Café da esquina com pudim



- Oi
- Oi
- Te trouxe um pudim.
- Obrigada. É de que?
- Caramelo.
- Tem gosto de infância.
- Você quer um café?
- Café não combina com pudim.
- O que combina com pudim então?
- Suspiros.
- Suspiros?
- É.
- Quando o pudim acabar você vai para onde?
- Para casa. E você vai para onde?
- Não estou comendo pudim.
- Você pode me trazer suspiros no próximo encontro?
- Talvez, faz tempo que não vejo suspiros, então não sei se vou encontra-los.
- Tudo bem.
- Pode ser morango?
- Tem que ser suspiros, faça um esforço.
- E você vai comer suspiros com o que?
- Com seu chocolate meio amargo.
- A chuva passou, vou embora.
- Nos encontramos denovo na próxima chuva?
- Sim.
- Adeus.
- Adeus.

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Porque estamos nos escondendo?

(É que se eu contar para alguém e isso acabar eu vou estar perdendo alguma coisa, mas se eu não contar, posso fingir que nada aconteceu e continuar minha vida normalmente. Mais uma vez Clarisse tinha se apaixonado e no começo tudo era ótimo, até o dia em que a menina percebia que aquela relação não poderia ser levada adiante e ali ela terminava tudo. Ela se apaixona e desapaixona com a mesma intensidade. De repente ela não quer mais e simplesmente some. Nas noites sozinhas Clarisse se sente completamente estranha, acha que não é como todas as pessoas e que nunca vai conseguir gostar de alguém de verdade. A moça sabe que para agir com o coração deve fazer a coisa errada e ela o faz nos momentos de paixão, mas depois volta a agir com a razão. Ela pode parecer um pouco fria, porém contradizendo isso tudo ela é doce, meiga, sensivel, só não é tão boba quanto parece. Talvez por isso ela se sinta tão estranha e diferente. Talvez por isso ela esconda seus romances, quando os tem. Ela decidiu voltar aos velhos hábitos de esconder suas paixões assim esconde dela mesma seu estranhismo. Contar as pessoas exige explicações, elas querem soluções, respostas e o pior de tudo querem entender. E Clarisse não está muito afim de explicar).

É porque sou tímida.

Primavera



Então chegou a primavera. Não sei ao certo se os jardins estão prontos para recebê-la,também não sei bem se os animais estão se reproduzindo. O sol parece ter tirado umas férias, foi aproveitar a primavera em outro lugar. As nuvens tem andado meio tristes e suas lágrimas andam fazendo alguns estragos aqui pelo chão. Eu li que o mês de setembro é mês de desastres, pode ter acontecido algum desentendimento entre as nuvens e o sol e talvez por isso ele tenha ido embora , refrescar as idéias, e as nuvens ficaram chorando. A noite a lua deve consola-las, talvez elas fiquem mais sensíveis e por isso choram mais.
Assistindo o tempo pela janela fico vendo a primavera meio perdida nisso tudo. Parece que ela se perdeu nos vagões e desceu na estação errada. Eu estava apenas sentada vendo as cenas mal montadas. É que ao mesmo tempo que não quero ver as nuvens tristes, no fundo eu bem que gosto de ver as lágriamas delas cairem. Mas tô pensando em acordar mais cedo amanhã, vou buscar umas madeira e uns pregos, construir uma escada bem grande e ir lá em cima conversar com as nuvens e com a lua para saber o que está acontecendo. Vou tentar consertar o caos para a primavera se reencontrar. Mas amanhã, ou talvez um outro dia.

Acabou que as cores dela me inspirou a escrever sobre primavera também.

Ilustração: Mariana Mauro

O dia em que Clarisse encontrou Clarice

Clarisse sempre ouviu falar de Clarice, desde a infância. Mas nunca se interessou por ela. De uma coisa a menina não podia fugir: o nome igual o de Clarice com a diferença apenas dos dois s. Clarisse, na sua juventude, ouvia sempre alguem dizer: "- é Clarisse igual a Clarice Lispector?" Não, não era isso, ela só queria ter seu nome em paz. Contudo sua birra pela autora ia se transformando em uma curiosidade de conhecê-la. Certo dia, a jovem foi a biblioteca de companhia para uma amiga. Chegando lá as duas encontram Clarice e Luis, a amiga da menina já conhecia Luis e foi logo falar com ele. Nesse momento, Clarisse ficou sozinha com Clarice. As duas começaram a conversar. A primeira coisa que a autora lhe disse foi: "Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida". Como não se encantar por uma coisa dessas? Os olhos de Clarisse brilharam ela ficou atordoada e fascinada com aquela frase. A menina disse sim a aquela amizade. Quis conversar e conhecer cada vez mais Clarice. As duas sentaram-se para ver A Hora da Estrela. Clarisse já estava encantada com a simplicidade de sua xará que foi logo lhe dizendo: "Que ninguém se engane, só consegui a simplicidade através de muito trabalho." Clarisse passou noites e noites batendo papo com Clarice e agora ela sente-se como se tivesse conhecido metade de uma parte da autora. A menina voltou a sonhar, voltou a ter os velhos encantamentos, agora dorme tranquila e aliviada. Clarisse espera conhecer mais de Clarice e agora sonha em ser ela "quando crescer". Tão doce, sonhadora e lúcida quanto.

