As histórias do Zé davam um filme

O jornalista José Hamilton relança seu livro O Gosto da Guerra, em BH.
 

O cenário não era novidade. O que tinha mudado eram os personagens. Agora o protagonista era um senhor bem simpático. Sentado na parte mais alta daquele local que transbordava de pessoas. A trilha sonora foi cantada por uma dupla que apareceu e por alguns instantes roubou a cena. Eles tocaram a música Tocando em Frente, de Almir Sater e Renato Teixeira. O nome parece estranho, mas o trecho “Ando devagar porque já tive pressa...” é bem conhecido. O senhor simpático estava com o roteiro nas mãos, escrito em uma folha de papel. Se ele o seguiria ao pé da letra não sabíamos, mas ele não havia decorado as falas e tinha a cola caso fosse preciso. E acabou sendo. Várias vezes ele se valia do papel para relembrar o roteiro das cenas.

Como um narrador, o coadjuvante apresentou o personagem principal de nome José Hamilton Ribeiro, 70 anos e 50 como jornalista. Começava o espetáculo. Era hora de desligar o celular e trocar a pipoca e o refrigerante por um bloquinho e uma caneta nas mãos. Olhos e ouvidos atentos. Ele iniciou a primeira cena dizendo que não falaria de literatura. Logo no início percebemos que as primeiras cenas seriam de um monólogo do personagem principal. E para abrir a sessão das falas ele se perguntou o que é uma grande reportagem. E respondeu com uma frase de Gabriel Garcia Marques: “A grande reportagem é um gênero literário comparado ao romance.” José Hamilton, carinhosamente apelidado de Zé, contou que uma vez ouviu que para fazer uma boa reportagem é preciso sorte e paciência. Pensou consigo:“isso é para ganhar no bingo”. O jornalista tem uma fórmula algébrica para se fazer uma grande reportagem: um bom começo mais um bom final mais talento vezes trabalho elevado a tudo o que for necessário. “Se num der certo, reclama comigo”. Diz.

O começo já fez o público questionar se aquele seria um espetáculo de comédia. Fato é que ele provocara risos na platéia. E seguiu a cena dizendo que há três profissões femininas: medicina, sacerdócio e jornalismo. No seu livro Jornalismo 37/97, uma história da imprensa contada a partir dos jornalistas, Zé constatou que mulher era raro nas redações e que hoje elas já são maioria nas revistas e TV e só perdem no rádio e no jornal impresso. No livro, há uma estatística indicando que em 2018 as mulheres “tomam” o jornalismo. O personagem principal atribui tal primazia as mulheres serem muito curiosas a profissão segundo ele depende da curiosidade. “A curiosidade é a mãe da fofoca e a notícia é uma fofoca confirmada,” explica. Ao fim dessa frase, ele se desliga da cena e abre um parêntese para dizer que está apanhando de sua cola.

Já no meio daquele roteiro sofremos um flash back e fomos reviver a guerra do Vietnã, ou melhor, vivê-la aos olhos do senhor simpático. Quem vê aquele rosto cheio de rugas, aquele jeito de falar tranqüilo talvez nem imagine o que ele passou. O jornalista cobriu a guerra. E também perdeu a perna nela. Ele contou que o jornalista que cobre a guerra não pode publicar tudo o que sabe a respeito dela e que mesmo o seu país de origem não esteja envolvido nela, o profissional pode ser taxado como traidor. O protagonista declarou que é traço psicológico do jornalista estar do lado que aparente ser o mais fraco na guerra. E relatou que embora a imprensa tenha colocado os EUA como o “forte” e o Vietnã como “coitadinho”, os dois países eram duas potências na guerra.

A fotografia escura que compunha as cenas condizia com aquela história da guerra. Esse que é um assunto delicado e obscuro. Mas vamos continuar com as histórias de Zé, que tem muito para contar. Ele explicou que a guerra sem jornalistas é pior porque a presença do jornalista inibe a violência. O personagem afirmou que a guerra tem importância quando há alguém para falar sobre ela. Contou que quando estava na guerra, seu seguro de vida tinha um problema de fuso horário e por isso deveria voltar no dia 19 do Vietnã, porém o fotografo lhe pediu que ficasse mais um dia para tirar a foto de capa. O jornalista ficou e exatamente no dia 20 pisou em uma mina que explodiu e o deixou sem a perna.

