Dedicado a um amigo

Ele sabe colocar um nariz de palhaço e uma maquiagem feliz, mesmo nos dias de chuva. E se os pingos d'agua borrarem toda a maquiagem e ele ficar mais parecendo um monstrinho, ele ainda terá o nariz de palhaço de plástico para me fazer sorrir. Há dias em que eu sinto falta das longas filosofias da madrugada, dos amores incondicionais, das dores, das saidas irreverentes e das pequenas alegrias. Porque ele é o menino que me apresentou uma revista chamada "Sorria", que me deu um outro lado do amor, que me fez vê-lo no seu pior estado numa noite e acordou com o maior sorriso do mundo, de cabelo de gel e cadernos na mão no outro. Esses braçinhos sempre me recebem com um abraço apertado e os labios me sorriem um: "- oi loirinha". As vezes eu me lembro dos velhos passeios no Palacio das Artes, do livro de assinaturas da exposição que o Michael Jackson tinha passado, lembro do samba-rock a noite nos shows do graveola, bem antigamente, com direito a peregrinação para chegar aos locais e teatro com interatividade. Ah, isso sem falar das crises existencias que dividiamos. Quando eu o vejo, eu me lembro que nem sempre é preciso estar perto para estar junto. Meu mundo ganha um pouquinho de alegria com os nossos sonhos, as vezes sinto a ligeira imprenssão que podemos subir em um barquinho de papel e sair navegando pela vida de uma forma suave e doce. Nesses dias o céu se confude com o mar e estariamos em um imenso azul. Acho que é essa alegria contagiante. Helinho Suquinho esse texto é pra você, porque as vezes é bom relembrar os amigos o quanto eles são importantes.

Linha tênue

Já acordou lá, o quarto estava escuro. Tentou se levantar, tentou sair dali, mas não conseguiu, parecia-lhe que estava presa. O quarto cheirava a sangue, ela sentia muita dor, na certa estava machucada. Mas quem teria feito isso com ela? A luz acende, a claridade é tanta que ela fica cega por instantes e não vê quem acendeu a tal luz. Ela grita, mas parece em vão. Ela está sozinha. Agora olha para si, talvez tivesse esquecido de fazer isso quado estava acompanhada. De repente, percebe que está presa, amarrada pelas cordas da cautela e da vontade de arriscar. Ela não sabe como se soltar, então usa a força, mas logo percebe que está se machucando mais. Vendo que será em vão, ela para, tenta pensar em algo. Analisa o melhor jeito de ir desamarrando, de sair devagar, mas sair dali. Nada parece fazer sentido, os entrelaços das cordas estão estranhos. Talvez ela precise chamar quem a amarrou para que a solte dali. São muitas perguntas e nenhuma resposta. Lhe parece que ela está de volta ao começo, quando a luz ainda estava apagada e a única coisa que ela sabia era que estava presa. Ela pensa em chamar alguém, mas no fundo sabe que ninguém conseguiria deslaçar aqueles nos, e que só quem a amarrou poderia tira-la dali. Subitamente, ela percebe que há um espelho no chão. Olha pra ele, olha pra si. Todos aqueles machucados, aquelas cordas. De repente ela percebe que pode se levantar, pois suas pernas não estão amarradas. Em pé, ela corre. Abre a porta e dá de cara com o medo, logo percebe que foi ele quem a amarrou. Agora ela precisa convence-lo a solta-la. Mas como? Ela se pergunta.

Foi quando ela acordou, deitada em sua cama , com os velhos moveis, os velhos enfeites e seu pijama. Ficou feliz por ter sido apenas um sonho, mas precisava levantar, pois já estava tarde e já tinham passadas muitas horas. Lá se foi ela.

inspirando o momento

desviou o olhar
teve medo de cair em um abismo dentro dele
as mãos trêmulas minaram segredos
respirou ofegante
queria inspirar aquele momento
tentou lhe dizer
mas a garganta engasgou com o sentimento
saiu com passos desajeitados
de quem queria ir por um caminho
mas achou conveniente ir por outro
lhe perdeu na primeira esquina
lhe encontra todas as noites
mas perde pela manhã

