Um dia de Amélie Poulain.


Ahhh!! (suspiros). Hoje tive vontade de pintar o mundo inteiro com cores que sob a luz fizessem com que nossos olhos vissem uma fotografia linda. Senti vontade de escrever nos muros frases que fizessem as pessoas se sentirem bem. Frases de alegria, de tristeza, de melancolia, de amor de todos os sentimentos que existem no mundo. Hoje desmembrei um wafer e o comi em camadas. Tive vontade de colocar vários morangos no dedo e comer. Desejei abraçar uma árvore. Sorri para quem eu não conhecia. Tive medo de ficar sozinha. Comi um pouquinho de Toddy na falta do chocolate. Fiz bagunça com o pão. Esperei o doce de leite derreter na boca. Pisei em umas folhas secas só para ouvir aquele barulhinho gostoso de natureza. Sorri de graça.

Queria pintar meu quarto de vermelho vivo com branco, me sujar de tinta. Trocar todos os utensílios por apetrechos também vermelho e branco. Queria ser diretora de arte, por um dia, e combinar desde o meu quarto até o cantinho mais escondido da África. Ah!! Colorir o mundo com as bonitas cores de Almodóvar. Almofadar os bancos duros da rua com almofadas de veludo dignas de realeza. Distribuir amores alá Jonhy e June.

Hoje senti a incrível vontade transformar a vida em um fabuloso destino de cada um. Ser Amélie por um dia e encaixar a vida de todas as pessoas. Descobrir alguma simplicidade que as faça feliz. Me intrigar com uma foto e andar de bicicleta na garupa de uma paixão. Ter em mim a arte de transformar tudo em uma arte. Construir assim um mundo repleto de delicadeza e sensibilidade. Queria ser a Amélie, só por hoje.

O Muro

A vida está ali me esperando no meio de uma rua. E eu estou aqui a esperando do outro lado do muro. Estou no lado do portal dos sonhos. O pouco que restou de uns romances quase reais e intensos dedicados a quem senti a mesma dor no mesmo amor. A vida está na rua sem saída. Ela vem galopeando dar um golpe silencioso que causa imensa aflição. Aflição essa que se encontra com um inesperado possível, mas impossível no portal dos sonhos. De repente, me vejo do outro lado do muro. Avassaladoramente e ansiosamente me parece que o mundo vai acabar a cada segundo. Intensamente e insanamente desproporcional a sensibilidade surreal do portal dos sonhos em que nasci e vivi. A delicadeza se encontra com o medo, ela insiste em correr dele, mas ele é mais ágil. Aos poucos o portal dos sonhos parece ir se fechando, eu quero voltar. Corro, Corro aflitamente e desesperadamente. A vida me arrasta para o lado contrário. Quase me entrego. Miudamente encontro refúgio na sensibilidade que conheci durante um silêncio quase gritante, que ainda abriga em mim e sempre abrigará. Basta eu me lembrar disso para acarretar forças e lutar contra a rua sem saída. Fato, é que não sei viver na tal rua sem saída, cresci do outro lado do muro. O maior temor acontece, o sonho parece acabar. Me encontro, ou talvez me perco, agora no meio de uma rua sem saber de que lado estou e nem onde fica o muro. Estou apenas sentada esperando mais da vida do que me perguntando o que ela espera de mim. Agora eu sou uma triste, sentada na esquina da rua sem saída próxima ao portal dos sonhos.

A noite é uma expressão

Não sei vou esquecer aquela olhar do malabarista. Ele me olhou com um olhar nobre. Foi no meio da rua no momento em que atravessávamos. Ele não disse nenhuma palavra. Lembro-me que seus olhos me pareceram grandes por causa da maquiagem e me fizeram ver que existia um homem por detrás daquela fantasia. Se eu fosse pintora faria um quadro com essa imagem, o malabarista alto com os olhos grandes, uma bolinha equilibrada sobre a cabeça, o rosto pintado de branco, nariz vermelho, desenhos pelos olhos e nas bochechas e uma roupa colorida de seda. Ao fundo, tudo preto e muitas luzes. Já era noite.

