A morte não tem jeito

É, esse tapa na cara doeu mais e fez doer todos os outros. A vida vem me dando as costas e algumas vezes eu dei um tapa na bunda dela, mas dessa vez não dá. Só uma coisa num tem jeito nessa vida, a morte. Hoje foi um dia de pequenas alegrias, sorrisos, amigos, planos e expectativas de um show legal, mas a vida, ou talvez a morte, me roubou tudo isso em um segundo. Um tapa na cara de realidade, coisa que, por vezes, eu não sei lidar. Eu me engano para disfarçar a dor, mas a morte deixa marcar muito intensas, lembranças, saudades e nenhum sonho, nenhuma esperança, é só dor.
A sensação de impotência é gigantesca e a solidão também. Não sei, mas hoje eu acordei e vi o mundo de sonhos que eu estava me doeu um pouco, é hora de encarar a realidade e ter forças. Mas já não sei de onde tira-las eu já gastei demais. A solidão hoje é intensa demais, nessas horas a gente sente que precisa de alguém e não é alguém para dizer nada, porque não tem o que dizer. Os amigos preenchem um espaço do vazio, sem eles não faria sentido. Mas nessas horas precisamos de alguém que seja mais, de alguém intenso. A solidão doi muito, as vezes eu preciso ser sozinha, mas as vezes eu realmente não preciso ser sozinha.
Eu vou sentir sua falta aqui comigo, vou sentir saudade de ver você velhinha andando para todo lado. Vou sentir saudade dos seus cuidados comigo, com meu irmão, meu pai e minha mãe, vou sentir falta da preocupação quase de avó com a gente, sua alegria e inteligência. Amanhã será o dia do adeus final, mas as lembranças estarão sempre comigo. A tristeza hoje é muita, mas dizem que a vida é um equilibrio, então ela só é muita, porque a alegria foi do tamanho do mundo.
Agora é hora de ser forte, de tentar superar, já não sei como fazer isso. Já me perdi de mim, sinto-me sem chão, mas sei que isso vai passar. Doses de alegria carregam junto doses de tristezas. A realidade é cruel, a vida pode ser o que a gente quiser.
Esse texto não é agradavel para nenhum leitor, mas eu precisa de uma autoterapia agora. A solidão me obrigou a isso. Espero começar a segunda - feira com sonhos e esperaças. Não precisa de ninguém dar nenhum conselho quanto a esse texto. Não a nada a se fazer, o tempo vai se encarregar.

O estupor de Clarisse

ESTUPOR

esse súbito não te ter
esse estúpido querer
que me faz duvidar
quando eu devia crer

esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir

esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir

(Paulo Leminski, La Vien Close, pág 14)


Então Clarisse abriu os olhos, fechou o livro e saiu correndo. Seus passos pareciam arrastados para frente pelo vento. Ela não queria ir, porque só se sentia segura no abismo em que estava lendo Leminski. Por outro lado, no abismo ela não via as flores que nasciam no jardim e nem as crianças que brincavam alegres no parque. No meio de tanta gente na escola nova Clarisse sentia-se atoardoada. Ela tinha tomado uma decisão nova em sua vida e mudanças assustam. Decidiu esquecer um sofrimento, porém esse esquecer gerou mais um sofrimento e ai ela teve que colocar na balança o que dói mais: sofrer se iludindo ou sofrer tentando esquecer o sofrimento? Não encontrou nenhuma resposta nem o google lhe valeu. Saindo da aula e andando pela calçada ela se maltratava com tantas perguntas. Todo esse tormento só tinha uma explicação, Clarisse tinha se apaixonado por um garoto da escola nova e nesses dias o coração anda desalinhado com a razão e não se sabe qual dos dois seguir. A menina achava que ia esbarrar com ele em cada esquina. No meio do caminho para casa o tempo fechou e caiu uma forte chuva, ela ficou sob um pedaço de teto no cantinho da rua, abriu a mochila e tirou uma sombrinha ficou pensando se saia ou não. Mas vale a pena sair na chuva, abrir a sombrinha e não se molhar? Para que ir até ela e se esconder?Ah! Clarisse você tem que entender paixões são assim mesmo, a gente fica besta. São como as chuvas logo passam e depois vem outra, mas aprenda uma coisa menina quando a chuva vier saia e pule em todas as poças d'agua e corra contra a corrente, porque aquela chuva não vai voltar. O tempo está fechado faz tempo e Clarisse tá em dúvida se espera a chuva vir em um lugar coberto, se sai andando com a sombrinha fechado sem medo de chover ou se pede a uns indios que façam a dança da chuva. Ela foi para casa o tempo continuou querendo chover, mas não choveu e agora ela vai dormir colocando a sombrinha em sua bolsa para amanhã.