Nesse momento, até pareceu aqueles roteiros sensacionalistas, mas o que ele contou a seguir foi muito mais impactante. Depois de ter perdido a perna, segundo o velhinho, os onze dias que seguiram foram terríveis. Uma rotina de dor, morfina e vômitos. Lembrou que tinha uma televisão na enfermaria e que ele não sabia se era noite ou dia. Chegado um certo horário, eles desligavam a TV. Então, “Eu chorava com mais pena de mim do que dos outros.” Com o tempo e já andando começou a seguir o barulho dos choros todas as vezes ele encontrou ou um vietnamita ou gente de ascendência latina. “Americano não chora”, afirmou. Dito isso, viajamos um pouco no interior do personagem Ele admitiu que seu maior medo na guerra era morrer e ninguém saber. Alguém perguntar:

- Cadê o Zé?

E outro responder:

- Ah morreu por ai.

Nesse momento saímos do gênero drama e voltamos a fazer uma passagem pela comédia. O protagonista provocou mais risos na platéia. A respeito do perigo, contou que na mesma época que cobria a guerra um fotógrafo que fazia imagens de uma peça de teatro caiu e morreu. “Então na estatística da Revista Realidade, que eu trabalhava na época, cobrir peça é mais perigoso do que ir para a guerra.”

Nas seqüências posteriores, o senhor não perdeu o bom humor. E falou sobre uma de suas experiências na Globo. De acordo com o protagonista o pessoal da emissora o levou para uma sala escura que passou um vídeo sobre ele e depois o diretor da emissora o convidou para almoçar com toda “nata” de lá. Ele sentiu-se abafando. “No outro dia, eu cai na CGB, ‘Central Globo de Boatos’. É lá que a gente fica sabendo quem está grávida, quem foi para a Record”. No outro dia uma moça lhe perguntou:

- Zé você está doente?

“Poxa! Chega para uma pessoa de 70 anos e pergunta se ela está doente. Até eu mesmo desconfiei será?”

- Não. Por quê?

Então a moça completa:

- Firma grande, quando homenageia funcionário ou a pessoa está com câncer ou vai ser mandada embora. Então você só vai ser mandado embora.

No fim da noite e também no fim do monólogo, abriu-se espaço para interação do público junto ao José Hamilton. Perguntaram ao Zé uma reportagem que ele gostaria de fazer e não fez. Respondeu que fez uma lista com dez grandes reportagens para o Globo Rural. Toda vez que faz uma acrescenta outra, para sempre ter a lista com dez. No desfecho da palestra o apresentador contou uma de suas histórias no programa. Segundo ele, depois de fazer entrevista com um fazendeiro, o senhor disse que o jornalista tinha de conhecer sua esposa. Então foram conhecê-la. Chegando lá, a mulher muito eufórica pulou e abraçou o jornalista. Foi aí que o fazendeiro lhe declarou que a esposa não era sempre assim e lhe contou uma história que o Zé disse ser assim: “Quando Deus fez o homem ele tinha um balde de juízo do lado. Ao terminar de modelá-lo Deus soprou, o homem acordou, o Divino enfiou a mão no balde e colocou sobre a cabeça dele e o juízo escorreu sobre todo o corpo do homem. Depois, foi a vez da mulher Deus também estava com o balde do juízo. Porém quando ele soprou a mulher acordou e saiu correndo. Então ele jogou o juízo que pegou na cintura dela e escorreu pelo resto do corpo. E assim a mulher só tem juízo da cintura para baixo”. E foi dessa forma que terminou o espetáculo. E só restaram os bastidores.


Um pouco sobre o Zé.

Depois de toda essa viagem no tempo, é hora de explicar um pouco mais sobre o nosso personagem principal e sobre as cenas que aconteceram no dia. José Hamilton Ribeiro hoje apresenta o globo rural, programa que passa pela manhã na TV Globo. Como jornalista ele já recebeu 8 prêmios Esso. Trabalhou na Revista Realidade e Quatro Rodas, na Folha de S. Paulo e nos programas Globo Repórter e Fantástico. Suas historias lhe renderam vários livros, como O Gosto da Guerra (1969) Pantanal Amor Bágua (1974) Senhor Jequitibá (1979) Gota de Sol (1992) Vingança do Índio Cavaleiro (1997) Jornalistas 37/97 (1998). E foi para relançar o livro O Gosto da Guerra, em uma palestra contando como foi sua passagem pelo Vietnã, que o jornalista veio a Belo Horizonte. Na noite de quinta feira do dia 6 de novembro, a Academia Mineira de Letras ficou lotada para vê-lo. A entrada foi gratuita e os primeiros 50 livros foram vendidos ao preço de R$ 5,00.

