pausa

Ele estava sentado num canto da Praça, todas as outras pessoas se expremiam nos bancos opostos. Sento-me bem perto dele, mas acho que ele nem reparou a minha presença. Com um saco preto que parecia conter latinhas e outros objetos ele tira um pente do bolso e começa a pentear os cabelos incrivelmente lisos, contrastando com a pele morena de sol. A barba um pouco esbranqueçada pelo tempo, o olhar triste e cansado. Mais cansado do que triste. O corpo se esquivava em direção ao chão, as mãos inquietas e o olhar desconsolado. Desconsolada também fiquei, engraçado como a gente sai andando com pressa e de repente a vida te faz uma pausa, foi isso que senti quando o vi. Ele estava sentado, calmo, cansado, enquanto eu corria e corria pra que? e por que? Desconsolada fiquei eu, nem sabia quem era aquele homem. Enquanto me perguntava, ele ascendia um cigarro e agora aquela cena me parecia mais desconsoladora ainda. Eu queria ir lá falar com ele, queria perguntar quem ele era, de onde venho e porque estava ali, mas não consegui, apenas segui meu caminho. Me levantei, caminhei e o semáforo me faz parar, não tirei os olhos dele, ele não olhava para nada, além do chão, de repente se levantou e seguiu seu caminho, entre as lixeiras da cidade. Nos meus olhos uma pequena lágrima escorre. Aquele homem, sem nome, endereço ou profissão, era uma pausa em minhavida. Ele era isso, uma pausa em minha vida.

nuvem de criança

A gente brincava, por um vaaaaasto parque, o dia estava bastante bonito, as arvores pareciam mais verdes, estavam lá alguns amigos, e todos estavamos mais felizes que nunca, a vida tinha nos abençoado com um bom dia, tinha nos dado aquele som que tanto sonhavamos, dentro dos nossos quartos enquando chovia feeeeeito louco, apesar de ser verão. É como a juventude que não sabia o que fazer desse estado de se ter pouca idade.
Sorriamos, e corriamos pelo gramado, até cansar. Sabe quando corremos tanto que nossas pernas se esgotam e agente acaba caindo e dando gargalhadas sem saber por que? Pois é era assim que estavamos, era como se a cada corrida tivessemos vivendo mais forte, mais intenso, e sabe, a brisa se torma maior, e as imagens ficam engraçadas quando corremos, algumas coisas ficam mais rapidas, outras mais lentas, é ter o privilégio de correr sorrindo.
Ao longe, uma menininha corria, e ao contrário de nós, ela nem olhava para a frente, observando as pessoas e arvores, ela olhava para cima, vendo as nuvens de diversas formas e cores (tá, as cores eu não sei de onde tirei caro leitor, mas é melhor pensar em várias cores, imagine um céu assim).
Eu corria buscando uma nuvem mais bela, com um formato de coelinho sabe, até que encontrei, e percebi que o vento estava levando ele embora, coelho arisco, nem deixava eu olhar para ele, ele comecou a sair correndo, parece aqueles coelhos que agente vê em festa junina, que se esconde em casinhas, atras de comida. Coelho bobo. E eu comecei a correr atrás dele, para ver se consegui acompanhá-lo, nem que seja de vista. Então ele começou a se desmanchar, e quando percebi perdi a orientação de tudo.
Quando vi, a menininha tropeçou em uma pedra e caiu, um tombo engraçadíssimo (peço desculpas ao leitor, mas quem nunca riu de um tombo), ainda assim, fiquei preocupado e corri para ver se ela estava bem.
- Você está bem?
E a menina chorava, chorava, chorava.
- O que houve?
- Eu perdi minha referência, eu quebrei, eu quebrei.
- Quebrou a perna, o braço?
- Quebrei meu sonho.
- O Sonho?
E ela chorava, chorava.
Eu parei e pensei um pouco.
- É eu sei, é verdade, quebrar o sonho é dolorido, as vezes parece que quebrar o sonho é mais dolorido que a perna.
- Sim, é pior que não andar, pois quando se sabe para onde ir, pode se pedir para alguem levar, agora se não se sabe, nem 4 pernas ajudam.
Eu fiz uma cara melancôlica, e sorri.
Por que ele está sorrindo? Eu estou com dor aqui, e nem sei como tratar, nem dipirona vai ajudar (pois é gente, tem alguns que tentam curar até dor de amor com dipirona, AAS, entre outras drogas por aí, mas ela sabia que não). Esse garoto não para de sorrir, que bobo.
- Qual é o teu problema heim?
E ele olhava para cima, para um céu azul, azulzinho. E agora como um doente, estendia a mão e as nuvens iam se desmanchando com o seu dedo, e dando novas formas, mas isso só para ele (ele tinha probleminhas).
- Olhe só. Veja comigo, aquela nuvem está redonda, e não se parece com nada, mas olhe o meu dedo e imagine que ele é capaz de movimentar a nuvem, olha só. Agora tem um cachorrinho.
E ela enxugou as lágrimas.
- Olha agora, tem um patinho ali, olha o bico, o rabinho, olha, um pardal, um elefante.
E ele ia desenhando um monte de bichinhos. E falava.
- Quack, Quack, Muuuuu, Muuuuuu, Hoinc, Hoinc.
E imitava o zoologico inteiro.
E ela sorria, ria.
Quando vê, ele pegou e esfregou tudo com a palma da mão.
- HEEEEEYYYYY, Por que você fez isso?
- É só um céu.
E ela emburrou.
- Sim, é só um céu, as formas nascem, se modificam, as vezes só agente as vê. E o vento leva, agente apaga. Mas saiba, o vento pode levar, e não parecer mais bichinho nenhum.
E ela continuou emburada. Ele pegou a mão dela, e ela tirou.
- Me deixe pegar a tua mão. (e ela deixou), agora deixe ela espalmada. Tá vendo o coelinho, vamo apagar ele.
- Ele era tão bonito.
- Mas o vento já o levou.
- Tá bom. - Com um jeitinho sicinto de menina.
E ela apagou.
- Agora me dá o indicador.
E eles fizeram um novo bichinho.
Quando vê o vento levou, e ela começou a soluçar.
- Calma, calma, faz de novo. ... melhor apaga, e faz outro.
E ela começou a se divertir com a brincadeira.
E ficaram até de noite, brincando de desenhar nuvens, e colorindo lembre-se, as nuvens tem cores heim.
E quando chegou a noite, ela quis ir embora.
- Agora tudo acabou =(.
Ele ficou em silêncio, ela se levantou, e quando foi querer ir embora.
- Não não, olhe para cima, agora tem estrelas.

Esse texto é um presente do meu amigo Marcos Medeiros que mesmo longe consegue me fazer sentir seu abraço com as palavras. Obrigada.

dança

Por mais que eu me banhasse, aquele cheiro de sangue não saia do meu corpo. Minha boca ainda tinha o gosto amargo do teu sangue. Eu corria desperada pelo rio, mas a água não me limpava. Era tão assustador ter seu corpo todo ensanguentado junto ao meu. Nossos corpos jogados no canto da sala em posição fetal. Aquecida com o calor do seu sangue, eu ouvia um barulho esturrecedor dos gritos lá fora, enquanto você clamava pra eu não tirar meus pés do lado dos seus, pois você sentia frio. Eu sentia o teu peito suspirando em busca dos últimos resquicios de vida, enquanto eu tentava lembrar alguma canção para sufocar a agonia da sua morte. Aos poucos começo a cantar calmamente no aconchego dos teus ouvidos e você pede que eu coloque os meus pés em cima dos teus, para que você me ensine a dançar além do "dois pra lá e dois pra cá". Sua mão deslizam sobre a minha cintura, enquanto a outra acaricia lentamente os meus cabelos. Eu apenas o abraço forte. Deixo-me guiar pelos seus passos enquanto lentamente fecho os olhos. Meu corpo se cansa e o teu também, vamos deslizando pela parede e tocando o chão, entrelaçados. Adormeço. Adormece pequenino, adormece.