Amor?

Amor

s.m. Afeição viva por alguém ou por alguma coisa.

Aimer


ai.mer
vt amar, gostar, prezar. aimer mieux preferir.

Há pouco tempo levantei a questão se o amor seria francês e se só os franceses sabem amar. Ainda não tenho resposta e nem terei, mas como diria o Hélio, não importa cor, raça, profissão ou altura, todos somos perseguidos por esse sentimento, desde a infância. Deixo claro aqui que falo de amor despertado pela paixão, desejo e não amizade, familia e etc. Infelizmente não existe nenhum manual do amor e também nenhum teste para saber quem você vai amar.

simulação: Teste do amor
Marque sua cor preferida
( ) bege
( ) verde
( ) azul
( X) Branco

Muito neutro pra mim, próximo.

Existem apenas as reações de cada um em relação a ele. O Hélio acha que o amor não existe e vai passar um bom tempo tentando me convencer disso. Tem a Sandim que faz do amor uma brincadeira e vai renovando ele o tempo todo.O Marcelo acha o amor foda, ele acabou de me dizer isso. O João arruma a maior uma confusão com o amor. Eu, Débora e Marcos achamos que o amor existe e ainda acreditamos em um "para sempre." Mas eu nem sei se já amei na vida, porque não dá para saber se um sentimento é amor, pode ser apenas paixão, desejo fisico, uma amizade forte ou até mesmo curiosidade. É, as vezes a curiosidade é tão grande que você acha que tá apaixonado ou amando. Vivo dizendo que acredito no amor, mas não faço idéia se já o senti, nunca escrevi uma carta de amor ridicula, mas já fui ridicula a ponto de escrever um texto para alguém só esqueci de avisar que era para ele. O engraçado é que me apaixono em um segundo, me apaixono por pessoas que vi uma vez na vida e vivo 5 minutos de encantamento, me apaixono por pessoas que convivo, me apaixono por quem não sei o nome idade e nem endereço e pelo musico que só existe para mim no palco. Acho que a sensibilidade me fez ir apaixonando o tempo todo e rio dessas pequenas paixões, é gostoso. Mas e o amor onde entra nessa história? Nos filmes o amor sempre dá certo e na vida real, será que existe mesmo amor? Como é quando se ama? O dicionário pode explicar isso? Existe um especialialista em amor para dizer se você tá amando ou não? Para ser amor tem que ser para sempre? Alguém já viu um manual do amor? Seria o amor uma flor roxa? E poque raios roxa?

Só tenho uma certeza: são cinco letras muito mais secretas do que o próprio segredo. Se um dia eu amar alguém, volto aqui para contar as reações.

Dois?

Foi uma descoberta sensacional, dessas coisas que parecem te fazer voltar a sonhar. Não consigo parar de ouvir de tão bonito e delicado. Agradeço ao João.


Dois
Composição: Tiê e Thiago Pethit

Como dois estranhos,
cada um na sua estrada,
nos deparamos, numa esquina, num lugar comum.
E aí?
Quais são seus planos?
Eu até que tenho vários.
Se me acompanhar, no caminho eu possso te contar.
E mesmo assim, eu queria te perguntar,
se você tem ai contigo alguma coisa pra me dar,
se tem espaço de sobra no seu coração.
Quer levar minha bagagem ou não?

E pelo visto, vou te inserir na minha paisagem
e você vai me ensinar as suas verdades
e se pensar, a gente já queria tudo isso desde o inicio.
De dia, vou me mostrar de longe.
De noite, você verá de perto.
O certo e o incerto, a gente vai saber.
E mesmo assim,
Queria te contar que eu tenho aqui comigo
alguma coisa pra te dar.
Tem espaço de sobra no meu coração.
Eu vou levar sua bagagem e o que mais estiver à mão.