“Sim, a Vaca Louca também dá em boi”.

Sempre achei tutorial uma coisa chata. Tudo bem, eles estão lá para te ensinar, mas dá vontade de aprender “fuçando” em vez de ficar lendo aquele “blá blá blá” todo. Porém como eu tinha que fazer uma reportagem sobre o assunto resolvi lê-lo para me informar. E confesso que ele me surpreendeu bastante, foi o tutorial mais cômico que já li. Logo de início veio com a frase: “Se tivéssemos de plantar tudo que precisamos no nosso país sede, as cidades americanas seriam um amontoado de merda (não que não sejam, mas...) A plantação de soja e a criação de gado precisam de um monte de espaço, e a Amazônia é o melhor lugar para isso”. E ele seguiu com ironia e bom humor.

É com um M amarelo meio estranho, uma copia do M da McDonald’s, um Ronald com uma cara nada feliz, que o jogo on-line McDonald’s games se apresenta. No texto inicial do game eles afirmam ao jogador que ganhar dinheiro com uma empresa como essa não é tão fácil como parece. E dizem a frase: “Você vai descobrir toda a sujeira debaixo do tapete que faz de nós uma das maiores empresas do mundo” No jogo, você tem que cuidar de quatro espaços, o campo, a granja, o restaurante e a sede da empresa. No campo, o jogador planta os bois e a soja que vão para a granja e depois para o restaurante, local em que o jogador é responsável pelos funcionários, A sede é onde sabemos do rendimento da empresa. Ela é engraçada. Tem os empresários, típicos carecas de terno, os Publicitários meio malucos com cabelos verdes e moicanos e os Relações Publicas, que como a descrição do jogo diz, “são responsáveis por desmentir os críticos. “

O tutorial fala a respeito desses quatro espaços. Sobre a granja diz para empanturrar os bois com forragem hiper-calórica, afinal todo bom consumidor gosta de hambúrguer gorduroso. Para economizar, você pode adicionar porcarias a forragem, como exemplo, “a água de esgoto que não faz bem, mas é conveniente.” Devemos encher os bois de hormônio para que eles engordem mais rápido, o jogo ressalta que isso “pode trazer alguns riscos à saúde dos consumidores, mas quem liga? “ Sobre a sede da empresa, o tutorial diz: O “McDonald's não é uma rede de fast food, mas sim uma marca, um estilo de vida, um símbolo da superioridade da cultura americana.” Quanto ao restaurante, você não deve deixar que os funcionários fiquem tristes, para que isso não aconteça você pode premia-los com medalhas de funcionário do mês, discipliná-los e, em último caso demiti-los. Fiquei imaginando como aqueles funcionários devem ser felizes tendo que trabalhar nos finais de semana, feriados e com tantas pessoas para atender. Sim porque ter sua foto pregada como melhor funcionário do mês é equivalente à diversão do final de semana. Mas a melhor parte do tutorial está quando ele fala da granja explicando que você tem que cuidar dos bois para que eles não peguem a doença da vaca loca ai vem a incrível frase: “Sim, vaca louca também dá em boi”.

Eu ainda me surpreendi mais com o game. Nos outros jogos, quando você perde, geralmente se limitam ao game over. Nesse abre-se um quadrado com o Ronald e alguns empresários com uma cara bem irritada e a seguinte frase: “Game Over! Seu desgraçado! Levou nossa empresa à falência! Anos e anos para criar uma tradição e foram destruídos por você.” O jogo traz essa sensação de poder de que você está cuidando mesmo daquela empresa. E o objetivo é mesmo não levá-la a falência e para que isso ocorra o jogador, que quer ganhar o game, faz o que está escrito no tutorial, destrói a Amazônia, enche os bois de porcarias, usa os Publicitários para enganar e atrair o público, e os Relações Públicas para subornar os políticos, nutricionistas, agentes de saúde e ambientalistas. O interessante e que quando você clica nessas funções aparecem descrições. Os publicitários têm o programa para terceiro mundo que, segundo a descrição, serve para ganhar a confiança da classe média. Lanches para atrair as crianças, já que elas não têm uma mente critica e aceita facilmente o produto. E ao clicar na função de enganar dos Relações Publica, embaixo deles aparece a frase: Sim, nós chamamos isso de Relações Publicas. O game, além de cômico, é uma forte crítica a empresa McDonald’s.


