A Janela do mundo


Quando eu era pequenininha ficava doida para ver o que tinha do outro lado da janela. Um dia, minha mãe me pegou pela mão e me levou até lá. Subi na cadeira para enxergar o que havia lá fora. Fiquei espantada com tanta coisa e minha mãe me disse: - minha filha, aquilo lá fora é o mundo, um dia você vai ter que passear por ele. Eu fiquei doida para conhecê-lo melhor. Desde então, cada dia eu ia saindo um pouquinho e voltava sempre com alguma dúvida. Minha mãe ia me explicando e dando orientações de como viver lá fora.

Me lembro da primeira vez que visitei o mundo, minhã mãe me deu uma mochila com blusa de frio, lanche e um telefone para eu ligar caso houvesse problema. Com o tempo, ela deixou de preparar o lanche e de me dar a blusa de frio. Tive que ir aprendendo a conseguir a minha comida e a me esquentar para não sentir frio. Passei por alguns momentos difíceis e antes mesmo que eu esperasse eu tive que passar mais tempo no mundo do que no aconchego de minha casa.

A mochila começou a ir vazia. Com o tempo, eu fui percebendo que só podia carregar a minha bagagem cultural. Tudo que eu aprendi dentro de casa e janela a fora eu ia carregar comigo e isso era tudo que eu poderia ter. A mochila anda cada dia mais cheia, as vezes desfaço de algumas coisas e coloco outras novas. As vezes dou de presente pra alguém, outras vezes, ganho presente. Minha mochila tá se modificando e sei que isso é tudo que tenho, é o que carrego comigo.

Hoje, por vezes, sinto vontade de fingir que não alcanço a janela, sento embaixo dela e me esqueço que o mundo lá fora existe. Dá saudade do tempo em que eu era pequeninha e não podia enxergar aquele monte de coisas. Dá saudade de quando eu levava o lanche e a blusa de frio na mochila. Por vezes só quero estar bem embaixo da janela.

Foto do site: http://almacollins.zip.net/arch2007-05-20_2007-05-26.html

Entreaberta

Porta entreaberta
A luz pela fresta
Tua silueta me encanta
O escuro espanta

Sublime abismo

Vejo teu sorriso
Não corro o risco
Tenho medo do precipício

Corro da chuva
Me protejo
Se inundar
Velejo
Se não
Vejo

In certa

Feito um malabarista

Finjo ser artista

Equilibro os desejos do corpo

Com medo do desgosto

Mas qual é o gosto?


No chão retalhos

No mogno retratos

Quero costurar

Falta agulha e linha

Talvez eu sinta

Talvez eu minta


Não tenho passaporte

Entrego-me a qualquer sorte

Fico presa

Torno-me presa


A angústia me elucida

Respiro tímida

A vontade me engana

Eu não tenho gana

Fico quieta

In certa

O amor é um ninho de passarinho

Era um amor inocente
Talvez até um pouco displicente
se é que o amor pode sê-lo
Vinha silencioso, pedindo calma ao corpo
Não queria, pois, causar alvoroço

Tamanha era sua candura
que, em meio a tantas juras,
o coração jurou cautela
teve medo de sofrer mazelas

Sabia ele que a vida é feita de pedacinhos
e que o amor é um ninho de passarinho
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