O parto de Isabel

Quando Isabel foi embora pela primeira vez, eu chorei durante três dias, tomei uma garrafa de wiski e fumei dois maços de cigarro. Ela deixou em meus braços nosso filho carlinhos, eu num sabia o que fazer com aquele bebê. Quando Isabel partiu levou um pedaço do meu coração e deixou comigo todos nossos momentos felizes, eu nunca a esqueci e volta e meia olhava pela janela para ver se ela estava chegando. Isabel só voltou 2 anos depois e quando ela chegou eu senti uma felicidade desesperadora, era um misto de alegria com medo. Isabel num era mais a mesma, falava outras linguas, tinha conhecido pessoas diferentes e eu continuava o mesmo homem de barba rala que Carlinhos gostava de acariciar. Ele se apegou a mãe nos dias em que ela esteve aqui e quando Isabel foi embora pela segunda vez, acho que eu tive com quem dividir a dor. Dessa vez só tomei meia garrafa de wiski e fumei apenas um maço de cigarro. Carlinhos chorou um pouco, mas crianças se adaptam fácil de novo. Passados alguns anos, Isabel voltou, dessa vez quase não senti alegria, só medo, mas ela acariciou minha barba os meus cabelos e eu logo quis que ela ficasse aqui. Começamos a viver muito felizes, até que Isabel foi embora pela terceira vez, dessa vez não chorei, não bebi e não fumei. Acho que não me lembro mais de minha felicidade com ela. Passei a noite em claro com medo do que Carlinhos faria quando notasse a ausência da mãe. Ele acordou e disse:
- Papai vamos morar em outra casa?
Naquela tarde pegamos um trem, o mesmo que Isabel partia, naquele dia deciframos o mundo que ela trazia na bagagem, mas nunca mais esperamos que ela voltasse.

O Roteiro


Quando Mathias bateu na porta, eu fiquei me perguntando se deveria abrir ou não. Há algum tempo eu não atendia ninguém. Sem saber o porque, larguei a máquina de escrever e abri a porta. Ele entrou e sentou na velha poltrona marron. Eu continuei datilografando o roteiro, enquanto ele insistia em ligar a vitrola que não funcionava mais. Tentei fingir que ele não estava lá, mas aos poucos ele conseguiu ligar a vitrola, eu comecei a fazer o seu café, comecei a lhe dar cobertas a noite. Nunca soube exatamente o porque, mas era isso que eu fazia. Era engraçado e estranho saber que agora o barulho da máquina de escrever era dividido com os passos dele pela casa. Meu roteiro foi se modificando com a presença dele, acho que é por isso que eu não abria a porta pra ninguém, sofria de um medo absurdo de ter que mudar meu roteiro com a entrada de novos persoangens e o tal final feliz que eu tinha preparado não acontecesse. Faz dias que não sei se Mathias ainda está aqui, o meu tempo para entregar o roteiro está ficando curto e eu quase não escuto seus passos. O café esfria na mesa e não sei se ele sente frio a noite. Há tempos não me incomodava ficar sozinha, isolada nessa casa de campo, mas nesses últimos dias tem sido estranho não saber se Mathias está aqui ou se ele já se foi. Acho que por causa disso que não consigo terminar o roteiro. Eu preciso de um fim, não gosto de histórias que tenham um fim em aberto, porque não gosto de continuar velhas histórias. Preciso de um fim, Mathias você ainda está aqui? E você leitor, conseguiu chegar até o fim desse história, meio sem fim.

O Rei Arthur e a Puta

Sentei-me bem na ponta daquele banco de madeira branco. Noutro canto estava ele, Arthur. Nunca tinha o visto tão quieto, sentado daquele jeito. Faz exatamente 3 meses que Arthur internou-se na clinica de recuperação para drogados, mas fazem 3 anos que não nos vemos. Eu não fazia idéia do que dizer e ele ficou com o olhor perdido em mim. De repente, ele soltou:
- Você está ainda mais bonita.
Dei um sorriso tímido. Eu estava usando uma blusa de um seriado, um short jeans e um colete preto. Muito diferente das saias curtinhas, botas e tomara que caia que eu costumava usar quando ele me conheceu.
A única coisa que consegui perguntar foi:
- Tá tudo bem com você?
- Que que aconteceu com a gente hein? Éramos tão felizes. (Ele me disse com um olhar triste)
Eu queria responder que a droga estragou tudo, mas a verdade é que o Arthur não é o vilão dessa história. Quando eu e Arthur nos conhecemos eu trabalhava no cabaré da Dona Odilia, foi lá que me fiz puta e aprendi tudo que sei. Um dia, amargurado com o namoro que não lhe trazia felicidade, Arthur foi até o puteiro em busca de distração. Dona Odilia me apresentou para ele e acabei não fazendo o programa naquela noite. Conversamos a noite toda e quando ele quis pagar não aceitei. Arthur voltou muitas noites no Cabaré. Entre os homens que iam e vinham ele foi o único por quem eu senti vontade de passar a noite e não fazia pelo dinheiro.
Arthur me fez aprender a coisa mais esquisita da vida, é possível amar alguém e ser amado, mas mesmo assim não ser feliz. Eu estava enlouquecida com ele e ele comigo. Quase todas as noites ele ia ao Cabaré, riamos muito e a companhia dele era a melhor coisa que eu tinha. Passavamos a noite conversando e o tempo voava, um dia brinquei que ele era o Rei Arthur e eu apenas uma puta.
No mês de janeiro, Arthur começou a não ir todas as noites me visitar e eu fui ficando cansada daquilo. Um dia, de supetão, disse a ele que nunca mais queria vê-lo. Não era verdade, mas eu achei conveniente. Ele foi embora meio triste. Eu ainda não sei porque tomei aquela atitude, mas também nunca soube porque ele parou de me visitar.
Em três anos Arthur usou todo tipo de drogas possíveis, se tornou também um lixo que a sociedade queria se livrar. Assim como eu na minha condição de puta. Eu conheci vários amores, mas nenhum foi como ele e com ele aconteceu a mesma coisa. Engraçado como o mundo muda em 3 anos. Eu resolvi largar o Cabaré, escrevi um livro "O Rei Arthur e a Puta". Passei um ano me dedicando a ele e o lancei ontem, foi um sucesso. Se você tava se perguntando porque eu vim visitar o Arthur, tá ai a resposta. Vim lhe entregar o livro que diz o quanto ele me fez bem e o quanto me fez mal.
- Vim lhe trazer isso
- "O Rei e a Puta"? (Ele riu)
- Pois é, escrevi.
Passamos o resto da tarde rindo da situação.Arthur foi o grande amor da minha vida. Eu queria que ele ficasse com o livro de recordação. No inicio da noite fui embora.
- Adeus Arthur
- Adeus... (o meu nome não importa, agora podem escolher me chamar de puta ou de escritora, tanto faz.)

abrigo
















debruçada nas paisagens que iam embora
eu observava as pessoas ao meu redor
o cara com o radinho
a moça fazendo sombracelha
o senhor com chapéu e bengala
naquele trem, eu era só mais uma

parecia que alguém havia desligado o meu radinho
aquele que tocava as sirenas, buzinas e xingamentos do trânsito
ali a minha sombracelha dava um semblante tranquilo a minha face
quanto a colocar algo na cabeça, a perseguição cognitiva diária
e a bengala que fazia eu me preocupar com os caminhos que eu ia trilhar
nem estavam lá

aliás a única trilha que eu queria naquele momento era o barulho do trem
aquelas paradas nas estações,
parecia-me por alguns instantes que aquela solidão compartilhada fazia sentido
e aquele silêncio que tanto me dizia

aos poucos meu coração ia adormecendo
há dias ele vivia de insônia
agora ele se debruçou na janela do trem
deitou-se sereno, tranquilo

um rapaz pergunta se pode se sentar ao meu lado
eu nunca tinha visto ele
mas ele tinha os olhos mais brilhantes que eu já vi
como se estivesse deslumbrado com a viagem
acho que foi assim a primeira vez que viajei, mas havia me esquecido

quando cheguei sozinha na estação tomei um café
sentada naqueles banquinhos vermelhos eu me sentia num filme

o sereno, o vento, a chuva
e meu coração calmo, quase dormindo
há tempos eu não parava na estação pra tomar um café