Natália Oliveira


link para o jogo http://www.mcvideogame.com/

O spray, o Tes, o mc e a vaca

O Tes é o tipo de cara que sabe o que quer, faz o que gosta e fala o que pensa. Isso deu pra notar no tempo da nossa entrevista. Na tela que ele exibia com orgulho, víamos um peixe voando, gente com cara de terra, de mar, de mundo. “Se você chegar de perto vai ver que é só um monte de manchas”, diz o artista. E ao fundo, entrelaçados nos traços do grafiteiro, quem olhava atentamente via as iniciais de seu apelido que é uma referência ao que mais chama atenção em seu rosto, a Testa.

Ele era um dos vários personagens que contribuíram na realização da BIG, Bienal Internacional do Grafite, primeiro evento do gênero em Belo Horizonte. Logo na entrada da Bienal via-se pichação, desenhos psicodélicos, pornografia, computador, cama, pedaço de carro, via de um tudo. E tudo muito confuso. Não dava pra saber se era grafite ou pichação. Se era arte ou crime. Andando um pouco mais tinha pintura em fitas, em carros, e em instantes só viamos pintura. Foi só entrar um pouco mais para nos depararmos com um labirinto artístico. Não tinha melhor, nem pior. Era só spray. E quando perguntávamos aos entrevistados o que significava pra eles o grafite, era como escutar em coro uníssono: Grafite é arte!

E o mais interessante é perceber que no grafite, assim como na escultura, música ou artesanato, cada obra tem uma história. Como exemplo, observamos atentas ao desenho da moça dos cabelos roxos enrolados, como cordas. Era a Lídia. Uma declaração de amor de seu namorado, também grafiteiro. E quando sua amiga, Luísa, perguntou-lhe se guardaria a obra, tomamos conhecimento que grafite não é só arte. É dinheiro também.

Lídia nos explicou que para ter o quadro exposto na Bienal era necessária uma seleção dentre outras obras. E quem conseguia, assinava contrato com a coordenação da BIG, cedendo sua obra para exposição. “Eles podem vender a obra, porque assinamos contrato, o quadro agora é deles”, nos contou a grafiteira. Mas quando perguntamos a Lídia se era possível viver de grafite, sua resposta foi clara: “Grafite é tudo diversão, mais não dá pra sobreviver”. Da mesma maneira pensa Tes. Ele é design gráfico, sonha em ser professor de artes e tem o grafite somente como um hobby. E disse que considerava grafite o que está nas ruas, nos carros, nas pontes e viadutos. “O valor tá dentro de mim quando pinto na rua. Mas se sou pago, perde o valor. Posso pintar o grafite e virar uma tela. Aí deixa de ser grafite”.

Além destes, encontramos outros personagens que estavam lá não por que grafitavam, mas por pertencerem a um dos quatro elementos. Explica-se. Segundo o Mc HD, o Hip Hop é composto por quatro elementos: o grafite, o Rap, o DJ e o break. E além das telas expostas na Bienal, houve também duelo de MC’s, break e muito som. O palco era uma explosão de luzes coloridas que iluminavam os rostos dos vários curiosos que marcaram presença. E a cada apresentação de break, onde dançarinos giravam e retorciam-se no chão como se lhes faltassem os ossos, uma rodinha era criada em torno deles. Roda esta que só ia crescendo, numa verdadeira disputa por uma frestinha para ver o espetáculo.

Já o duelo de MC’s, atração muito esperada na noite, nos foi detalhadamente explicada pelo MC HD: “cada MC contribui com dois reais, ai a gente faz o duelo de dupla contra dupla. Cada uma (das duplas) tem 45 segundos para atacar e 45 para defender. Não são aceitas agressões morais. Quem ganha avança uma etapa e no final a dupla vencedora disputa entre si. O vencedor leva o dinheiro arrecado pra casa.” Quando o duelo começou, formou-se a platéia em frente ao palco e por alguns instantes as obras foram esquecidas. Só se ouvia a galera vibrando

Para os que gostam do estilo, facilmente identificado pelas calças largas, bonés ditos aba-reta, correntes no pescoço e mochila nas costas, a Bienal foi um prato cheio de atrações. Exposição, música, dança. Muita coisa pra ver e ouvir. Bom você deve estar se perguntando: mas e a vaca onde entra nessa história? Percorrendo os olhos nos grafites, uma tela em especial nos chamou a atenção. Era a vaca pintada pela Lídia. Lá estava ela com a cabeça maior que o corpo, um estilo alternativo e causando a incrível sensação de que a qualquer hora ela ia sair da tela e começar a rir sem parar. Com todas essas características nós olhávamos para ela e só pensávamos na vaca do Toddy. Depois de já ter escolhido um desenho para grafitar, Lídia viu a foto da vaca e foi como amor à primeira vista. Achou que se divertiria mais grafitando uma vaca e não deu outra. A garota se sentiu feliz com o trabalho.