Toque doce

meu coração palpitava de encontro ao teu
todos os sentimentos traduziam-se em um simples toque
palavras tramitavam no encontro de nossos lábios
afogados pela euforia do momento
beijei-te inocentemente
queria apenas torna-me mais intima de ti
almejei tocar-lhe da forma mais doce possível
minhas mãos trêmulas queriam pedir desculpas por estarem perdidas
meu corpo todo movimentava-se de forma abrupta
por hora respondia mais aos teus estimulos do que aos meus
sentia-me ainda mais asmática,
cada respiração ofegante me fazia roubar um segundo de tempo
parecia-me ter me perdido no tempo e no espaço
não sabia mais os limites entre os nossos corpos
entrelaçados pela paixão daquele momento
no escuro dos nossos olhos fechados,
deixamos de existir
podiamos somente nos sentir
acordei sem saber se era mais um de meus delirios
ou se haviamos nos encontrado em nossos sonhos

Sobre solidão e amor

Eu tava forçando a mente para ver se lembrava cenas que reconstituiriam o filme preto e branco da minha vida. Sempre me imaginei morrendo dormindo, mas acho que a gente acorda pra morrer. Apesar de estar tudo invertido eu não estava com medo. Me sentia um pouco estranha por morrer sozinha ali, mas acho que ninguém morre com outra pessoa. A morte é a coisa mais solitária da vida. Orson Welles uma vez disse que, "nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos." Acho que ele tem razão, embora tenhamos inventado os laços socias, seremos sempre sozinhos. Agora eu tô aqui culpando a solidão por eu nunca ter me dado bem com o amor ou com os laços sociais. É engraçado essa coisa de amor, eu sempre me apaixonei por guris que aos meus olhos tinham uma sensibilidade e uma doçura incrivel, mas que aos olhos sociais não eram lá muito bacanas. Eu ainda acho que o importante é o que as pessoas são pra gente e o quanto nos fazem bem ou não. Na verdade eu sempre gostei de guris que eram praticamente impossíveis de conseguir. Acho que é essa minha fuga por não saber lidar com o amor. Vivo me encantando o tempo todo e sempre digo que quero alguém pra vida toda, mas acho que só me convem ser for algo intenso. Talvez as coisas que eu consiga, percam a intensidade. Acho que eu realmente nunca me dei bem com laços sociais, sempre tenho medo de invadir o espaço do outro e tenho medo que invandam meu espaço também. Contudo, eu aprendi a lidar com as pessoas, as vezes faço coisas demais por elas e raramente sou retribuida, as vezes não me importo com nada. Passei a maior parte da minha vida sozinha, desde criança, quando eu sabia brincar solitária, mas confesso que as vezes sinto falta de alguém comigo.
Não estou conseguindo me lembrar de nada para o filme, só estou me martirizando por ter escolhido ser sozinha. A solidão dói como as ferragens do carro que agora perfuram o meu peito lentamente. Cada fração de segundo de tempo sozinho é uma dor. Eu decidi colocar a culpa do acidente na minha juventude. Quando a gente é jovem, a gente acredita que nada vai nos acontecer, como se fossemos super herois ou sei lá o que. Ai de repente você se vê preso entre ferragens com tudo de cabeça pra baixo e sozinho, delirando de febre. Só consigo pensar na situação em que estou agora e não sei ao certo o porquê, mas não paro de pensar no amor. Acho que o amor sempre permeou a minha vida, tanto quanto a solidão, por mais contraditório que isso pareça. No ápice do meu delirio, me lembrei do meu último encantamento. Mais um para minha lista dos casos muito dificeis. Um desses encantamentos que surgem pelo que a pessoa é pra você e pelo bem que te faz. Nem chega a ser amor ou gostar, mas é carinho e admiração. A juventude é também a época que a gente mais encontra, ou perde, amor. Somos intensos demais. Mas também somos um pouco solitários, cada um tá preocupado com seu próprio umbigo e as vezes esquecemos de olhar nos olhos dos outros. Acho que nesse acidente, atropelei a mim mesma e matei a solidão e o amor de uma vez só.

