Os monstros e as pessoas.


O que sempre olho em uma pessoa ao conhecê-la é o seu coração. Sempre gostei de pessoas sensíveis. Sinto nelas um espírito de criança. Nunca soube lidar com pessoas de mau coração. Não, eu não sei lidar com elas. Quando as convenções sociais me obrigam a lidar com essas pessoas, vejo o quanto sou menina. Aquela mesma menina que na infância tinha medo de bicho papão e de fantasmas. Sim, na infância nossos medos são de monstros. Quando "cresci" descobri um medo maior: o medo das pessoas. Na infância os adultos são nossos super-heróis e nos perguntamos o que queremos ser quando crescer.

Quando "cresci" descobri que não quero ser humana. Hoje no escuro eu tenho medo das pessoas. Reflito o quanto isso é contraditório, sinto medo da minha própria espécie. Sinto falta de um tempo em que eu via o mundo lá de baixo. Meus olhinhos pequenininhos e meio assustados fotografavam o mundo de contra-plongé. Eu tinha um abajur no meu quarto pra fazer uma meia luz, caso o lobo mal aparecesse. Sinto vontade de ser a menina que corria para trás das penas da minha mãe chorando quando alguém brigava comigo. Hoje não são mais as brigas, mas sim as magoas. Hoje o abajur são meus amigos sinceros.

Às vezes essa vida de gente grande não tem a menor graça. Com meus olhos de menina, assim como o Nelson Rodrigues, ainda vejo o mundo pelo buraco da fechadura. Me apaixono pelas pessoas de bom coração. Me apaixono por delicadezas miúdas dessas pessoas. Ah! Me apaixono. Me tornei uma adulta que ainda mantêm vivos sentidos da infância.O mesmo apego que tinha pelos brinquedos, hoje tenho com as pessoas. Vivo me apaixonando e me desapaixonando a cada instante. Acho que sou uma apaixonada constante ou inconstante. Nesses meus medos de menina, as pessoas de mau coração são meus bichos papões eternos e as de bom coração, e que me provocam interesse, os meus amores incuráveis.

2 comentários:

João Killer disse...

Muito bom. É verdade quando crescemos os nossos medos do escuro é por saber que pode ter alguém de verdade e nem lembramos do bicho papão. Mas nunca vi uma pessoa que mesmo vendo o mundo como você vê, ainda é capaz de amar tanto. Belo texto.

Anônimo disse...

É difícil ter de conviver com pessoas más, mas essas são tantas que é impossível não estar perto delas. As vezes estar em casa ao lado dos meus livros e minha família é mais do que uma vontade constante, é uma necessidade.

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