1952, quando se casou, que viu a primeira televisão ainda em preto e branco achou "super chique", mas ficou encantada mesmo foi com a geladeira. Na roça onde morava tudo era analógico. Mesmo depois de ter conhecido tantas tecnologias ainda hoje ela se surpreende e fica fascinada com as novidades digitais, foi assim quando viu a neta mexer no site interativo do MSN. “Achei legal poder conversar com outras pessoas de outro lugar pelo computador.”

Mas a tecnologia ao mesmo tempo que deixa a Dona de casa fascinada é um grande obstáculo para ela. “Há pouco tempo ganhei uma máquina de lavar roupa, porém eu não soube usar e tive que pedir para me ensinarem.” A filha a acompanha nas idas ao banco, pois ela tem dificuldades com as máquinas de retirada e depósito de dinheiro. “É tudo moderno, difícil para uma pessoa de idade mexer nessas coisas.” A dona de casa contou ainda que já se sentiu constrangida por não saber usar em algumas máquinas: “Dá uma vergonha, pois fica todo mundo olhando pra você”. Embora tenha alguns objetos digitais que a encante há outros que ela não gosta. Um exemplo é o celular-ela prefere o telefone fixo. “Ele fala a mesma coisa e não é tão complexo para usar,” afirma.

A consultora do Mec, mestre e doutora em educação, Vitória Kachar, em trechos da sua tese de doutorado publicado no site do Portal do Envelhecimento, afirma que a geração dos jovens já nasceu na era da tecnologia, nesse universo de ícones, imagens, botões e teclas por isso não têm dificuldades com a ela, mas outra geração, nascida em tempos de relativa estabilidade, convive de forma conflituosa com esse novo “mundo” mais digital que se transforma de forma rápida e complexa e se expandi para todos os lados. Ela diz que: “Esse novo universo de relações, comunicações e trânsito de informações pode se tornar mais um elemento de exclusão para o idoso, tirando-lhe a oportunidade de participar do presente, marginalizando-o e exilando-o no tempo da geração anterior, relegando à função social de memória, de passado.” Segundo ela os idosos têm dificuldades de se adaptar a toda mudança do analógico para o digital.

Os óculos corrigem o cansaço das vistas. No pulso o relógio e nas mãos o celular. O aponsetado José Geraldo se lembra bem da primeira fez que foi colocado diante de um computador.“-Agora você vai redigir seus relatórios aqui nessa máquina, o computador”.Foi a frase que recebeu do chefe após chegar de uma das suas viagens a trabalho. Ele diz ter resistido ao pedido, pois tinha dificuldade para mexer na máquina. Até hoje os dedos não encontram as teclas. Foi preciso contratar um empregado para redigir os relatórios do engenheiro. Hoje aposentado. Segundo José seus colegas de trabalho estavam muito mais engajados nessa novidade do que ele.

A primeira vez que viu uma televisão foi há muito tempo na casa de um tio, e que todos os familiares se reuniam para assistir a novidade. Mesmo passado tantos anos da primeira vez que viu o objeto, até hoje ele só sabe executar as funções básicas do televisor, que não é o único empecilho tecnológico para ele. E a tecnologia insistiu em entrar na vida do engenheiro “Fui uma das primeiras pessoas a usar o celular, trabalhava em uma empresa de engenharia e o usava para comunicar com a torre, era “um trambolho” hoje já é pequenininho. Mesmo trabalhando com o objeto não aprendi a mexer no celular, o meu tira foto tem rádio e várias outras funções, mas eu mal sei fazer ligações nele,” diz o aposentado.

Mesmo com todas as dificuldades os dois idosos acham que a tecnologia é muito importante e dizem que a vida melhorou muito depois dela. Consideram que os jovens precisam estar incluídos digitalmente, pois a tecnologia já faz parte do mundo atual e é da importante na hora de arrumar um emprego, de estudar e etc. Mas eles não têm vontade de aprender a usar certas novidades consideram que já passaram da idade e preferem deixar para os jovens.

Diferente de Odette e José existem muitas pessoas da terceira idade que sentem a necessidade de se incluir no meio digital. Muitos procuram escolas de informática para aprenderem a utilizar o computador. Segundo o professor de informática Rafael Magiolli,de 22 anos, o principal objetivo dos idosos que freqüentam suas aulas é aprender a mandar e-mails e entrar no MSN para comunicar com os filhos e parentes. O professor afirma que "a maioria deles entram sem saber mexer em nada nem no mouse e nem no teclado e demoram aproximadamente umas cinco aulas para aprender a executar essas funções. A maioria saia do curso tendo aprendido a mexer no computador, mas alguns saiam do mesmo jeito que entraram por que têm vergonha de esclarecer suas dúvidas." Rafael reconhece que eles demoram muito mais tempo do que os jovens para aprender. Ele diz que o maior empecilho não é a dificuldade que eles têm com o computador, mas sim o fato de eles não aceitarem que alguém mais novo os ensine algo “Por outro lado eles são muito mais responsáveis.” O jovem deu aula para uma sala de aproximadamente 14 alunos que ele afirmou ser a maioria mulheres.

A necessidade de incluir os idosos nesse “mundo digital”, também é um dos questionamentos de Vitória ela acha importante, pois assim eles não carregam o fardo de velhos e descontextualizados da sociedade. Segundo sua pesquisa em um curso de informática na Universidade Aberta para a Maturidade da PUC de São Paulo, há uma analise do interesse dos idosos em freqüentar o curso e um dos motivos é a necessidade de se incluir na sociedade.


Natália Oliveira

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