O dia que as árvores dançaram para mim.

"será que, às vezes, a gente vai com tanta pressa ao encontro de alguém que esquece de se levar junto? Será que o Sol, quando é muito forte, faz a sombra chegar primeiro do que a gente?" Rita Apoena.

Hoje, voltei assistindo, pela janela do ônibus, uma apresentação das árvores. Elas dançavam, ainda que não houvesse música. O asfalto molhado pela chuva e uma meia luz amarelada do poste compunham o cenário(Luz, que um dia foi branca, se é que alguém se lembra). Foi uma avenida inteira assim. Em fila indiana eu ia vendo a sombra das árvores dançarem no chão reluzente. As maiores, eu quase podia tocar, as menores, eu via melhor os detalhes. Hoje, meu filme me pareceu meio preto e branco. Mas confesso que as árvores estavam lindas e eu torci para que amanhã eles não ganhassem suas cores. Saindo do filme e caminhando para casa eu vi minha sombra passar primeiro pelo portão, corri afobada e até tentei dar a mão para ela, queria que entrassemos juntas, mas ela não quis papo. Eu sai e fui desabafar com a árvore me camuflei na sombra dela, para que minha própria sombra não me encontrasse, e contei para ela a minha vontade de me unir a minha sombra. A árvore não me disse nada, apenas ficou lá me olhando. Ela já tem seus problemas e não devia estar afim de ouvir os meus. Para mudar de assunto contei para ela sobre a apresentação de suas colegas mais cedo e disse que tinha certeza que nenhum jornal publicaria essa notícia. "Ontem as árvores da avenida ... dançaram para o público às 23 horas, a entrada foi franca..." A árvore concordou com a cabeça e eu entrei em casa sem reparar se minha sombra passou na minha frente.



Roubando Tulipas



Um losango ou um quadrado? Clarisse ficou esperando passar o filme da sua vida em preto e branco na sua cabeça, como ela via nos filmes, mas não aconteceu. Talvez porque ela estivesse ocupada demais com a imagem do carro que muito lhe parecia um losango ao invés de um quadrado. Estava tudo meio desfocado, ela se sentia bebada, como se tivesse tomado 5 doses de tekila, mas ela não tinha bebido nada. De repente, sentiu algumas gotas de sangue escorrerem sob seu rosto e cairem na grama. A menina sorriu ao ver a cena, sempre gostou da combinação verde-vermelho. Foi olhando para a grama que Clarisse percebeu a situação mais inusitada, ela estava de cabeça para baixo. Por instantes, a menina pensou em como seria se tudo fosse de cabeça para baixo. Concluiu que se vivessemos "ao contrário" pisariamos nas estrelas e na lua e sonhariamos em roubar em uma flor do chão. Num breve momento de lucidez, Clarisse começou a olhar a situação como um todo e não só as partes que ela tinha visto. Foi então que percebeu que estava completamente presa e a única coisa livre era os seus cabelos. No meio do nada Clarisse se sentiu mais sozinha do que nunca. Sabia que não adiantava gritar e que nada resolveria. Dependurada do lado de fora do carro e olhando pelo vidro da frente continuou encucada sem saber se seu carro tinha um formato quadrado ou losangular. Começou a forçar sua mente para ver o filme de sua vida, ficou esperando ver a luz no fim do tunel, porém só lhe restou a trilha sonora, uma sirine. Lhe pareceu que alguém ia aumentando o volume lentamente. E suas forças iam em sentido contrário, acabando rapidamente, Clarisse foi fechando os olhos e se entregando aos poucos. No auge de seu delirio ela estava pisando nas estrelas e na lua, ao mesmo tempo se perguntava olhando para o chão: "Como eu vou fazer para roubar aquelas tulipas?"

Manchete do dia: "Jovem sofre acidente na BR 381 e passa bem."

Ps: Não eu não queria mesmo matá-la. rsrs



Tudo que eu não fiz.