Vítima da Imaginação

"Dicionário dos Sonhos.

impotência
Na vida: problemas. No amor: rejeição.

Sonhar que sofre de impotência significa enorme felicidade nos seus amores.

Você está sendo vítima de sua própria imaginação."

A menina dos balões anda se desencontrando da sua própria vida. As coisas parecem estar as avessas. Os balões parecem puxa-la para baixo ao invés de para cima. Ela anda pescando algumas coisas do mundo. Esses dias assistiu um filme em que o personagem dizia uma coisa, mas sua mente dizia outra. Era uma vida dupla , um "Barulho na cabeça". De relance, viu na TV que se você vai agir com o coração deve fazer a coisa errada. Leu em um primeiro paragráfo de um livro da Clarice Lispector que dizia que tudo no mundo começou com um sim. Um sim começaria muita coisa para ela.
Nesses dias a menina dos balões anda com vários barulhos na cabeça e tem se sentido muito impotente diante de diversas situações. Por falar nisso, ela encontrou o dicionário dos sonhos e ele lhe alegou uma coisa importante: ela está sendo vítima de sua própria imaginação. O dicionário dos sonhos se encaixou direitinho, mas ela vai fecha-lo e abrir o dicionário da realidade.
A menina espera agora novos ventos que a joguem para cima, que faça os balões subirem, mesmo com o medo que tem de altura. Ela aceita o desafio para poder tocar as estrelas.

Não tem título mesmo, nunca tem.

Aqueles cachinhos não combinavam muito com o terno. Eu já o tinha visto algumas vezes. Um oi aqui, um tchau acolá, mas nunca haviamos conversado. De repente, ele senta na mesa se vira para mim e a primeira coisa que diz é: - "Eu li seu blog". Nessa hora todos da mesa se calam e olham para mim. Já completamente desconcertada pergunto espantada: - Meu blog? E ele responde: "- Sim, seu blog, que por sinal eu gostei muito." Meio sem saber o que dizer, agradeçi, sem jeito.
A primeira imprensão que tive dele não foi lá essas coisas. No dia que nós conhecemos o alcool tinha roubado ele. E eu só enxerguei um moço frio, louco e que não liga pra mais nada além do seu umbigo. Como sempre minhas primeiras imprensões estavam erradas. Quando ele falou do blog, foi impossivel não reaver meus conceitos. Todos que estavam na mesa eram meus amigos, mas ninguém sequer sabia da existência do meu blog.
Quando começamos a conversar eu fui vendo um outro moço, descobri que a tal loucura era mais intensidade e que provavelmente ele olhasse muito mais o mundo ao seu redor do que eu imaginava. Seus olhos saem fotografando detalhes da vida, pequenas simplicidades. As vezes suas percepções me assustam, me encantam e até me fazem rir. Como no dia em que ele disse que apesar de ser timida eu tenho 444 amigos no orkut.
Do mesmo jeito que ele seguia meu blog eu comecei a seguir o dele e ele começou a postar mais. Ele diz que meu blog foi um incentivo para o dele e eu me senti imensamente feliz. Ele diz gostar do que eu escrevo, pois eu o aviso que gosto do que você escreve. É engraçado ver como alguém pode ser tão igual e tão diferente de você ao mesmo tempo. Somos dois contadores de história. Ele um pouco aflito e eu calma demais. Ele sai querendo viver tudo e eu por vezes não vivo nada. Por mim teriamos 12 horas de sono, mas ele acha que 8 é suficiente.
Agora ele vai contar carneirinhos até o sol nascer. E eu deixo aqui esse texto em retribuição ao texto de Lorenzo, um leitor surpresa assíduo. Ele não tem título porque sempre me provoca risos a falta de títulos nos posts dele. Tá ai, espero que você goste do jeito que contei esssa história. Que daqui a 10 anos eu e você escrevamos novos posts relembrando esses. Que eu possa rir e me encantar muito com suas hitórias. Dedicado a um amigo.

