Entre

Clarisse dormia com dois travessereiros, um lhe ocupava e amaciava a cabeça e o outro os braços. A trilha sonora vinha lá de longe, uma dessas músicas antigas que seu pai escutava em uma vitrola velha. A luz da rua tranpassava a persinana entreaberta, fazia brilhar a gotinha de lágrima no canto do olho esquerdo de Clarisse. Iluminava o cobertor vermelho de erros, acertos, alegrias, tristezas, euforia e dor. A menina chorava a saudade do que tinha perdido para o tempo, das boas e velhas amizades, dos sorrisos, das dores, dos sentimentos. De repente, ela que tanto gostava da noite, sentiu uma vontade imensa de ver o céu azul, um sol bem no meio entre a dança das nuvens. Sentiu saudade de calçar a velha sandalha de madeira, vestir seu vestido vermelho e sair pelo mundo confundindo o dia com a noite, sentada nas praças vazias, vazias por fora, mas repletas de sentimentos por dentro. Dentro daquela rodinha de amigos que se formava com papos filosoficos ou piadas alegras permeadas pela fumaça dos cigarros. Ah! Como ela sentia saudades. Naqueles dias não haviam erros ou acertos, estavam todos no mesmo barco e afundariam se fosse preciso e nadariam rumo a margem, mas juntos. Estavam unidos pelos seus erros, talvez por isso fossem tão fortes. Sempre seguravam a mão de Clarisse e não importava quantos obstaculos iam passar, os dedos entrelaçados não se soltavam. Agora Clarisse anda com os cadarços desamarrados, tropeçando nos próprios passos. Caindo pelos seus caminhos. O coração continua com as portas escancaradas como quem abre a porta de um carro. Mas os antigos cadarços ela não tem mais, hoje se baseia em laços frouxos, por vezes esquecidos de amarrar. No fundo uma remota esperança, dessas florzinhas que encontramos solitárias num campo enorme. A esperança de encontrar nos novos laços, mãos que entrelaçem seus dedos na chuva, enfrentando as enchentes, poças e correntezas, esperando o dia clarear e formar um arco iris pra sentar na praça e olhar o céu, ainda que sem fumança mas com as nuvens dançando a velha música do seu pai que tocava na vitrola agora quebrada. Boa noite, Clarisse adormece.

A Surpresa de ser

A ti meu amigo dedico esse bonito e doce poema do Mario Quintana que desde a primeira vez que li achei que tinha sido escrito pra você.



A Surpresa de Ser

A florzinha
Crescendo
Subia
Subia
Direito
Pro céu
Como na história de Joãozinho e o Pé de Feijão.
Joãozinho era eu
Na relva estendido
Atento ao mistério das formigas que trabalhavam tanto...
E as nuvens, no alto, pasmadas, olhavam...
E as torres, imóveis de espanto, entre vôos ariscos
Olhavam, olhavam...
E a água do arroio arregalava bolhas atônitas
Em torno de cada pedra que encontrava...
Porque todas as coisas que estavam dentro do balão
Azul daquela hora
Eram curiosas e ingênuas como a flor qua nascia
E cheias do tímido encantamento de se encontrarem juntas,
Olhando-se

As vezes a amizade é tanta que as palavras ficam gastas, só um poema pra tentar traduzir tantos sentimentos. Mas de verdade pequeno João, vc foi um ser surpresa na minha vida. Um grande amigo, que mesmo nos furacões da vida, eu sei que estamos juntos. Nossa amizade é como um porto seguro. Espero comemorar muitos e muitos aniversários com você.
Parabéns e eu amo você putinho.

Acho que essa é nossa primeira foto, quase uma reliquia.