É um quebra cabeça com algumas peças no lugar errado e algumas eu perdi. Por mais que eu tente montar não vai formar imagem alguma. Faltam algumas peças, muitas. Sinto essa falta, sinto falta de tudo o que não fiz, de tudo que não tenho feito e de tudo o que não vou fazer. Falta da minha mãe, de amor e de extravassar toda essa minha intensidade em algo que seja recíproco.

Em mais uma conversa-viagem com a Jéssica ela me disse:
"o pior é que sua mente é muito solta e sua imaginação mto potente..
aí vc fica imaginando algo que as vezes nem é real...
q num é verdade...
que só aconteceria no fantástico mundo de natália...
por isso que acho que vc se parece comigo!
o amor é complexo - a natália é complexa - a história é complexa - entender tudo isso é complexo!!
Não há explicações e nem soluções."

Ela tem razão, não há. E agora? Coloco uma música deprê ou alegre? Alegre.

Clarisse e o roubo da estrela


Clarisse cismou que queria tocar a lua, nem que fosse por alguns instantes. Todos tentaram adverti-la que aquilo era impossível, mas a menina cismou com a ideia. E como se não bastasse ela queria também roubar uma estrela, mas só uma. Sentada em uma pedra, a menina ficou pensando quantos degraus seriam necessários para chegar até o céu. Logo, lembrou-se do seu medo de altura suas pernas começaram a tremer e suas mãos minaram água. Clarisse já não sabia o que fazer, e seguiu para casa chateada. No caminho se olhou em um espelho. Viu refletida ali uma menina triste, desconsolada e angustiada. De repente, teve uma ideia. Correu até a sua casa e pegou um balde, era tudo o que ela precisava. Passos rápidos, tropeçando em tudo, a menina chegou até a beira da lagoa e viu a lua na água, quase não acreditou, seu sonho estava se realizando. Clarisse a tocou e até a bagunçou um pouco. Sorridente como nunca. Não satisfeita, ela pegou o balde e catou a estrela da água, na mesma hora saiu correndo e gritando que havia pegando uma estrela, acordou toda a vizinhança. Os vizinhos ficaram incrédulos com aquela situação, mesmo assim, todos pegaram um balde e sairam correndo para a lagoa. Chegando lá , foi uma briga para tocar a lua e uma robalheira de estrelas. Clarisse foi idolatrada no vilarejo e já faz 50 anos que essa história é contada de geração em geração.

Clarisse e o Dente de Leão.


Clarisse saiu atrasada de casa e seguiu para mais um dia de trabalho. No caminho seus pés se dividiam entre a urbanização e a natureza. Na calçada, metade cimentada e metade não, algo inusitado chamou a atenção da menina. Era uma dessas florzinhas brancas que na infância Clarisse gostava de soprar e ver voar seus "algoodõezinhos", ainda gosta. Ela sabia que o nome da flor era Dente de Leão, mas preferiu chama-la de sobrevivente, pois era a única em meio a um monte de grama. Clarisse ficou impressionada com a cena. Seu olhar atento se intrigava com aquela situação, pois a flor era praticamente uma intrusa em meio aquele verde. Com um espirito ainda infantil a menina pensa em se aproximar e soprar a florzinha. Com uma insegurança estranha chega bem pertinho do Dente de Leão e um forte vento espalha os "algoodõezinhos" brancos por toda parte. Clarisse fica assustada e encantada com aquele acontecimento. De repente, todo aquele verde se contaminou com o branco da flor que mesmo sozinha mostrou a grama que podia deixar um pouco de sua individualidade ali. Uma cena tão simples fez com que a garota pensasse em toda a complexidade de sua vida. Logo, lembrou-se de uma ex-professora, a menina sempre admirou essa profissão, e pensou nela como a florzinha que se mostrava sempre sozinha tentando deixar um pouco de si em todo verde. Essa foi uma das coisas mais preciosas que Clarisse aprendeu com ela, a menina, que se sentia uma intrusa no mundo, as vezes não entendia porque tudo era tão verde e ela tinha uma pontinha branca. Porém aprendeu que com um pouco de vento podia deixar um pouco de si na grama. A grama jamais seria um Dente de leão, mas poderia sentir um pouco daqueles sensíveis e macios "algoodõezinhos." Clarisse pensou naquilo o dia todo e antes de dormir, desligou seu abajour e ficou pensando em um jeito de plantar flores em meio a grama ou pelo menos de deixar algumas pétolas colorirem aquele verde dominante.