Fui embora com a certeza de que eu precisava parar em algum ponto
que eu precisava de um abrigo
uma casinha tranquila, silenciosa
um repouso cá dentro para entender todo o barulho do lado de fora

cônjuge













as silhuetas se confundem a cada aproximação
recoste tua a alma a minha, ela pedia
perdida nos vários fragmentos de si
urgente era o abraço
aquele abraço que não vinha

o caminho era longo
queria mesmo era chegar a lugar nenhum
a noite era minima
repleta de desejos ocultos
esses sorrisos fazem morada em mim
mas vê-los agora está além de minhas pupilas

eu queria era perde-me em seus cabelos
queria perder-me em todos meus anseios
comer-te até o fundo
ver o corpo e o coração desnudos
sugar o sangue
só pra encontrar a alma
o tal abraço urgente

entre um vagão e outro há sempre um espaço pra fumantes
entre um cigarro e outro eu fico a me perguntar:
todo preterito é imperfeito?

queria mesmo era conjugar o tempo
ou quem sabe cônjugar o tempo
se é que isso é possivel.

foto de Christoffer R.

o cais

a saudade embarca no horizonte
enquanto eu continuo sentada solitária no cais
um enorme eco assola meu coração
noutra noite a dor não coube em mim
saltou pelos meus olhos e as minhas lágrimas fizeram-se mar
o que me aflinge é não poder ter balançado o lenço do adeus

outrora as distâncias me pareciam curtas
eu quase podia sentir a lua
naquelas noites o tempo não tinha hora pra acabar
o sol subia ao céu como as letras de FIM nos filmes
os sorrisos pairavam em meus lábios como as gaivotas no mar

noutra noite a lua me falava sobre as travessuras
enquanto eu recostava meus pensamentos sobre meu velho companheiro
aquele travesseiro que esteve comigo em todas as travessias
deito-me ao relento de minhas lembranças
o cais é um pouco frio, querido
não há como cobrir a alma

o silêncio me incomoda
a loucura deita-se comigo
é, ela nunca me abandona
encontro companhia naquela menina refletida na água
e adormeço, ainda inquieta
é que o silêncio me aflinge

amanhã o barulho dos barcos vão me acordar
e eu vou escrever um samba
porque num há melhor maneira de falar de tristeza de um jeito alegre
e lá vou eu chorar pelos barcos que se vão

a morte de Maria

20 de outubro de 2008

Quando eu soltei a mão de Maria, foi como se tivessem me arrancado o dente da frente. Naquela noite, já com os joelhos feridos, as pernas doendo, problemas na coluna e magro eu terminava minha saga de dois meses ao lado dela em coma. Aquele silêncio me fazia tanto mal que, quando comia, eu jogava pra fora toda sujeira que tinha preenchido aquele vazio. As vezes acho que Maria ficou doente pra me castigar por eu não saber ficar em silêncio ao lado de outrém. Quando ela se foi, eu nem encontrei lágrimas para chorar, não é que eu não tenha ficado triste é que eu já estava um pouco cansado de segurar a sua mão, pareceu o fim de um tormento para mim e para ela. Chegando em casa eu achei o nosso livro de fotografias, não fui ao velorio ou enterro, fiquei sentado de frente para nossas fotos, reparei que o semblante de Maria nas fotos era muito diferente daquele do quarto do hospital. Quando abri a porta do guarda - roupa em meu quarto , que até me parecia um lugar estranho, eu me assustei com o cara que vi no espelho, ele tinha barba, cabelos grandes e parecia bem mais velho. Na certa eu não era o mesmo sem minha doce Maria. Hoje fazem dois anos que Maria morreu, eu não sou bom com datas, mas me lembrei porque no dia da sua morte eu tentei escrever uma carta e levar para sua lápide, acontece que só saiu a data. Eu achei essa carta no meu paletó velho que ela tanto gostava. Desde que Maria se foi eu nunca mais o usei. Quando achei a carta, fui levar para ela, sim eu fui até o cemitério honestamente acho que ela ia gostar daquela carta silênciosa, não consegui encontrar a sua lápide. Quando o coveiro veio me ajudar, senti que seu túmulo me parecia mais um jardim, eu nunca fui levar flores para ela. Achei a cena tão bonita que percebi que não era mais necessário deixar a carta. Quando nos conhecemos eu prometi para ela que seguraria a sua mão para sempre. Hoje olhando assim de longe, acho essa promessa tão descabida. Onde já se viu prometer isso? Afinal de contas um dia, um de nós dois morreriamos, o que eu pensei? Prometi que não faria promessas novamente.

Pai

Os dedos dele acariciavam minha franja lentamente, iam tocando meus cabelos.
- Pai, como é ter 73 anos?
- É já ter vivido muita coisa, minha filha.
Deitada em sua barriga sinto ele esvaziar os anos.
- Pai, se lembra quando eu era criança e ficava acordada até de madrugada lhe esperando?
- E eu sempre lhe trazia um chocolate.
Naquele momento, pensei que ele ainda me traz um chocolate as vezes. Talvez eu é que tenha esquecido dos tempos em que eu o esperava madrugada a dentro.
- Eu sinto saudades de ser criança pai, sinto falta de jogar video game até tarde e de não ter responsabilidades.
- A minha filha a vida é dificil só no começo, depois você se acostuma.
Eu quis pedir pra que ele fosse pro quarto e contasse uma história pra eu dormir. Um desses contos de fadas que eu acreditava quando a vida num era dura.
- Pai você se lembra quando eu sentia frio a noite e você ia lá me cobrir. Se lembra de você na beira da cama me contanto historias. Se lembra que você pedia pra mãe não me bater. Se lembra que eu te pedia para alugar "Alladim" todo fim de semana, até que você me deu o filme.
Sinto os braços dele cairem e um leve ronco.
- É pai essa noite sou eu que vou te cobrir.
Boa noite, dou-lhe um beijo na testa.
Vou sozinha para meu quarto. Na cabeceira, Mario Quintana me acompanha e logo reconheço: É por isso que inventaram os livros, porque os pais envelhecem. Foi pra isso que inventaram os livros, pra isso. Como eu nunca havia percebido. Como?

Cordão umbilical

- Mãe quero voltar para seu útero.
Fiquei trépida.
- Filha não tem como você voltar para meu útero.
Então ela se encolheu no canto da sala em posição fetal.
O frio cerrava os meus dentes e paralasiva minhas articulações.
- Vem mamãe deite comigo.
Um sangue começa a jorrar de seu corpo e me aquecer.
- Mãe, quando eu morrer deite - me na chuva embaixo daquele escorregador do parque que eu tanto gosto.
Palidamente ela foi se tornando apenas um traçado.
- Mãe, nunca me diga adeus, nunca.
Ela se desfez entre meus braços.
- Você nunca vai partir filha.
Naquele instante, sua morte se tornou o cordão umbilical que nos liga.









século 21

a água desfazia os meus cachos, roubava suas cores douradas. eu tremia, não sei se de frio ou de nervoso. a chuva escorria pelos cabelos lisos dele e fazia com que eles ficassem ainda mais negros. nossos corpos ficavam cada vez mais sinuosos. o silêncio era constrangedor. os olhinhos apertadinhos dele fugiam de mim o tempo todo. eu queria toca-lo, mas algo me impedia. meu estômago queria jogar todo aquele sentimento agonizante pra fora. foi ai que ele quebrou o silêncio e me disse:
- Preciso te confessar uma coisa.
Agora sim parecia que eu não ia aguentar.
Então ele soluçou:
- Sou gay.