Um instantizinho, por favor.


Cada fração de segundo da nossa vida é uma coisa nova e tem uma significação diferente. Se der para fragmentar tudo eu ia queria contar cada instantizinho. Cada letra que estou digitando é um pedaçinho de uma história de toda uma vida. Cada passo, olhar, gesto ou grunido escreve uma linha nova. A gente só percebe que cada pedaçinho é uma frase nova quando acontece algo grande demais, como um acidente ou algo assim. E as pessoas vão dizer: -a um minuto ele estava aqui e agora morreu e não está mais. Mas será que alguém percebe quando um ventinho muda um dos fios de seus cabelos de lugar? Será que alguém ainda vê os detalhes da vida?
Quando eu era criança eu gostava de ver as formigas andando em fila dupla e as vezes elas se encontravam e eu achava que elas paravam para se cumprimentar uma a uma, carregando suas comidas. Ficava horas as observando. Sempre gostei de olhar os pingos d'agua tocarem o chão. Ficava vendo o splash de cada um e sempre achava que uns levantavam mais água que os outros. A água sempre me fascinou, quando eu era criança não tinha diversão melhor correr na enxurrada no sentido contrário. Cresci, ou talvez não, e continuei correndo contra a corrente. Ainda olho para a enxorrada e penso em correr nela, mas não sei se ainda tenho a mesma alegria e força para ir contra a água, acho que agora vou sendo levada. As vezes é meio cômodo.
Hoje já não tenho mais ousadia para pular nas poças de água e agora entendo o que minha mãe dizia sobre a enxurrada ser suja e perigosa. Perdi a ousadia da infância e as vezes tenho medo de que a enxurrada do tempo tenha levado com ele a minha capacidade de ver cada instantizinho, cada segundinho, cada formiguinha da minha vida.
Ao mesmo tempo eu fico catando cada pedaçinho e vou colando com cola bastão para ficar fácil de descolar e colar depois cada hora de um jeito diferente. Eu? Qual dos meus eus? cada instantizinhos somos uma pessoa diferente. Cada formiguinha que passa nossa mente se desenvolve e se muda um pouquinho, num intante a formiguinha estava aqui e depois ela já está lá. E o lugar por onde ela passou já não é mais o mesmo e não somos mais os mesmos. Para cada pessoa somos alguém. Para algumas pessoas eu sou trêmula e cada instantizinho me parece contado, vejo cada olhar, sinto cada vento, cada gesto. Nesses pequenos instantizinhos vejo cada pedaçinho da minha vida.
Não dá para fugir da gente e nem dá para fugir do que os instantizinhos querem nos proporcionar. A vida vai ser o que ela tiver que ser, mas com nossa experiência podemos ir construindo os instantizinhos. Alguns eu gostaria segurar um pouquinho, mas eles vão junto com a enxurrada as vezes tenho a imprensão de que a a água tá correndo e que eu tô parada no mesmo lugar. Ela vai levando tudo e eu não seguro nada. As vezes esses instantizinhos são tão importantes, são pequenos olhares, um toque e que eu acho que ninguém mais tá se importando. Eu plantei um brotinho de uma florzinha e vou ficar daqui olhando ele crescer cada instantizinho e não vou dormir e só vou comer olhando para ele, ir crescendo e crescendo. Até ela crescer desabrochar e eu vou ir regando para ver os pingos de água grudando nela e vou ver cada petala cair e ir embora com o vento e cada nova que nascer. Ontem o João me pergunto o que eu faço para voltar a sonhar e eu respondi: - "Assisto Amelie Poulain." As vezes penso que só os franceses sabem ver os detalhizinhos da vida, só eles enxergam cada instantizinho separadamente. Seria o amor francês? Será que só os franceses sabem amar? Então, você tem um instante, por favor?


"Nos meus sonhos eu fujo Faço as malas e sumo Vou andando devagar pra você me alcançar ..."
Thiago Pethit



Afinidades

Esse é o texto mais diferente do blog, ele não é surreal, não se basea na imaginação e vem da realidade, tenho sonhado pouco. Esse é real.