A cidade do amor


-Moço eu vou levar esse relógio.
-Tá ok, são dois abraços e três beijos você pode pagar para aquelas crianças ali.
-Obrigada!! Até mais.

Na cidade do amor dinheiro não existe. Nela você pode comprar o que quiser e deve pagar em afetividades. Quanto mais caro for o que você deseja mais amor deve dar. Quem mora por lá, não conhece algumas palavras como cobiça, ganância, briga e etc. As palavras ricos e pobres também não existem e todos vivem em uma singela harmonia. Lá, não é estranho abraçar e beijar um desconhecido, na verdade isso é o mais comum. Não existe profissão fixa, um dia você é entregador de pizza e no outro é diretor de uma grande empresa. Todos são um pouco palhaços e um pouco coveiros, um pouco músicos e um pouco administradores estressados. Não pense que lá não existe mendigo, porque existe sim, essa é uma das profisssões. Eles vagam pelas ruas medigando carinho e até conseguem bastante. A profissão mais almejada é a de trocador. O motivo para tal fama? Dizem que é porque ele ganha aproxidamente 2000 abraços por dia em pagamento da passagem. Na cidade do amor não existe tédio, pois você não sabe a profissão que irá exercer no próximo dia e será tudo novo. Os moradores também trocam de casas todos os dias e por isso acabam conhecendo cada cantinho da cidade, que não é muito grande. Na cidade do amor é proibido proibir. Os casais são um pouco mais apaixonados que os das cidades normais. Dizem que essa pequena cidade está mais perto do céu, poque nela há mais estrelas que nas cidades normais. A "noitinha" vários casais sentam na beira da lagoa e ficam olhando as estrelas e a lua refletidas na água. Já fiz minhas malas e pretendo me mudar semana que vem para a cidade do amor, se você sentir saudades pode me mandar uma correspodência, eu prometo responder.

Timidez


Não era mais um fim de semana solitário, pelo contrário, eu estava rodeada de amigos. A maioria deles eram casais. Eu estava um pouco perdida ali. Como sempre calada e no meu canto. Olho para um lado e para o outro, penso em puxar assunto com alguém. Falo com quem eu não conheço? Procuro fazer novas amizades? Não, é melhor não. Tá legal, então eu vou puxar assunto com alguém que eu conheço mesmo. Mas o que eu vou dizer? Já sei, vou perguntar por alguém que não está aqui. Pergunto, só que esse é o tipo do assunto que acaba rápido. Rapidamente contabilizo 7 casais e eu lá fazendo companhia para o saleiro. Mexo as pernas para um lado para o outro, bato os dedos na mesa. Não sei o que fazer, não sei se quero dizer algo ou se tenho algo a dizer. As pessoas puxam assuntos comigo, mas eles não rendem muito. São apenas coisas casuais, talvez para eu não ficar tão deslocada. A noite vai acabar e eu vou ficar ali, protagonizando sorrisos e ouvindo de fundo as conversas dos casais, brigas, troca de carinhos e tudo mais. Agora vou embora, um abraço e um beijo em todos e sigo silenciosamente pensando: - Que será que as pessoas pensam de mim? Eu penso que não é fácil ser tímida e introvertida. Mais uma vez tive medo de invadir o espaço do outro.
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