Com cara de indiferente, era como se a vaca nos dissesse com os pesarosos olhos: “Sou assim e pronto. Goste você ou não!”. Analisando a imagem do animal, chegamos à conclusão que é mais ou menos isso que este estilo de arte propõe. Lutando para obter espaço e reconhecimento, o grafite trás consigo das piores ás melhores críticas, e mesmo causando certo preconceito diante às demais categorias, ele também é uma forma de arte.


Natália Oliveira e Jéssica Vírginia

Para Distrair

Um pomar em Mafagundes


E foi em Mafagundes interior de Procanopólis que essa história começou, numa terra onde se comia apenas frutas e vegetais plantados pelos próprios moradores. Quem começou a narrar os acontecimentos foi o Sr. Euclides Macieira de 88 anos , ele tinha um imenso pomar em sua casa. Sr. Euclides conta a seguinte história:

Pereira era um jovem que todo fim de semana ia para o único bar de Mafagunde, o bar do Sr. Figueira. Lá ele encontrava com os amigos e assistia aos jogos do Palmeiras, seu time do coração. Torcedor apaixonado não perdia um jogo do time. Mas além de assistir aos jogos Pereira tinha uma outra motivação para ir ao bar. Ele era completamente apaixonado por Amelia Moreira filha do Sr Figueira, um homem grosserão e que causava medo nos moradores da cidade, por andar sempre armado.

Pereira vivia trocando olhares com a Moreira que morria de medo de seu pai ver. Os amigos do rapaz diziam para ele desistir, por que Amélia não era mulher para ele. Ele era plebeu e o pai da moça nunca admitiria o namoro. Mas o jovem nao desistiu e um dia ao pedir a çaideira tomou coragem e entregou a Amélia um bilhete para se encontrarem no parque das Mangabeiras as 20:00 da noite. A moça muito corajosa foi ao encontro.

E assim foi durante um mês, mas a história do encontro foi se espalhando pela cidade. As mexiriqueiras foram contando e aumentando a tal história. E não deu outra a história chegou ao ouvido do Sr. Figueira que ficou muito nervoso e saiu dizendo que ia matar Pereira, o rapaz por sua vez chamou a moça para fugirem para outra cidade.

Mas antes que os dois pudessem se encontrar o tempo fechou e foi como se São Pedro tivesse aberto uma mangueira. E em meio a muita chuva o pai da jovem encontrou o casal junto. Desesperado Pereira começa a correr, mas não teve jeito o Sr. Figueira começo a atirar e toma teiro, não teve jeito o Pereira mesmo tentando resistir morreu. E a Moreira também morreu de tristeza. Sr. Pereira morreu de velhice, o parque das Mangabeiras se acabou, as mexiriqueiras se mudaram para fofocar em outra cidade, a mangueira que São Pedro abriu passou tempos sem funcionar, a çaideira sem o Pereira já não era mais a mesma e aquela foi a única vez que alguém toma teiro por ali.

E no final só sobraram as maças no pomar do Sr. Euclides Macieira.

Natália Oliveira

O skate influência no modo de vida.



Mais que um esporte o skate é um estilo de vida, segundo o skatista Jemerson Oliveira. Ele é mais conhecido como Jemim e prática o esporte há sete anos. Quando não está sobre quatro rodinhas, se diverte com pessoas que também são apaixonadas por elas. Os amigos escutam o mesmo tipo de música o rap e hard core, e se vestem de forma semelhante, o que além de uni-los os transforma em um grupo indentificável. "Noventa por cento das pessoas que eu conheço e por causa do skate." Diz o skatista.

Filipe Rocha, 19 anos e skatista há 5, relembra uma festa na casa de Jemerson."Reunimos alguns amigos e também skatistas de outras cidades. Todos nós dormimos na casa dele e no outro dia fomos juntos para o campeonato. Disputamos um contra o outro. A vontade de ganhar existe, mas a amizade está a cima de tudo."

Os skatistas praticam a atividade andam em pistas e nas ruas. Qualquer lugar que seja "skatável", como corrimão de escadas, bancos e rampas naturais é visto por ele como possibilidade de manobras. Por ser um esporte de rua é praticável em quase todos os lugares, reúne pessoas de várias classes sociais.

