Paradigma do (des)encontro


Eles já se conheciam, mas nunca foram, de fato, apresentados. Ela achava estranho conhecê-lo e desconhecê-lo há tanto tempo. As vezes ela sentia saudades da presença um pouco ausente dele. Quando presente ele figia não vê-la mesmo olhando para ela. Ela fingia não olhar para ele, mesmo o vendo. Ela só conseguia conversar a sós com ele se houvessem muitas pessoas ao redor. Ele falava com muitas pessoas quando estava a sós com ela. Ela as vezes o tocava, mesmo sem lhe tocar. Ele a tocava, sem que ela se sentisse tocada, mas as vezes ele também a tocava, sem tocar. Ela não sabe o que fazer ao lado dele e faz muitas coisas. Ele sabe o que fazer, não faz nada. A quietude dele, por ser inquieto demais. A inquietude dela por ser quieta demais. Ela queria ser natural, personificava- se. Ele queria encanta-la, agia naturalmente. Ele a elogiava, negando. Ela não o elogiava, afirmando. Ela era timida, todos a conheciam. Ele era extrovertido, poucos sabiam. O alccol os aproximava, a embriguez os afastava. Ela estava sempre perdida no mundo. Ele se encontrava em cada esquina. Ela sorria demais, com os lábios sérios. Ele sorria pouco, com os lábios sorridentes. Ela as vezes o procurava, sem procurar. Ele nunca a procurava, a procurando. Ela só sabia o que os outros diziam dele e ele só sabia o que os outros diziam dela. A sós, eles conversavam muito, em silêncio. Eles se encontraram várias vezes, mas nunca se encontraram.

Foto do site: http://troll-urbano.weblog.com.pt/arquivo/2006/03/a_m.html

1 comentários:

G.C disse...

As pessoas têm que se dar uma chance. Mas antes de dar a chance pro outro, é preciso se entender, entender a solidão de si e a solidão do outro. Aprendendo o que significa ser, no sentido individual, é notável que o outro seja mais aceitável... é um ciclo, mas não um fórmula.

o texto me passou um pouco de culpa, não sei.. é a impressão que tive ao lê-lo. mas o mais importante na vida é ser feliz, por pior que a vida seja, esse é o nosso único remédio. o sábio é aquele que erra procurando o acerto, sempre com honestidade por seus sentimentos.

muito legal, Nat.

beijo

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