Em uma conversa de buteco:

E chegamos a conclusão que cada vez mais os seres humanos caminham para uma massificação e com isso estamos perdendo algumas coisas pelos caminhos. Nunca seremos totalmente iguais, mas estamos cada vez mais impondo e seguindo regras. Por estarmos nos acostumando com as regras estamos cada vez mais julgando e criticando o outro pelo o que ele faz ou expõe. Estamos cada vez mais vendo o que existe por fora e cada vez menos olhando o que está por dentro.
Será que em conversas casuais as pessoas ainda conseguem perceber os sentimentos que pairam no ar e que não são ditos? Será que todos estão olhando assim porque ele bebe, fuma e usa drogas? Isso importa tanto quanto o que ele carrega dentro do seu coração? Para mim não. Mas isso é regra social e julgamos os nossos próprios erros, achamos que não somos suficientemente bons para alguém porque infligimos uma regra social.
A vida sempre me jogou de paraquedas em universos desconhecidos sempre cai precoce em alguns mundos e de repente tava lá tendo que me virar, aprendendo. Alias esse verbo aprender vive me seguindo. Não consigo mais ver só o lado de fora, quando você tá sozinho e perdido aprende a fazer um raio - x das pessoas e vê que não devemos olhar se elas seguem ou não as regras sociais. Porque muitas vezes se elas exalam erros por fora compensam com um ótimo coração por dentro e é isso que importa, mesmo.
Tendemos sempre a procurar uma identificação no outro, é humano. Nos unimos por afinidades, é assim com todas as relações, amizade, amor, paixão, trabalho e etc. Só estamos com alguém porque algo no nosso cérebro se liga ao cérebro do outro. Mas muitas vezes nos pautamos por afinidades externas, o que vestimos e principalmente quais regras sociais as pessoas seguem. Mesmo quando conhecemos alguém tendemos a nos afastar por acharmos que não seguimos alguma regra que a pessoa segue, mas e o que tá lá dentro? E as coisas do coração que se ligam? Além de mim, alguém está preocupado com isso?

Adaptação



"Eu tava pensando, conhecer outrem é como entrar num quarto escuro, nunca se sabe o que tem lá. E você só descobre quando já esbarrou, derrubou ou caiu devido a algo." Marcos Medeiros.

Sempre tive medo do escuro e as vezes saio correndo para a claridade, onde eu posso enxergar tudo. As vezes me pego tentando andar no escuro, quase sempre esbarrando em tudo, derrubando as coisas e na maioria das vezes tropeçando em algo que eu nunca imaginei que estivesse lá. Isso sempre me acarreta umas feridas. É assim até mesmo com as pessoas que tenho costume, já me adaptei a andar naquela escuridão, mas as vezes esbarro, derrubo ou tropeço em algo que nunca imaginei que estivesse lá. Nessas horas sinto vontade de voltar para a luz, curar as feridas. A claridade só existe em minha solidão. Nunca vou acender a luz do quarto escuro de ninguém, mas vou sempre ter que me adaptar ao escuro. Tenho que parar de fugir para a claridade, senão viverei para sempre nela. É duro, mas é real. Vou aprendendo a conviver com os esbarrões, arranhões, tropeços, quedas, sustos e tudo que esse escuro puder me acarretar. Só preciso que me deixem entrar no quarto escuro.

O reverso, in verso.

Coração aflito, calcanhar ardido.
Amor contido, consiso, perdido, dito.
Labirinto sucinto, sinto. Mas labirinto.

Chuva seca, sol gelado.
Dia nublado.
Noite de luzes, cruzes.

Caminhei tanto, aos prantos.
Só me restou os encantos, em cantos.
E os versos? reversos, in versos, diversos.

Xadrez


O que? Amor? hã? Eu estava há alguns passos, eu sempre estou a alguns passos. Vou lá, assim que eu soltar essa âncora que me prende no chão. Eu mando minhas pernas caminharem, mas elas insistem em me desobedecer, fico lá brincando de estátua. Até que o destino me obriga a caminhar e pareço estar sendo empurrada por alguém. De repente, o mundo me parece... xadrez. Xadrez? É. Estranhamente estranho. E depois pareço querer sumir. Fugir? É, só fugir. Quem? Eu? Uai, fui só ali, é que esqueci de voltar. Vai para onde agora? Vou dançar quadrilha, de boa.

Quadrilha.

Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Sempre gostei desse poeminha. Sempre gostei de quadrilha, literalmente. =]


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