As pessoas têm uma visão que exista muito risco de se machucar praticando skate e por isso muitos pais não incentivam. Mas é preciso lembrar que existem riscos de lesão em qualquer esporte . Jemerso diz que, "com o passar do tempo, ganha-se uma percepção sobre as manobras efetuadas, consegue-se ver quando ela vai ser efetuada com perfeição , dai os acidentes diminuem muito."

Apesar de o sonho da maioria dos praticantes do esporte ser a profissionalização, Jemerson e Felipe lembram que no Brasil isso é bem complicado, pois falta patrocínio, as empresas do ramo raramente acreditam no potencial de um skatista para representar a sua marca.

Natalia Oliveira.

Essa foi a primeira matéria que escrevi publicada no jornal da faculdae Contra mão em julho de 2007.

Para Distrair...


JESUS VOCÊ POR AQUI!


Você já parou para pensar como a chuva e o medo fazem os lugares ficarem muito mais longe do que realmente são. Foi essa a sensação que tive voltando da faculdade sozinha para pegar o ônibus. Eu tinha acabado de sair da aula, apesar dela não ter saido de mim . Nos momentos em que eu esquecia o medo, pensava em uma pauta para a revista que iremos fazer. Feliz foi quando avistei o Café la Place na esquina da Av. Brasil com Afonso Penna e lá estava eu na parte mais gringa de beagá. É isso que penso todas as vezes que passo por ali. Quando peguei o ônibus e passei da roleta encontrei um conhecido e o cumprimentei. Quando sentei, começei um monologo -Vixiii acho que ele não me reconheceu, cumprimentou só por cumprimentar. E logo me respondi - Ah mas também ele é Jesus, "todo mundo" deve cumprimentá-lo e ele deve se perguntar - quem é essa pessoa?

Parece estranho dizer que alguem é Jesus, mas é essa a imagem que tenho dele. A explicação para isso é o fato de que todo ano ele representa Jesus na encenação da semana santa na igreja próxima a minha casa. E eu nem sei o nome dele para mim e para muitas pessoas ele é Jesus. Eu acabei lembrando que quando começou a interpretação ele tinha os cabelos longos e que anos depois cortou e o comentário do bairro foi se ele interpretaria o mesmo papel no ano seguinte. Ele interpretou. Me lembrei também de quando sua namorada teria uma filha e todos diziam:"-Jesus vai ter um filho". Assim como a aula não saiu de mim o personagem não saiu dele.

E engraçado várias vezes vemos na tv artistas dizendo que as pessoas os vêem como os personagens. Os atores entram nos personagens e os personagens nao saem deles, mas isso pode não ser só vida de tv.É como esse rapaz, que não consigo me lembrar o nome e as vezes quando o vejo me dá vontade de fazer um trocadilho barato e dizer: "-Jesus você por aqui!"

Acho que esse assunto daria uma boa pauta. Mas acabou não se transformando em tal. Acabamos optando por outro tema. Mas essa história no fim das contas rendeu em um texto para esse blog. E me fez pensar sobre a associações que fazemos. Em como um símbolo pode se tornar em uma realidade para nós. E justo eu que sempre achei uma "babaquisse" as pessoas não saberem diferenciar personagem de pessoa me peguei fazendo a mesma confusão e tratando isso como normalidade.

Natália Oliveira

Beagá tem renda per capta de bares superior a qualquer outra cidade


“O melhor programa é sentar-se à mesa com os amigos e bater um bom, papo.” Esta foi a resposta de Denílson Barbosa, 30 anos assistente de administração, ao ser perguntado sobre a importância dos bares para o belo-horizontino. Ele é um dos quase dois milhões e quinhentos habitantes da capital mineira, que vive rodeado pelos 12 mil bares da cidade, segundo dados da Amibar, total per capta superior a qualquer outra cidade.

Esses números renderam uma matéria no jornal americano, “New York Times” que definiu a cidade como a “capital brasileira dos bares” e atribui tal primazia ao ditado popular que se “Minas não tem mar eu vou para o bar.” Mas não é apenas a falta do mar que leva os moradores de Beagá, o apelido da cidade, aos bares. Ainda segundo Denilson ele prefere o bar a outros lugares por que “bar você não paga para entrar, e estes outros lugares são para 'azaração' e não para sentar e conversar.” Já seu amigo Eduardo Luís, 26 anos professor universitário, considera que BH tem poucas sugestões culturais, geralmente cinemas, que ele vai às vezes, e teatros que no geral são bem caros. Então ele acaba seguindo para o bar. Para os dois o bar tem um importante papel de socialização e a cerveja, bebida predominante na mesa, é apenas uma facilitadora.