lágrima no bolso

a garoa lá fora é a mesma meu bem
a gente aqui dentro é que mudou
a garoa lá fora tem a mesma finura
a mesma finura das nossas lágrimas

nossos corpos nús jogados no chão
vesti tuas roupas
bata a porta
não se despeça
eu odeio despedidas

guardei uma lágrima no teu bolso
vai se lembrar de mim quando o sol nascer
ah meu amor, eu prefiro a noite
eu prefiro a garoa fininha dos teus lábios

as gotas de chuva cairam, querido
nós também caimos
caimos nús na sala, entrelaçados
como as gotas de chuva unidas pela correnteza

quando o sol iluminar nossas nuances
você vai se perguntar se foi coragem
você vai se perguntar se foi covardia

eu vou continuar nua na sala
pensando que não foi coragem
não foi covardia
foram só dois corpos felizes por se entrelaçarem

e a minha lágrima no seu bolso
vai dizer que eu sinto saudade
e a minha lágrima no teu bolso
vai inundar que eu sempre sinto saudade







acima das nuvens


Era estranho estar acima da nuvens. De lá o mundo me parecia bem pequeno, tal como as maquetes que eu sofria para montar quando criança. Pra enfrentar o medo daquele lugar estranho, fechei os olhos, tentei ir para um lugar feliz, como eu sempre via nos filmes. Há dias em que acho que vejo filmes demais. Eu precisava mesmo era de um drink, aquilo tudo tinha gosto e cheiro de fim de noite, mas eu estava apenas presa em uma cadeira e ali permaneceria. Depois de um tempo, as nuvens foram me passando uma paz, uma paz infantil. Dava vontade de pular naquele algoodão gigante. Logo veio a chuva, a chuva sempre vem. Agora era aquele barulho dos pingos embassando a janela. E agora são meus olhos que, calejados de chorar, embassam minha vista do mundo. Eu ia lendo um livro. Eu ia lendo "O Regime da Lua" quando eu tinha sete anos. Eu fechei esse livro e troquei pelo "As mil e uma noites". E troquei por outro e por outro e por outro. E agora estava eu sentada na beira da lago olhando para aquela menina que tremia de frio, que tremia com o balançar das águas. De repente, ela me deu um sorriso tão sincero, que eu retribui prometendo que a protegeria. Ali fechei o livro e decidi que abrir outro. Então fechei os olhos e fui para um lugar feliz, que estava comigo o tempo todo, é que eu tinha esquecido de me revirar. E assim mais alguns quadros fotografados giravam no projetor da vida.

silêncio

ela o espera na casa completamente vazia. sentada na velha poltrona que agora não lhe parece tão confortável.

o silêncio reina absoluto.

ele chega, abre a porta devagar. entra. senta ao lado dela.

o silêncio reina absoluto.

só me restou o travesti

já nem sei que horas são, mas a "noite" parece estar acabando. só me resta o travesti dançando no mastro. lá estava eu naquele velho quadrado preto, com mesinhas, espelhos, sofás e a pequena salinha de fumantes. perco meu olhar, o travesti já não me interessa tanto. relembro os meus 18 anos, quando pisei naquele chão pela primeira vez, era também a primeira vez que eu pisava em um recinto assim. as luzes coloridas me relembram alguns momentos, todos bons, não me lembro de nada ruim naquele lugar. houve um dia único, em que meus pés tiveram companhia e o velho dois pra lá e dois pra cá me pareciam fazer todo sentido. a dança continuava desajeitada, mas as alegrias do passado, hoje já não são mais as mesmas. minha vida agora até parece um filme em preto e branco sem direito a rebobinar ou cortar as cenas. a trilha sonora em descompasso com as imagens. de repente,um esbarrão amigo, depois de tantas doses de vodca retorno ao presente. danço e iterajo com os amigos e com quem desconheço. estou feliz por ter a companhia dos velhos e novos amigos. preciso de um cigarro, lá vou eu pra velha salinha. hoje meio solitária, o fotografo me chama de linda e pergunta se pode tirar uma foto enquanto acendo a minha calmaria. aceito a proposta. é o meu segundo e ultimo cigarro. conversamos sobre o mundo gay. mais cedo eu ofereci mil reais se a jéssica encontrasse um hetero. eu num tinha mil reais, mas ela nunca encontraria. o começo de noite foi de sofá, mas as vodcas mudaram o rumo das coisas. lá estava eu de novo indo embora. o som alto no carro, as pessoas se beijando, eu cantando e daçando. a conversa com o carro do lado. e aquilo tudo até me parece uma cena de filme. acordo de meia calça, blusa de frio e um flu flu rosa dependendurado na cama. acordei quando o sol ainda nem tinha saido. fiquei a pensar como eu queria ter uma máquina daquelas que nos fazem esquecer as recordações. como no filme brilho eterno de uma mente sem lembranças. eu me enfiaria nela e reconstruiria algumas cenas da minha vida. cadê meu roteirista?! lá se vai mais um dia e ele tem um gosto amargo de fim. A vida até parece uma sucessão de fins sem que eu possa ao menos escolher um que seja feliz. sem que eu possa ao menos escrever um the end na tela.

19 de agosto



A vida é feita de escolhas e as vezes fazemos algumas que viram nosso mundo de cabeça pra baixo. A nossa amizade foi meio assim, parece que foi preciso passar por um Tsunami para mantê-la. Como esquecer aquela sexta, as vodcas, as danças, os sorrisos e a certeza de que ali iria crescer uma amizade. Iamos viver bons momentos, outros nem tanto, bons botecos e bons amigos. Eu ia descobrir por trás daquele carinha aparentemente "rude", um menino doce, um coração gigante e uma alma boa. Na certa uma das melhores pessoas que conheci e uma das amizades que mais me orgulho de ter feito. Não somos nem um pouco parecidos, mas a gente aprendeu a se respeitar, acho que por isso essa amizade se tornou tão importante. Sabe meu amigo, você foi um desses presentes que a gente tem medo de abrir e de repente se alegra ao desembrulhar. Serei eternamente grata a todas as vezes que me destes seu ombro amigo para acolher meu choro e nunca vou esquecer nada do que fizestes por mim. Hoje você faz mais um ano de vida e eu espero lembrar dessa data e comemorar contigo por muitos e muitos anos. Você é uma ótima pessoas e como o Rapha já disse, você é jóia rara. Saiba que pode contar sempre comigo e nos dias chuvosos você pode vir para debaixo da minha sombrinha, pois encontrarás sempre um afago amigo. É engraçado ver como o mundo dá voltas. Quem diria que um dia eu seria amiga daquele menino que sempre detestei. hahaha Mas a vida tá ai pra isso, para nos surpreender e as vezes ela é extremamente positiva. Há surpresas boas e você é uma delas. Meu amigo, tudo de bom, felicidades pra ti, hoje e sempre. Bom, esse é seu presente. hahaha

relento

adormeci ao relento

costurando essa poesia vadia
o vento baila pelo meu corpo
como a bailarina que flutua no palco
os barcos somem no horizonte
e os fiapos de dente de leão
sendo levados pelo vento

o sol vem nascendo, de longe
o calor envolve minha alma
amanheço
com o mesmo sorriso de outrora
aquela mesma esperança tola
de ser feliz todos os dias
o quão foi em vão ter chorado
o quão foi em vão ter medido

tomo o velho chá das cinco
aquele que eu nem precisei adoçar
a árvore joga tuas folhas sobre minha poesia
agradeço a sombra
volto a beira do cais
enquanto o sol troca de lugar com a lua

agora só escuto Tom Zé me chamando de menina
há dias que parecem as histórias que meu pai me contava na infância
agora estou sozinha
mas esse silêncio é paz
adormeço

céu turvo

deitada sob um céu turvo
esquecida nos abraços de outréns
vestigios de delicados pedaços de mim
sendo levados pelo vento das horas
já nem sei mais de mim
talvez me falte ardor
que eu só sei sentir, simplesmente
o sol me acorda pela janela
o sopro do dente de leão é meu acalanto
meus pés descalços caminham errôneos
que eu só sei sentir, simplesmente
abandonada no ventre da vida
as palavras presas nas cartas que eu nunca escrevi
quando mais perto chegas
mais sozinha me sinto
mordo o amargo fruto do passado
o vento esparramou meus desafetos
e lá fui eu, embora

