A bicicleta


As vezes queremos tanto alguma coisa que ficamos cegos com o resto do mundo. Quando não conseguimos o que almejamos, sentimos uma decepção enorme. Sabe aquele papo de que se você lutar você consegue? Acho que é isso que mais nos frusta. Ficamos pensando que não lutamos o suficiente. Mas não vejo isso bem assim. Porque tem coisas na vida que mesmo se lutarmos muito não vamos conseguir.
Quando penso nisso, lembro-me de um episódio da minha infância. Fui com a escola para uma Transitolândia(acho que era esse nome), chegando lá tinham várias bicicletas e uma pista de carros com sinal de trânsito, placas de pare, faixa de pedestres, etc. Eu, que sempre tive essa estatura nada avantajada, não "dava pé" nas bicicletas. Mas adorava andar de bicicleta, por isso quis subir nela mesmo assim. Lembro que a professora me aconselhou a não subir, mas eu cismei que queria andar nela. Então subi, e como não alcaçava o banco tive que sentar no quadro. No começo estava tudo bem, até que veio um morro e eu resolvi enfretar o desafio de descê-lo. No meio da descida perdi o pedal, e fui vendo céu e chão em alguns instantes. Era como estar bebada e tudo girar rapidamente. Meus braços e minhas pernas começaram a doer. Sangrou bastante, as professoras correram para me socorrer, mas criança acostumada a cair, eu nem chorei, na verdade nem liguei, só fiquei triste porque não podia andar na tal bicicleta de novo.
Recorro a esse episódio para pensar que muitas vezes não somos "grandes" o suficiente para subir em algumas bicicletas. Se fosse hoje eu alcançaria o pedal tranquilamente, mas na época aquela bicicleta não era para mim eu precisava crescer mais. Precisava andar primeiro em bicicletas menores que se adequavam a meu tamanho para depois subir em uma grande. Por maior que fosse minha vontade de pedalar a "magrela" eu não ia conseguir, pois ela era muito grande para mim.
Hoje minha vida, muitas vezes precoce para mim, me coloca diante de uma bicicleta que meus pés não alcançam. E quando não consigo pedala-la me decepciono. Mas depois reflito que eu preciso amadurecer mais, que talvez aquela bicicleta não seja para mim naquele momento. Preciso crecer e amadurecer e se eu tentar e cair. Não importa que sangre, devo me levantar, porque cresci acustumada a cair. Essa história da bicicleta é uma calma para meu coração.

4 comentários:

João Killer disse...

Belíssimo texto. Nunca havia lido uma narração de queda tão real. Em relação à frase, "Mas depois reflito que eu preciso amadurecer mais, que talvez aquela bicicleta não seja para mim naquele momento. " Não reflita por esse lado, pense que você faz o momento, assim como fez quando era mais nova. Sei o que sente, pois me sinto assim na maioria das vezes, mas como você mesmo relatou, encaro aos trancos e barrancos da vida. Bom te ler.

m disse...

Engracado é que sempre tenho pensado assim, tanto que me sinto mais novo do que sou, não alcanço muitas bicicletas e sou fisico e ironicamente alto.
A diferença com a metafora é que não temos limites para crescer, é só lutar e esperar, sempre podemos crescer e subir em bicicletas maiores se percebermos que são maiores, é uma linda ótica da vida, simples e suave, como seus textos. Bom te ler.

Hélio Monteiro disse...

Lindo, lindo estilo sorria que enxe meu coracao de alegria! Neste caso de motivacao...

Débora Gomes disse...

...essa história da bicicleta se encaixou tanto no meu dia!
e sim: é também uma calma para o meu coração...
lindo!

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