dança

Por mais que eu me banhasse, aquele cheiro de sangue não saia do meu corpo. Minha boca ainda tinha o gosto amargo do teu sangue. Eu corria desperada pelo rio, mas a água não me limpava. Era tão assustador ter seu corpo todo ensanguentado junto ao meu. Nossos corpos jogados no canto da sala em posição fetal. Aquecida com o calor do seu sangue, eu ouvia um barulho esturrecedor dos gritos lá fora, enquanto você clamava pra eu não tirar meus pés do lado dos seus, pois você sentia frio. Eu sentia o teu peito suspirando em busca dos últimos resquicios de vida, enquanto eu tentava lembrar alguma canção para sufocar a agonia da sua morte. Aos poucos começo a cantar calmamente no aconchego dos teus ouvidos e você pede que eu coloque os meus pés em cima dos teus, para que você me ensine a dançar além do "dois pra lá e dois pra cá". Sua mão deslizam sobre a minha cintura, enquanto a outra acaricia lentamente os meus cabelos. Eu apenas o abraço forte. Deixo-me guiar pelos seus passos enquanto lentamente fecho os olhos. Meu corpo se cansa e o teu também, vamos deslizando pela parede e tocando o chão, entrelaçados. Adormeço. Adormece pequenino, adormece.

1 comentários:

G.C disse...

ficou meio beckett isso!

como que o silêncio às vezes pode fazer o sangue jorrar,né? silenciar o sentimento, o coração, a vida... adoece, demora pra curar.

nem sempre o outro corpo quer ser salvo, Nat : )

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