auto conhecimento

era eu despindo minha própria pele
revirando-me pelo avesso
estraçalhada entre o chão e a terra
meu coração ainda pulsa
os pulmões morrem aspirando o que eu nunca quis
minutos antes eu queria um cigarro
era pra queimar o resto de minha pleura
aquela parte mais sensível do meu corpo
minhas viceras disputavam um tênue espaço com meu coração
no canto, meus olhos se assustam por não conhecer aquelas partes de mim
minha garganta ficou sem nada pra dizer
destrui-me por não saber o que a anatomia faria de mim
morri ali, na rua rua do presente, quase esquina com o futuro
ah! como foi doce o chá que tomei no bar do passado

anjo da guarda

anjo da guarda, onde tu estavas todos esses anos?
por que tu me deixastes tão só?
ah meu anjinho como crescestes
tu já nem me parece mais o mesmo
passei mals bocados sem ti
vivi como um cão de rua, abandonada
e agora que me acostumei com essa solidão
que faço meu anjinho? que faço?
trouxestes o almanaque que me explica?
abre na página que decifra as minhas entranhas
coloca um marcador de texto nas minhas fugas solitárias
que eu já nem sei de mim
cadê aquelas minhas fotos em preto e branco?
tu não trouxestes nada né?!
mas o que importa é sua vinda

agora vai meu anjinho da guarda
vai que eu me acostumei a ser forte sem ti
me olha de longe e quando veres um brilho do céu
venha secar minhas lagrimas

ah meu anjinho! ah!

vermelho

sou um entardecer de sol
me pondo me pondo
sou o céu vermelho
que o balanço das águas da lagoa refletem
como o meu coração
que dança dentro do meu corpo
as pessoas na beira da lagoa
refletem os olhos dos peixes que já morreram

a noite inexisto
como a casa na beira da lagoa
a casa sem cômodos
agora nada em mim é cômodo


volta e meia surge uma estrela no céu
e faz brilhar os olhos sofridos da menina na beira da lagoa
a menina que carrega dentro de si um feto
a menina que é um feto
sou agora o nascer do sol
nascendo nascendo
todos os dias

delirio vital

delira-te a vida
arde em paixões febris
inspira sentimentos
traga dor
sopra zelo
embebeda-se de prazer
sorve-se em medo

como queres calma
se teu chão é o céu?
como queres certezas
se vives de sonhos?
como queres estabilidade
se o mundo gira?

a realidade é meu sono
acordo refugiada
no fundo só tenho a ti
só tenho a ti, espelho
as silhuetas namoram
eu sou amante da vida
vou entre os arbustos
colho flores

procuro-te
felicidade aonde estás?
felicidade aonde estás?
felicidade aonde estás?
escuto o eco pelo mundo

Meu coração se espalhou pelo meu sangue e ocupou todo meu corpo, como um andarilho que carrega na mochila todas as culturas do mundo.

sala de espelhos

O suor da minha alma embaça as várias faces de mim.
Espelhos refletem o vazio da minha insônia solitária.
Era o entrelaço de nossas ternuras que eu procurava naquela nudez.
Os livros não escrevem a chuva ácida da mulher que chora naquela poltrona escura.
O quadro nem chega perto de pintar o velho cheio de dentes na boca.
A luz corta a minha carne e corroe os meus ossos.
Os arbustos inspiram minhas viceras mortas.
Eu encontro o passado cheio de roupas.
Meus ombros negam-se a usar vestimentas.
Os meus olhos traduzem o assasinato de minha dor.
Meus braços setenciam o fim do meu calor.
Arranco o espelho e me torno parte dele.
Qualquer aproximação reflete o que me trouxeres.
Não me espere para o jantar.
Tem 14 passos querendo sair de dentro de mim.
Enquanto os pássaros procuram a janela dos meus pulmões,
minhas traqueias gritam o recomeço.

meu primeiro amor.

Descobri o amor aos 5 anos de idade. Foi quando eu vi aquele menino loirinho, de olhos grandes e que me sorria timidamente. Ainda lembro da sensação que eu tinha ao vê-lo, uma vergonha completamente inocente, eu num sabia de que, mas tinha muita vergonha dele. Acho que nunca tinhamos nos falado, mas trocavamos olhares e sorrisos. Com o passar do tempo, Samuel, meu melhor amigo e também o melhor amigo dele, me contou que o menino loirinho me amava. Eu disse que também o amava e que agora eramos namorados. Nunca nos tocamos, mas eramos muito felizes. Naquele dia, achei que me casaria com o menino loirinho. Afinal de contas nosso amor era pra sempre. Todos na sala sabiam do nosso amor. Passei o 2º e 3º período namorando ele. Quando fomos para a primeira série o destino nos separou. Ele ia estudar pela manhã e eu a tarde. Quando descobri que não seriamos da mesma sala, chorei muito. Aos 7 anos tive minha primeira desilusão amorosa. Mas o mais engraçado é que nosso "para sempre" durou mais um pouco. O menino loirinho começou a me escrever cartas e me pediu que eu não o esquecesse mesmo que estivessemos longe. Começamos a nos comunicar por cartas, era doloroso não vê-lo mais. Mas ainda eramos namorados e ainda seria para sempre. Tia Sônia, nossa professora, intermediava o contato. Lembro-me dela me entregando as cartinhas com um olhar meio triste, acho que ela sentia pena daquilo tudo. Eu e ele eramos precoces e escreviamos muito bem naquela época. Tia Sônia se envolveu conosco, cheguei a frequentar a casa dela. Aos 7 anos eu sentia o peso de um amor a distância e sofria, sofria. O tempo foi passando, as cartas foram ficando escassas, tive outros amores e ele, com certeza, também teve. Minha promessa de criança eu nunca quebrei, pois não o esqueci. Ali, eu aprendi que o para sempre, não é para sempre e que o amor é bonito, poético, doce, mas as vezes dói. Acho que ainda sou a menina de 5 anos que ama e escreve cartinhas, que acha que o para sempre existe e sonha em ser feliz, só com o sorriso timido de outrém. Ainda me lembro das cartinhas e do coração sublinhado forte de vermelho e colorido fraquinho por dentro, no fim aquela letrinha desenhada, sacrificada "ass: Victor Hugo".

memorial

Eu espero que na velhice você se lembre de segurar a minha mão ao descer do ônibus.
Espero que você não enjooe de acordar ao meu lado.
Que se lembre de me dar um abraço ao chegar cansado do trabalho, mesmo tendo acordado comigo.
Por vezes esquecido, quero que me conte das noites em que me deixastes sozinha para se aquecer nos braços de outrém, porque por algum motivo você se sentiu sozinho e vazio.
Quero ver alegria e me sentir bem por estar com você como nos velhos tempos.
Quero sentir que os ponteiros dos relógios estão girando rapido demais uando eu estiver ao seu lado, como na primeira vez em que nos vimos.
Espero que você se lembre de me cobrir com o edredon nas noites frias, quando eu me descobrir de tanto me mexer.
Quando minha pele já não for mais a mesma, eu ainda vou esperar suas que suas mãos contem nossos anos juntos nas minhas rugas.
Quando eu estiver caducando na velha cadeira de balanço, lembre-se de me aceitar, afinal eu sempre fui meio caduca mesmo.
Na minha morte, não chore, lembre-se que o fim de alguma coisa é o recomeço de outra, que geralmente é muito melhor.
Agora vamos embora, porque o tempo não espera a gente e a vida é muito curta pra ficarmos esperando todos os semaforos fecharem, feito japonês.
Vamos continuar com os velhos drinks, ainda somos jovens e podemos morrer jovens.
Então viva cada dia como se fossemos envelhecer rápido demais.

