o cais

a saudade embarca no horizonte
enquanto eu continuo sentada solitária no cais
um enorme eco assola meu coração
noutra noite a dor não coube em mim
saltou pelos meus olhos e as minhas lágrimas fizeram-se mar
o que me aflinge é não poder ter balançado o lenço do adeus

outrora as distâncias me pareciam curtas
eu quase podia sentir a lua
naquelas noites o tempo não tinha hora pra acabar
o sol subia ao céu como as letras de FIM nos filmes
os sorrisos pairavam em meus lábios como as gaivotas no mar

noutra noite a lua me falava sobre as travessuras
enquanto eu recostava meus pensamentos sobre meu velho companheiro
aquele travesseiro que esteve comigo em todas as travessias
deito-me ao relento de minhas lembranças
o cais é um pouco frio, querido
não há como cobrir a alma

o silêncio me incomoda
a loucura deita-se comigo
é, ela nunca me abandona
encontro companhia naquela menina refletida na água
e adormeço, ainda inquieta
é que o silêncio me aflinge

amanhã o barulho dos barcos vão me acordar
e eu vou escrever um samba
porque num há melhor maneira de falar de tristeza de um jeito alegre
e lá vou eu chorar pelos barcos que se vão

4 comentários:

Marcos disse...

É uma bonita construção, os barcos, o cais, o mar...
Tudo remete as passagens do texto.
Engraçado como elas se encaixam tão perfeitamente...bom te ler!

G.C disse...

eu gosto dessa poesia 'marginal' sua:

"porque num há melhor maneira de falar de tristeza de um jeito alegre"

gosto dessa estética do cotidiano, me adentra no seu texto.

Talvez seja a hora de entender e compreender a solidão que te atinge... Deixe o silêncio falar e escute!

uns beijos.

Gente de Verdade! disse...

Que lindo...

João Killer disse...

Essa sua forma de reunir coisas que estão presentes e são solidas com o sentimental me encanta. Você consegue fazer uma construção nostálgica com uma dose de sentimentos felizes que me seduz ao ler seus textos. Belo texto!

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