Nudez de espírito

um dia eu ouvi "não espere que os outros façam por você o que você faz por eles" e ainda "faça o que é melhor para você, pois não sabemos o que as pessoas podem nos fazer amanhã".

Permaneço nua
Está escuro
Não estou só
Uma leve luz atravessa a fresta
Acaricio minhas companhias com a sombra da ponta dos meus dedos
Começa a chover
Meu corpo nu soluça de frio
Meu coração congelou
Fez todo meu sangue esfriar
Mas eu respiro, ainda que asmática
Os olhos lacrimejam mágoas
Já não reconheço ninguém
Meu anjo da guarda vem batucando
Vejo com os ouvidos
Apago a luz
Afinal não escuto com os olhos
Fria, sou agora uma sujeita a procura de um verbo
Sem o calor da luz, esfrio-me mais ainda
Procuro teu corpo para aquecer o meu
Apenas para que eu não morra
Jogue um cobertor sobre mim, amigo
Jogue um cobertor amigo sobre mim
Aqueça-me com tua honestidade
Aqueça-me com tuas verdades
As pessoas do quarto me viraram do avesso
e me comeram por dentro
como canibais
Sou só carcaça agora
Sinto-me forte
Mas estou nua de espírito.

suicidio transcedente

eu suicidei essa noite
abdiquei de mim mesma
suicidei de frente para o espelho
embaçado pelo calor
me perdi na falta de imagem
mas quem és tu que fostes embora?
não tive tempo de te ver
na minha morte não quis ver um filme real
não me cobres ter amor agora
pois tu nunca fostes inteira
no meu último suspiro de dor
suspirei a ti
suspirei a tua ausência
jurei a ti amor eterno
prometi que viveria apenas para ti
agora estou te matando aos poucos
no calor do espelho
eu me rendo, não vivo inteiramente para ti
mas também não deixo ninguém viver por ti
e nunca deixei ninguém viver para ti
confesso que te quis apenas para mim
mas deixei que tu vivesses para os outros
agora é o fim
meu coração agoniza de aflição
o sangue escorre pelo meu corpo
me martirizo de dor
lhe peço perdão por te matar dessa forma tão dolorida
quero que saibas que fui e sou sua melhor companhia
todas as vezes que fiquei a sós contigo foi para te proteger
agora eu vou, estou seca por dentro
acabou minha última gota de sangue
meu coração deu seu útimo pulsar e adormeceu
lhe deixo sozinha
cometi um suicidio transcendente.

Paradigma do (des)encontro


Eles já se conheciam, mas nunca foram, de fato, apresentados. Ela achava estranho conhecê-lo e desconhecê-lo há tanto tempo. As vezes ela sentia saudades da presença um pouco ausente dele. Quando presente ele figia não vê-la mesmo olhando para ela. Ela fingia não olhar para ele, mesmo o vendo. Ela só conseguia conversar a sós com ele se houvessem muitas pessoas ao redor. Ele falava com muitas pessoas quando estava a sós com ela. Ela as vezes o tocava, mesmo sem lhe tocar. Ele a tocava, sem que ela se sentisse tocada, mas as vezes ele também a tocava, sem tocar. Ela não sabe o que fazer ao lado dele e faz muitas coisas. Ele sabe o que fazer, não faz nada. A quietude dele, por ser inquieto demais. A inquietude dela por ser quieta demais. Ela queria ser natural, personificava- se. Ele queria encanta-la, agia naturalmente. Ele a elogiava, negando. Ela não o elogiava, afirmando. Ela era timida, todos a conheciam. Ele era extrovertido, poucos sabiam. O alccol os aproximava, a embriguez os afastava. Ela estava sempre perdida no mundo. Ele se encontrava em cada esquina. Ela sorria demais, com os lábios sérios. Ele sorria pouco, com os lábios sorridentes. Ela as vezes o procurava, sem procurar. Ele nunca a procurava, a procurando. Ela só sabia o que os outros diziam dele e ele só sabia o que os outros diziam dela. A sós, eles conversavam muito, em silêncio. Eles se encontraram várias vezes, mas nunca se encontraram.

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