Manual da madrugada

Escondida por trás de sua jaqueta de couro, observava as putas semi nuas se oferecendo para os homens sedentos por sexo. Nunca entendeu muito das relações sociais, entendia mais de solidão, e nisso ela sabia que se assemelhava as putas. Por terem tanta gente, parecia-lhes que não tinham ninguém. As vezes ela era uma puta com seu coração, vendia-o a qualquer preço, mas o sedentismo pelo sexo não é o mesmo do amor.
Um dos homens atropelou uma das putas e arrancou o carro. As outras correram para ajuda-la. No chão ela estava um pouco ensanguantada, o cigarro voou longe e ainda acesso queimava no asfalto. A puta se levantou meio cambaliando e começou a gritar que não aguentava mais aqueles canalhas e aquela merda de vida. As vezes quando eu me machuco eu também sinto vontade de levantar e gritar as mesmas coisas que a puta, mas eu me limito a admirar a coragem dela. Achei que a puta fosse embora para um hospital, mas um homem lhe deu um pouco de água para lavar o machucado e ela saiu no carro dele. Tudo é muito efêmero com as putas.
Uma delas contou que o homem que atropoleu a amiga é apaixonado por ela e quer tira-la "dessa vida". O amor é mesmo uma coisa estranha, ninguém quer se apaixonar por uma puta e nem as putas querem se apaixonar por seus clientes, mas não há escolhas. O amor é o sentimento mais sincero que existe, porque somos impulsivos e bobos. Atropelamos as pessoas para o bem delas e queremos cuidar tanto que só pensamos em tira-las de suas vidas e trazê-las para as nossas. Principalmente quando elas vêem de um submundo, não um submundo externo, mas um que existe dentro delas. A madrugada esconde a sujeira da claridade, ela tem partes de um sub mundo.
Na verdade tudo na madrugada é um submundo, e como não existe um manual você só precisa saber que estar sozinho é a melhor maneira de estar seguro. Volta e meia passava um bebado, cambaliando a madrugada. A madrugada é por si só meio tonta e também meio solitária. Ela estava entediada de observar as putas. Queria uma cerveja e também queria queimar todo o maço de solidão que ainda tinha.
Tirou uma folha em branco e a folha exigiu uma explicação. Não conseguiu escrever absolutamente nada. Queria saber desenhar, ao menos faria uma caricatura e resolvia o problema. Tirou o livro de poesias, leu, tentava se inspirar, mas nada conseguiu. As horas iam passando, o silêncio era constante. Deu seu último trago solitário e pegou o ônibus as pressas.
Sentou-se num dos bancos e suspirou. A folha branca sentou ao seu lado cobrando uma explicação. Ela nada pode dizer, então a folha logo lhe avisou que a madrugadam estava dentro dela, era interna. A folha branca era a vida, esperando ser preenchida

Crossdreams

a noite é fria, a madrugada pior
volta e meia bate um ventinho cá dentro
mas há sempre como esquentar
mesmo que o sol não venha
e há dias em que o céu fica tão bonito
coisa das cores lembrarem Almodovar
é um azul meio roxo, um rosa vermelho
e as nuvens permanecem sem rumo
dançando
vão se formando, passando se desfazendo
quase como a vida, quase como a gente

há sempre um banco branco dentro da gente
daqueles antigos que causam uma certa nostalgia
há sempre um velhinho com boas histórias
e uns meninos jogando bola

a luz do sol ilumina a confusão diária
quando anoitece a brisa sopra dentro do meu coração
e me faz deitar no silêcio dos bancos brancos
aquele cheiro de flores
adormeço inocentemente
noutro dia o sol me acorda
vou embora
mas deixo os meus sonhos no banco
noutra noite, alguém há de sonha-los
ah, como eu gosto da noite.

a menina que não tinha sombra

quando criança nunca havia percebido que não tinha sombra. passou a adolescencia inteira sem perceber. até que um dia, na juventude, se deu conta de tal estranheza. ficava sempre intrigada com aquela situação, como podia alguém não ter sombra? sua intrigação foi tanta que lhe fundiu a mente. começou a desconfiar de sua existência, começou a achar que não existia por nunca ter visto sua sombra. começou a parar as pessoas na rua e perguntar se ela era real. passava noites em claro, apagando e ascedendo a luz tentando encontrar sua sombra. até o dia em que não mais queria sair do quarto afixionou-se por encontrar sua sombra. quando as pessoas se aproximavam a única coisa que ela queria saber era se alguém estava vendo a sua sombra ou se ela era mesmo real. só lhe importava encontrar sua sombra. ela perdeu os laços sociais, a vontade de se alimentar, de tomar banho e tudo que lhe era direito. mandaram interna-la num manicomio, lá ela continuou a procurar sua sombra e ficou conhecida como a menina sem sombra. ela acabou aceitando sua condição. afinal lá, todos pareciam não ter sombras mesmo.
numa manhã um médico diferente chegou no manicômio e levou todos para tomarem sol no parque, no susto, um dos loucos gritou: " - ei, menina sem sombra eu tô vendo sua sombra." a menina assustada virou-se e pela primeira vez viu sua sombra. no dia seguinte ela se matou e deixou um bilhete escrito: "- como é que alguém pode ter sombra? como?" O louco que gritou que a menina tinha sombra, era zé do preto, ele sempre via uma mancha preta em todos os lugares. pobre menina da sombra, morreu sem saber que num tinha mesmo a tal sombra.

Ah, Deus!


a lágrima escorreu lentamente
pairou em meus lábios
eu sentia agora o gosto amargo da mentira
as lágrimas embassavam os olhos
e fazia o coração não acreditar no que via
sentia-me nua
o corpo soluçou de frio
haviam me comido por dentro
fixei os olhos na faca que entrava em meu peito
talvez o sangue me esquentasse
alguns abraços amigos me aqueceram o coração
mas onde foi que eu deixei o meu coração?
acho que o perdi
tal como o pote de açucar
que agora me parece ter se tornado sal
só por essa noite
só por esses dias
eu não serei uma puta com meu coração
vou deixa-lo solitário
deixa-lo se aquecer com os carinhos amigos
denovo estou na chuva e sem sombrinha
acho que já perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu
só não vou me deixar ser levada pela correnteza da tristeza
porque o trem da vida passa as 11h30 e eu num quero perdê-lo
espero as mãos que vão se estender e me ajudar a subir nele
vou chorando, rindo, cantando e dormindo
num vagão distante de tudo todas as magoas e decepções
uma hora será hora de subir no trem e eu só terei uma palavra a dizer:

Adeus!

Ah, Deus!

deliciosamente simples


As coisas mais bonitas da vida nascem da simplicidade
Numa busca diária e lenta pela doçura tênue, quase esquecida
Nos mindinhos que se tocam quase com vergonha
se procurando no escuro da noite
Nos olhares deliciosamente perdidos um no outro
quase como uma poesia recitada em meio a Praça Sete
e o menino solitário que a escuta
são as palavras
que o coração se recusa a dizer, em palavras
Sentimentos permeados de ternura
Carregados de uma simplicidade quase infantil
Os braços abraçam em proteção
Antes de qualquer beijo a lembrança da amizade

Antes de qualquer relogio a certeza de que os ponteiros giram depressa demais
para os corações que pulsam um de encontro ao outro.

momento

um pequeno momento
doce encantamento
é só o que sinto
viver é sucinto
como um verso de bolero
uns passos incertos
nas noites de boemia
das velhas poesias


e o que guardo agora
é o sentir bem de outrora

memorial

Eu espero que na velhice você se lembre de segurar a minha mão ao descer do ônibus.
Espero que você não enjooe de acordar ao meu lado.
Que se lembre de me dar um abraço ao chegar cansado do trabalho, mesmo tendo acordado comigo.
Por vezes esquecido, quero que me conte das noites em que me deixastes sozinha para se aquecer nos braços de outrém, porque por algum motivo você se sentiu sozinho e vazio.
Quero ver alegria e me sentir bem por estar com você como nos velhos tempos.
Quero sentir que os ponteiros dos relógios estão girando rapido demais uando eu estiver ao seu lado, como na primeira vez em que nos vimos.
Espero que você se lembre de me cobrir com o edredon nas noites frias, quando eu me descobrir de tanto me mexer.
Quando minha pele já não for mais a mesma, eu ainda vou esperar suas que suas mãos contem nossos anos juntos nas minhas rugas.
Quando eu estiver caducando na velha cadeira de balanço, lembre-se de me aceitar, afinal eu sempre fui meio caduca mesmo.
Na minha morte, não chore, lembre-se que o fim de alguma coisa é o recomeço de outra, que geralmente é muito melhor.
Agora vamos embora, porque o tempo não espera a gente e a vida é muito curta pra ficarmos esperando todos os semaforos fecharem, feito japonês.
Vamos continuar com os velhos drinks, ainda somos jovens e podemos morrer jovens.
Então viva cada dia como se fossemos envelhecer rápido demais.