Vida Desnuda

Para os loucos de amor e para os amores loucos...

a vida vem desnuda, meu bem
venha, vamos vesti-la com nossos sonhos
dia a dia
vamos despi-la
sob uma luz forte
ver seus tênues traços
ou quem sabe despi-la no escuro
cegados pelas paixões repentinas
esperando uma fresta de luz qualquer pairar sob teus olhos
para eu me ver refletida dentro das suas pupilas
num súbito momento de encamento
como os filmes em preto e branco
onde não haviam cores para desviar a atenção
as coisas pareciam não estar preenchidas
eram apenas traços
como os atores mudos
interpretando sentimentos
sentimentos perdidos
feito um barco de papel em alto mar
nos desfazendo
sendo levados pela maré da vida
perdidos numa imensidão azul
onde o céu e o mar se confundem
e nos assustamos por descobrir que o mundo não tem fim
navegamos as tontas
girando,
como os ponteiros do relógio
e aquela água que nos banhou não passa mais
agora só guardo comigo o doce encantamento
o barquinho sumindo no horizonte
aquele pequeno momento que me deixou as tontas
procurando um fim
mas percebi que os ponteiros te levaram
e agora é tarde demais para eu ser reprovada

Ainda

Ainda sou a menina que olha a vida pela janela do quarto
A que nasceu prematura e que foi vivendo prematuramente
Aprendeu a ter calma consigo mesma para enfrentar as situações novas
Mas se esconde atrás da sua solidão quando está com medo
A menina que ainda se apaixona em cada esquina
A que cria expectivas com qualquer grãozinho de areia
Ainda sou a menina que se encanta com o simples
A que chora quando se sente só
E se olha no espelho para conter as lágrimas
A menina que busca a alegria todos os dias
Ainda que não a encontre sempre
Aquela que tenta ter cautela com as pessoas
A que aprende todo dia a ser forte
Porque a vida não tem talvez
A menina que se esconde na sua introspecção quando está insegura
Que tem medo da novidade, mas que se joga no mundo.
Ainda sou a mesma menina com medo de altura e de escuro da infância.
Porque meu coração ainda é de menina.

Sobre se apaixonar todos os dias

As pessoas tem dentro delas muitos erros e acertos, mas talvez os erros delas são o que as fazem felizes. O mundo é uma construção de coisas e a linha entre o certo e o errado é muito tênue. Os erros e acertos são uma construção conceitual de cada um. Há dias em que conceituamos o outro e as relações sociais não são para serem teorizadas, são para serem sentidas. A partir do momento que deixamos de respeitar as vontade e desejos do outro, deixamos também de respeita-lo. Por outro lado somos seres naturalmente individualistas e por isso devemos aprender a não atropelar os outros. Não deixar com que nossos sentimentos, desejos ou vontades passem por cima dos sentimentos de outrém. Tantas teorias fazem a gente se perder nos sentimentos e deles. Estar com o outrém é apenas sentir, sentir o que aquele momento lhe proporcina, sem pensar naquele momento. Os pensamentos são para a solidão. A solidão doi.
As vezes é preciso saber dosar nossos sentimentos para que eles não invadam o coração alheio, uma coisa é estar triste, outra coisa e deixar essa tristeza contagiar o outro. É mais fácil abandonar o outro quando ele entristece ou se afoga em uma solidão, mas é mais bonito busca-lo, aconchega-lo em braços de companhia, afeto e carinho. Nem sempre é preciso estar perto para estar junto, mas se você está longe, faça com que o outro sinta que você está perto.
Há dias em que é preciso colocar um nariz de palhaço para arrancar um sorriso triste. Acredito que temos o direito e o dever de sermos felizes e no ápice de nossa lucidez devemos viver os momentos sem medo, ainda que com cautela, da forma mais intensa possível. Porque intensidade é sentir e sentir faz bem. Sentir a proteção nos momentos de insegurança, sentir alegria nos momentos de amor, sentir-se só. Não devemos nos deixar sós. O mundo é verdadeiramente cão e precisamos encontrar valvulas de escape para fugir dele. Devemos entender que cada momento é único e que se ficarmos teorizando, vamos perdê-lo. É mesmo preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. A tal da intensidade. As pessoas não são o que elas fazem, mas sim o que elas fazem para gente. É sempre bom pensar no que fazemos para as pessoas então, porque é isso que importa. Acho que a felicidade está acima de tudo, é a melhor sensação que podemos ter.

Já dizia Shakespeare, "ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa. " Talvez esse seja meu problema, sou apaixonada pelas pessoas e me apaixono todos os dias.
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