Clarisse e o cinema


Clarisse foi sozinha ao cinema. Essa não era sua vontade, mas a falta de companhia fez com que ela tomasse essa decisão. Não que ela se importe, pois sempre foi sozinha ao cinema. Esse é o único lugar que ela se sente bem sem companhia. Para variar, ela saiu de casa atrasada e pegou o ônibus. Sempre que utiliza o ônibus ela coloca o fone de ouvido, porque não gosta de ouvir conversas alheias. Mas nesse dia ela quis fazer parte daquele ambiente, talvez para recompensar o tempo que ficaria sozinha. Clarisse sentou nos últimos bancos do veículo, ela sentou-se bem no meio. Do seu lado direito um rapaz tomava cerveja e do lado esquerdo uma moça equilibrava um caneca na mão, no banco da frente uma senhora e duas crianças comiam chocolates. Clarisse lembrou-se do dia anterior que ela também pegou o ônibus e foi sem o fone. Ela ouviu uma moça dizer: "Já está tarde motorista não é hora para gentileza." Naquele momento a menina sentiu um incomôdo gigantesco. Sentiu vontade de virar para trás e avisar a moça que sempre é hora para gentiliza. Ta ai, tem três coisas que Clarisse muito preza: gentileza, educação e respeito.
A menina chegou ao cinema e pediu seu bilhete, a moça da bilheteria perguntou: "- Tem mais alguém com você?" Nessa hora Clarisse sentiu-se um pouco mal, sensação estranha. Era estranho ser sozinha ali. Na fila, ela ia vendo os solitários encontrarem seus pares. A sala que ela assistiria o filme estava repleta de casais. Mas bastou começar o filme para que a menina esquecesse o universo ao seu redor. As imagens na telona deixaram Clarisse atordoada, os personagens conversavam consigo mesmo e tinham relações amorosas turbulentas. Ao mesmo tempo a menina sorriu diversas vezes se vendo e achando cômicas aquelas situações. Ao sair do cinema encontrou Pedro e Marta, discutiram os filmes e jogaram conversa fora. Clarisse ficou feliz, talvez não tivesse outra oportunidade de se encontrar com essas pessoas e de bater um bom papo se tivesse planejado isso. Essa foi uma das raras vezes que sua solidão em publico a deixou feliz.

eu quase fui ao Festival Garimpo

são dias em que você não arruma companhia para sair. parece chover, não ter ônibus e o mundo todo está contra você. são em dias assim que você se sente o ser mais sozinho do mundo, parece que lhe falta amigos. não é a primeira vez que isso acontece e não será a última. são dias em que você se arruma o dia inteiro na expectativa de sair e acaba sozinha em casa, de frente para o pc. são os dias mais frustrantes. são dias em que você sente raiva de toda a violência do mundo e que por causa dela, você desanima de sair sozinha. são dias em que você questiona porque as ruas são tão perigosas. nesses dias tudo se torna questionável, até sua pobreza por não ter um carro. são dias como hoje, são dias em que eu quase fui ao Garimpo. quase não é nda, eu quase tive companhia, eu quase tive um dia legal. mas eu fiquei no quase, eu tenho ficado no quase. a única certeza que tem me restado é a solidão. e desses quases eu não quero mais nada. não quero mais que quase aconteça. essa tem sido minha palavra dos últimos dias...quase. agora só resta esperar por dias melhores, amigos novos e mais animados ou que os velhos se animem também. são dias em que a falta de vontade toma conta e você escreve um texto sobre e você e ainda não tem ânimo de colocar letras maiusculas. são dias assim, são dias como hoje.

Eu - rvilha


Eu queria morar dentro de uma ervilha. Seria tudo tão verde e pequeno. Tão simples. Sempre gostei das ervilhas, sempre as achei simpáticas, delicadas e pequenas. Eu nunca soube com que elas combinavam e sempre as comi junto com tudo e o pior é que nunca senti gosto de nada. Mas não é pelo gosto ou pela beleza exterior, até porque elas são redondas e verdes. Eu gosto mesmo e de sua maciez interna, sua leveza. Não acho que muitas pessoas reparem as pobres ervilhas, eu sempre acho que elas passam desapercebidas no supermercado.
Se eu morasse dentro de uma delas também passaria desapercebida. Eu não teria nada e nem ninguém, só eu mesma. Isso relembraria os nove meses que passei no útero da minha mãe, a solidão e a posição de feto que eu ficaria. Lá vou eu para mais uma mudança, só que desta vez sem cerquinha branca e sem mochila nas costas.

Adeus Amigos leitores, vou-me embora morar uns dias na ervilha joaquina.


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