simples

As vezes é fácil ser feliz com um pedaço triangular de bolo de chocolate, uma colher e três amigos. É encontrar a doçura num pequeno momento, tão doce que o chocolate até enjoou. O chão por vezes se parece o melhor lugar do mundo e dá vontade de dividir a vida pra sempre, assim como o pedaço de bolo que na hora da fome parecia a coisa mais deliciosa e eterna do mundo. É montar uma comunidade alternativa e leva-la a sério a ponto de se manter junto em todos os momentos. É saber que você tá protegido dentro de um casulo e que qualquer coisa que faltar terá alguém pra segurar a sua mão, mesmo que as pernas não consigam te deixar ficar em pé ou que todo o ar do mundo não lhe pareça suficiente. De repente, a gente percebe que quase nada é importante e que quase tudo importa. Num instante descobrimos que não estamos sozinhos, as boas e velhas amizades e as novas estão lá, para nos amparar. De repente, viver intensamente, cometer loucuras, se tornam pouco importantes e o simples toma conta. A gente encontra nossa verdadeira essencia, aquela coisinha simples guardada bem aqui no fundo. E ai eu percebo que nem preciso de mais nada, que nem preciso fazer algo insano, que só preciso mesmo de um pouco de carinho, atenção e respeito. Ai todas as pessoas do mundo ficam pra trás e todas as coisas são esquecidas, tudo se resumo a nós quatro, o chão, o bolo, a amizade, o carinho, o respeito e a bondade escondida em cada um. Compartilhado esses sentimentos, encontramos o simples, pronto não precisa de mais nada. No fim de tudo um pequeno e singelo presente. Pequeno fisicamente, mas grande simbolicamente e que trouxe uma grande alegria. As vezes é bom se encontrar com o simples e nessas horas concordo com o Mario Quintana "a vida é breve".

Entre

Clarisse dormia com dois travessereiros, um lhe ocupava e amaciava a cabeça e o outro os braços. A trilha sonora vinha lá de longe, uma dessas músicas antigas que seu pai escutava em uma vitrola velha. A luz da rua tranpassava a persinana entreaberta, fazia brilhar a gotinha de lágrima no canto do olho esquerdo de Clarisse. Iluminava o cobertor vermelho de erros, acertos, alegrias, tristezas, euforia e dor. A menina chorava a saudade do que tinha perdido para o tempo, das boas e velhas amizades, dos sorrisos, das dores, dos sentimentos. De repente, ela que tanto gostava da noite, sentiu uma vontade imensa de ver o céu azul, um sol bem no meio entre a dança das nuvens. Sentiu saudade de calçar a velha sandalha de madeira, vestir seu vestido vermelho e sair pelo mundo confundindo o dia com a noite, sentada nas praças vazias, vazias por fora, mas repletas de sentimentos por dentro. Dentro daquela rodinha de amigos que se formava com papos filosoficos ou piadas alegras permeadas pela fumaça dos cigarros. Ah! Como ela sentia saudades. Naqueles dias não haviam erros ou acertos, estavam todos no mesmo barco e afundariam se fosse preciso e nadariam rumo a margem, mas juntos. Estavam unidos pelos seus erros, talvez por isso fossem tão fortes. Sempre seguravam a mão de Clarisse e não importava quantos obstaculos iam passar, os dedos entrelaçados não se soltavam. Agora Clarisse anda com os cadarços desamarrados, tropeçando nos próprios passos. Caindo pelos seus caminhos. O coração continua com as portas escancaradas como quem abre a porta de um carro. Mas os antigos cadarços ela não tem mais, hoje se baseia em laços frouxos, por vezes esquecidos de amarrar. No fundo uma remota esperança, dessas florzinhas que encontramos solitárias num campo enorme. A esperança de encontrar nos novos laços, mãos que entrelaçem seus dedos na chuva, enfrentando as enchentes, poças e correntezas, esperando o dia clarear e formar um arco iris pra sentar na praça e olhar o céu, ainda que sem fumança mas com as nuvens dançando a velha música do seu pai que tocava na vitrola agora quebrada. Boa noite, Clarisse adormece.

A Surpresa de ser

A ti meu amigo dedico esse bonito e doce poema do Mario Quintana que desde a primeira vez que li achei que tinha sido escrito pra você.



A Surpresa de Ser

A florzinha
Crescendo
Subia
Subia
Direito
Pro céu
Como na história de Joãozinho e o Pé de Feijão.
Joãozinho era eu
Na relva estendido
Atento ao mistério das formigas que trabalhavam tanto...
E as nuvens, no alto, pasmadas, olhavam...
E as torres, imóveis de espanto, entre vôos ariscos
Olhavam, olhavam...
E a água do arroio arregalava bolhas atônitas
Em torno de cada pedra que encontrava...
Porque todas as coisas que estavam dentro do balão
Azul daquela hora
Eram curiosas e ingênuas como a flor qua nascia
E cheias do tímido encantamento de se encontrarem juntas,
Olhando-se

As vezes a amizade é tanta que as palavras ficam gastas, só um poema pra tentar traduzir tantos sentimentos. Mas de verdade pequeno João, vc foi um ser surpresa na minha vida. Um grande amigo, que mesmo nos furacões da vida, eu sei que estamos juntos. Nossa amizade é como um porto seguro. Espero comemorar muitos e muitos aniversários com você.
Parabéns e eu amo você putinho.

Acho que essa é nossa primeira foto, quase uma reliquia.

Vida Desnuda

Para os loucos de amor e para os amores loucos...

a vida vem desnuda, meu bem
venha, vamos vesti-la com nossos sonhos
dia a dia
vamos despi-la
sob uma luz forte
ver seus tênues traços
ou quem sabe despi-la no escuro
cegados pelas paixões repentinas
esperando uma fresta de luz qualquer pairar sob teus olhos
para eu me ver refletida dentro das suas pupilas
num súbito momento de encamento
como os filmes em preto e branco
onde não haviam cores para desviar a atenção
as coisas pareciam não estar preenchidas
eram apenas traços
como os atores mudos
interpretando sentimentos
sentimentos perdidos
feito um barco de papel em alto mar
nos desfazendo
sendo levados pela maré da vida
perdidos numa imensidão azul
onde o céu e o mar se confundem
e nos assustamos por descobrir que o mundo não tem fim
navegamos as tontas
girando,
como os ponteiros do relógio
e aquela água que nos banhou não passa mais
agora só guardo comigo o doce encantamento
o barquinho sumindo no horizonte
aquele pequeno momento que me deixou as tontas
procurando um fim
mas percebi que os ponteiros te levaram
e agora é tarde demais para eu ser reprovada

Ainda

Ainda sou a menina que olha a vida pela janela do quarto
A que nasceu prematura e que foi vivendo prematuramente
Aprendeu a ter calma consigo mesma para enfrentar as situações novas
Mas se esconde atrás da sua solidão quando está com medo
A menina que ainda se apaixona em cada esquina
A que cria expectivas com qualquer grãozinho de areia
Ainda sou a menina que se encanta com o simples
A que chora quando se sente só
E se olha no espelho para conter as lágrimas
A menina que busca a alegria todos os dias
Ainda que não a encontre sempre
Aquela que tenta ter cautela com as pessoas
A que aprende todo dia a ser forte
Porque a vida não tem talvez
A menina que se esconde na sua introspecção quando está insegura
Que tem medo da novidade, mas que se joga no mundo.
Ainda sou a mesma menina com medo de altura e de escuro da infância.
Porque meu coração ainda é de menina.