A capital mineira proporciona uma variedade de opção de bares que vão desde os mais sofisticados até os mais simples e famosos “botecos”. Eduardo afirmou que na hora de escolher o bar, opta pelo mais perto de casa, e também pelo que tem o melhor serviço e qualidade. Observa o ambiente e destaca que os que têm música deixam o lugar mais saudável, não ocorrem muitas brigas e confusões. O assistente de administração concordou e disse que além do local os petiscos e bebidas também são escolhidos pelo o que está dentro de suas condições financeiras e pelo o que mais o agrada e completou: “há vários tipos de cerveja, mas eu escolho a que vai me da dor de cabeça no outro dia e não a que vai me da dor de cabeça na hora que eu estiver bebendo.”Os amigos costumam gastar aproximadamente 30 reais em um fim de semana nas mesas de BH. E dizem que compensa. O assistente de administração ressalta que embora o bar tenha uma grande importância não é uma prioridade. “É saudável beber até certo ponto, mas não sacrifico um objetivo de vida econômico para ir ao bar. Você pode avaliar ate que ponto ele é benéfico ou não, você pode regrar as idas ao local para não gastar tanto,” diz. Eduardo concorda, embora o bar tenha uma grande importância, ele não deixa de comprar algo que ele queira para se divertir. Neste caso diminui os botecos e compra o que for necessário.

Diferente dos dois está Glaidson Martins de 26 anos, que quando perguntado se deixa de comprar coisas pessoais para vir a um bar ele responde com uma risada digna de mineiro come-quieto “A gente nem pensa em comprar nada. Geralmente com o que sobra é que a gente compra outras coisas.” Seu gasto médio é de $R50, 00 e geralmente ao fim do mês está sem dinheiro por causa das noites (e as vezes dias) nos bares. “Não tem nada pra fazer se não ir pra boteco aqui em Minas. Pra cachaceiro é 100%.” Ele tem o perfil do belo-horizontino que gosta de à noite ir a um barzinho para se divertir. Além do ambiente descontraído ele destaca a liberdade de sentar na calçada e não ter que pagar para entrar.

Além de um espaço para a socialização e diversão, os bares e botecos também são fonte de renda para muitas pessoas, não só para os donos dos estabelecimentos, mas também cria uma mão-de-obra terceirizada. Do outro lado do balcão Tânia Maria, 43 anos, proprietária de bar, afirma que conseguiria sobreviver somente com os lucros do bar, embora ela tenha outros tipos de renda. Segundo ela, os dias de mais movimento são os fins de semana e dias de jogos dos times mineiros. “É só juntar as duas paixões dos brasileiros, cerveja e futebol, que o bar enche.” Com maioria de público jovem, Tânia diz ter cerca de 70% de clientes fixos. Com três anos de comércio que mantém o estabelecimento não só pelos lucros, mas também pelo prazer de gerenciá-lo.


Natália Oliveira e Jéssica Batista

O Encontro da Senhorita Tecnologia com a Senhora Dificuldade

Agulha nas mãos e linha, Odete Poddighi da Fonseca, de 74 anos, tece sua infância, quando ela mesma fabricava seus brinquedos e suas bonecas de pano. Na juventude começou a tricotar e bordar para passar o tempo. Quando o rádio surgiu em sua casa ficou maravilhada com as músicas que saiam daquela “caixinha” e ficava sem entender como aquele som podia sair dela. Ela calcula que foi em 1952, quando se casou, que viu a primeira televisão ainda em preto e branco achou "super chique", mas ficou encantada mesmo foi com a geladeira. Na roça onde morava tudo era analógico. Mesmo depois de ter conhecido tantas tecnologias ainda hoje ela se surpreende e fica fascinada com as novidades digitais, foi assim quando viu a neta mexer no site interativo do MSN. “Achei legal poder conversar com outras pessoas de outro lugar pelo computador.”

Mas a tecnologia ao mesmo tempo que deixa a Dona de casa fascinada é um grande obstáculo para ela. “Há pouco tempo ganhei uma máquina de lavar roupa, porém eu não soube usar e tive que pedir para me ensinarem.” A filha a acompanha nas idas ao banco, pois ela tem dificuldades com as máquinas de retirada e depósito de dinheiro. “É tudo moderno, difícil para uma pessoa de idade mexer nessas coisas.” A dona de casa contou ainda que já se sentiu constrangida por não saber usar em algumas máquinas: “Dá uma vergonha, pois fica todo mundo olhando pra você”. Embora tenha alguns objetos digitais que a encante há outros que ela não gosta. Um exemplo é o celular-ela prefere o telefone fixo. “Ele fala a mesma coisa e não é tão complexo para usar,” afirma.