À noite eu acho que a cidade é só uma imensidão de luzes que abafam os prédios, as casas, o comércio, as pessoas e tudo mais que existe. Nunca entendi porque não adaptamos nossos olhos a escuridão. Se estivéssemos nos acostumados desde criança com o escuro nossos olhos conseguiriam enxergá-lo, mas preferimos adaptar a escuridão aos nossos olhos. Na verdade eu gosto das luzes eu acho tudo mais bonito à noite.

A cidade dorme. A tranquilidade noturna me transporta para um outro universo, o universo dos sentidos. Eu reparo cada detalhe da cidade. O olhar do malabarista, os moradores de rua, a sujeira delas, os adesivos pelas paredes, cartazes, propagandas. O silêncio me permite reparar os detalhes que passam despercebidos durante o dia. Caminhos que passo todos os dias, mas que a luz do sol as pessoas, o trânsito, o barulho a agitação e a presa contagiante não me permitem enxergar nada. Sigo automaticamente.

Ao anoitecer, tudo se transformar, minha mente trasborda sentimentos em forma de pensamentos, sinto vontade de escrever de transportar meu eu interior para o papel, transpor todos os sentidos que a agitação do dia abafou. Ela é um sossego para minha alma. A noite é assim, uma expressão.

Miudezas de uma Amizade


“Ter a fé no companheiro e ser camarada juntos na estrada. De tanto me ajudar naquilo que eu nunca fui melhor, tantas vezes desatou o nó.” Trecho da música “Ode fidelidade ao amigo”. Banda Ora! José.



Lembro-me de quando eu tinha um tanto de palavras para descrever. Era fácil falar de qualidades e defeitos. Depois de um ano e meio eu já não sei mais descrever nada. Qualidades e defeitos se transformaram em uma terceira coisa: a cumplicidade.

Quando a gente conhece alguém não imagina o quanto e nem como ela vai fazer parte da sua vida. Eu ainda lembro de quando te conheci e não dei muita importância. Pouco a pouco a vida e a Joana foram juntando a gente. Fui descobrindo uma pessoa doce e que dá valor a pequenas coisas da vida.

Meio sozinha, no meu “mundinho” e meio perdida, fui encontrando abrigo em uma amizade. Era quase a metade que me faltava. O nosso incomum gritava. A felicidade, os medos, os desesperos, surgiam e traziam junto um: com quem dividir.

Era 6 de abril de 1989 e nasciam muitas crianças. No mesmo ano dois dias depois 8 de abril e mais crianças. Duas delas se encontrariam pelos caminhos da vida e descobririam uma amizade quase repentina e duradoura.

Faz tempo essa amizade já não pode ser descrita. Há tempos ela se tornou algo incorporado a nossa vida. Ela é completamente subjetiva. Perdemos a sensibilidade de perceber certos detalhes, em compensação os sentimos. Você deve se lembrar do dia em que te perguntei se eu podia fazer dupla com você. Soou como uma piada. Porque há muito tempo eu já não penso em quem será minha dupla está pré- estabelecido.

Bom, menina você ainda vai ganhar o mundo com esse seu jeitinho que alegra a todos e seu cuidado para tratar as pessoas, sua perseverança, força e paciência. Eu sempre te digo isso: a coisa mais admirável em uma pessoa é ela ter um bom coração. E você tem um bom coração. É sensível, e uma delicadeza em pessoa. Você é meu socorro no dia de tempestades fortes e minha dança nos dias de brilho solar.

Ter um amigo e saber que pode ser a pior merda do mundo, mas que se vocês estiverem juntos vão transformar aquilo em alguma piada. Ter um amigo é saber que você vai poder ter 110 anos por um dia e ficar reclamando de tudo. É saber que quando você fizer uma tempestade em um pires ele vai fazer uma cara de preocupado, concordar com a cabeça, tentar te mostrar que não é tão ruim assim só pra te acalmar, mas por dentro vai estar rindo da sua tolice. Nós duas sabemos bem disso tudo.

Hoje 6 de abril de 2009 faz 20 anos que o mundo ganhou uma peça rara e alguém extramente especial. Nesse dia tive vontade de escrever sobre nossa amizade. É uma demonstração de amor, carinho e afeto que tenho por você. Espero que goste do que escrevi aqui. Foi com muito esmero. Esse texto não cabe nossa amizade e nem meus sentimentos, mas é um presente para essa data tão especial.


Esse é um presente de aniversário para minha amiga-irmã Jéssica.




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