A consultora do Mec, mestre e doutora em educação, Vitória Kachar, em trechos da sua tese de doutorado publicado no site do Portal do Envelhecimento, afirma que a geração dos jovens já nasceu na era da tecnologia, nesse universo de ícones, imagens, botões e teclas por isso não têm dificuldades com a ela, mas outra geração, nascida em tempos de relativa estabilidade, convive de forma conflituosa com esse novo “mundo” mais digital que se transforma de forma rápida e complexa e se expandi para todos os lados. Ela diz que: “Esse novo universo de relações, comunicações e trânsito de informações pode se tornar mais um elemento de exclusão para o idoso, tirando-lhe a oportunidade de participar do presente, marginalizando-o e exilando-o no tempo da geração anterior, relegando à função social de memória, de passado.” Segundo ela os idosos têm dificuldades de se adaptar a toda mudança do analógico para o digital.

Os óculos corrigem o cansaço das vistas. No pulso o relógio e nas mãos o celular. O aponsetado José Geraldo se lembra bem da primeira fez que foi colocado diante de um computador.“-Agora você vai redigir seus relatórios aqui nessa máquina, o computador”.Foi a frase que recebeu do chefe após chegar de uma das suas viagens a trabalho. Ele diz ter resistido ao pedido, pois tinha dificuldade para mexer na máquina. Até hoje os dedos não encontram as teclas. Foi preciso contratar um empregado para redigir os relatórios do engenheiro. Hoje aposentado. Segundo José seus colegas de trabalho estavam muito mais engajados nessa novidade do que ele.

A primeira vez que viu uma televisão foi há muito tempo na casa de um tio, e que todos os familiares se reuniam para assistir a novidade. Mesmo passado tantos anos da primeira vez que viu o objeto, até hoje ele só sabe executar as funções básicas do televisor, que não é o único empecilho tecnológico para ele. E a tecnologia insistiu em entrar na vida do engenheiro “Fui uma das primeiras pessoas a usar o celular, trabalhava em uma empresa de engenharia e o usava para comunicar com a torre, era “um trambolho” hoje já é pequenininho. Mesmo trabalhando com o objeto não aprendi a mexer no celular, o meu tira foto tem rádio e várias outras funções, mas eu mal sei fazer ligações nele,” diz o aposentado.

Mesmo com todas as dificuldades os dois idosos acham que a tecnologia é muito importante e dizem que a vida melhorou muito depois dela. Consideram que os jovens precisam estar incluídos digitalmente, pois a tecnologia já faz parte do mundo atual e é da importante na hora de arrumar um emprego, de estudar e etc. Mas eles não têm vontade de aprender a usar certas novidades consideram que já passaram da idade e preferem deixar para os jovens.

Diferente de Odette e José existem muitas pessoas da terceira idade que sentem a necessidade de se incluir no meio digital. Muitos procuram escolas de informática para aprenderem a utilizar o computador. Segundo o professor de informática Rafael Magiolli,de 22 anos, o principal objetivo dos idosos que freqüentam suas aulas é aprender a mandar e-mails e entrar no MSN para comunicar com os filhos e parentes. O professor afirma que "a maioria deles entram sem saber mexer em nada nem no mouse e nem no teclado e demoram aproximadamente umas cinco aulas para aprender a executar essas funções. A maioria saia do curso tendo aprendido a mexer no computador, mas alguns saiam do mesmo jeito que entraram por que têm vergonha de esclarecer suas dúvidas." Rafael reconhece que eles demoram muito mais tempo do que os jovens para aprender. Ele diz que o maior empecilho não é a dificuldade que eles têm com o computador, mas sim o fato de eles não aceitarem que alguém mais novo os ensine algo “Por outro lado eles são muito mais responsáveis.” O jovem deu aula para uma sala de aproximadamente 14 alunos que ele afirmou ser a maioria mulheres.

A necessidade de incluir os idosos nesse “mundo digital”, também é um dos questionamentos de Vitória ela acha importante, pois assim eles não carregam o fardo de velhos e descontextualizados da sociedade. Segundo sua pesquisa em um curso de informática na Universidade Aberta para a Maturidade da PUC de São Paulo, há uma analise do interesse dos idosos em freqüentar o curso e um dos motivos é a necessidade de se incluir na sociedade.


Natália Oliveira

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