Sobre se apaixonar todos os dias

As pessoas tem dentro delas muitos erros e acertos, mas talvez os erros delas são o que as fazem felizes. O mundo é uma construção de coisas e a linha entre o certo e o errado é muito tênue. Os erros e acertos são uma construção conceitual de cada um. Há dias em que conceituamos o outro e as relações sociais não são para serem teorizadas, são para serem sentidas. A partir do momento que deixamos de respeitar as vontade e desejos do outro, deixamos também de respeita-lo. Por outro lado somos seres naturalmente individualistas e por isso devemos aprender a não atropelar os outros. Não deixar com que nossos sentimentos, desejos ou vontades passem por cima dos sentimentos de outrém. Tantas teorias fazem a gente se perder nos sentimentos e deles. Estar com o outrém é apenas sentir, sentir o que aquele momento lhe proporcina, sem pensar naquele momento. Os pensamentos são para a solidão. A solidão doi.
As vezes é preciso saber dosar nossos sentimentos para que eles não invadam o coração alheio, uma coisa é estar triste, outra coisa e deixar essa tristeza contagiar o outro. É mais fácil abandonar o outro quando ele entristece ou se afoga em uma solidão, mas é mais bonito busca-lo, aconchega-lo em braços de companhia, afeto e carinho. Nem sempre é preciso estar perto para estar junto, mas se você está longe, faça com que o outro sinta que você está perto.
Há dias em que é preciso colocar um nariz de palhaço para arrancar um sorriso triste. Acredito que temos o direito e o dever de sermos felizes e no ápice de nossa lucidez devemos viver os momentos sem medo, ainda que com cautela, da forma mais intensa possível. Porque intensidade é sentir e sentir faz bem. Sentir a proteção nos momentos de insegurança, sentir alegria nos momentos de amor, sentir-se só. Não devemos nos deixar sós. O mundo é verdadeiramente cão e precisamos encontrar valvulas de escape para fugir dele. Devemos entender que cada momento é único e que se ficarmos teorizando, vamos perdê-lo. É mesmo preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. A tal da intensidade. As pessoas não são o que elas fazem, mas sim o que elas fazem para gente. É sempre bom pensar no que fazemos para as pessoas então, porque é isso que importa. Acho que a felicidade está acima de tudo, é a melhor sensação que podemos ter.

Já dizia Shakespeare, "ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa. " Talvez esse seja meu problema, sou apaixonada pelas pessoas e me apaixono todos os dias.

Dedicado a um amigo

Ele sabe colocar um nariz de palhaço e uma maquiagem feliz, mesmo nos dias de chuva. E se os pingos d'agua borrarem toda a maquiagem e ele ficar mais parecendo um monstrinho, ele ainda terá o nariz de palhaço de plástico para me fazer sorrir. Há dias em que eu sinto falta das longas filosofias da madrugada, dos amores incondicionais, das dores, das saidas irreverentes e das pequenas alegrias. Porque ele é o menino que me apresentou uma revista chamada "Sorria", que me deu um outro lado do amor, que me fez vê-lo no seu pior estado numa noite e acordou com o maior sorriso do mundo, de cabelo de gel e cadernos na mão no outro. Esses braçinhos sempre me recebem com um abraço apertado e os labios me sorriem um: "- oi loirinha". As vezes eu me lembro dos velhos passeios no Palacio das Artes, do livro de assinaturas da exposição que o Michael Jackson tinha passado, lembro do samba-rock a noite nos shows do graveola, bem antigamente, com direito a peregrinação para chegar aos locais e teatro com interatividade. Ah, isso sem falar das crises existencias que dividiamos. Quando eu o vejo, eu me lembro que nem sempre é preciso estar perto para estar junto. Meu mundo ganha um pouquinho de alegria com os nossos sonhos, as vezes sinto a ligeira imprenssão que podemos subir em um barquinho de papel e sair navegando pela vida de uma forma suave e doce. Nesses dias o céu se confude com o mar e estariamos em um imenso azul. Acho que é essa alegria contagiante. Helinho Suquinho esse texto é pra você, porque as vezes é bom relembrar os amigos o quanto eles são importantes.

Linha tênue

Já acordou lá, o quarto estava escuro. Tentou se levantar, tentou sair dali, mas não conseguiu, parecia-lhe que estava presa. O quarto cheirava a sangue, ela sentia muita dor, na certa estava machucada. Mas quem teria feito isso com ela? A luz acende, a claridade é tanta que ela fica cega por instantes e não vê quem acendeu a tal luz. Ela grita, mas parece em vão. Ela está sozinha. Agora olha para si, talvez tivesse esquecido de fazer isso quado estava acompanhada. De repente, percebe que está presa, amarrada pelas cordas da cautela e da vontade de arriscar. Ela não sabe como se soltar, então usa a força, mas logo percebe que está se machucando mais. Vendo que será em vão, ela para, tenta pensar em algo. Analisa o melhor jeito de ir desamarrando, de sair devagar, mas sair dali. Nada parece fazer sentido, os entrelaços das cordas estão estranhos. Talvez ela precise chamar quem a amarrou para que a solte dali. São muitas perguntas e nenhuma resposta. Lhe parece que ela está de volta ao começo, quando a luz ainda estava apagada e a única coisa que ela sabia era que estava presa. Ela pensa em chamar alguém, mas no fundo sabe que ninguém conseguiria deslaçar aqueles nos, e que só quem a amarrou poderia tira-la dali. Subitamente, ela percebe que há um espelho no chão. Olha pra ele, olha pra si. Todos aqueles machucados, aquelas cordas. De repente ela percebe que pode se levantar, pois suas pernas não estão amarradas. Em pé, ela corre. Abre a porta e dá de cara com o medo, logo percebe que foi ele quem a amarrou. Agora ela precisa convence-lo a solta-la. Mas como? Ela se pergunta.

Foi quando ela acordou, deitada em sua cama , com os velhos moveis, os velhos enfeites e seu pijama. Ficou feliz por ter sido apenas um sonho, mas precisava levantar, pois já estava tarde e já tinham passadas muitas horas. Lá se foi ela.

inspirando o momento

desviou o olhar
teve medo de cair em um abismo dentro dele
as mãos trêmulas minaram segredos
respirou ofegante
queria inspirar aquele momento
tentou lhe dizer
mas a garganta engasgou com o sentimento
saiu com passos desajeitados
de quem queria ir por um caminho
mas achou conveniente ir por outro
lhe perdeu na primeira esquina
lhe encontra todas as noites
mas perde pela manhã

Toque doce

meu coração palpitava de encontro ao teu
todos os sentimentos traduziam-se em um simples toque
palavras tramitavam no encontro de nossos lábios
afogados pela euforia do momento
beijei-te inocentemente
queria apenas torna-me mais intima de ti
almejei tocar-lhe da forma mais doce possível
minhas mãos trêmulas queriam pedir desculpas por estarem perdidas
meu corpo todo movimentava-se de forma abrupta
por hora respondia mais aos teus estimulos do que aos meus
sentia-me ainda mais asmática,
cada respiração ofegante me fazia roubar um segundo de tempo
parecia-me ter me perdido no tempo e no espaço
não sabia mais os limites entre os nossos corpos
entrelaçados pela paixão daquele momento
no escuro dos nossos olhos fechados,
deixamos de existir
podiamos somente nos sentir
acordei sem saber se era mais um de meus delirios
ou se haviamos nos encontrado em nossos sonhos

Sobre solidão e amor

Eu tava forçando a mente para ver se lembrava cenas que reconstituiriam o filme preto e branco da minha vida. Sempre me imaginei morrendo dormindo, mas acho que a gente acorda pra morrer. Apesar de estar tudo invertido eu não estava com medo. Me sentia um pouco estranha por morrer sozinha ali, mas acho que ninguém morre com outra pessoa. A morte é a coisa mais solitária da vida. Orson Welles uma vez disse que, "nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos." Acho que ele tem razão, embora tenhamos inventado os laços socias, seremos sempre sozinhos. Agora eu tô aqui culpando a solidão por eu nunca ter me dado bem com o amor ou com os laços sociais. É engraçado essa coisa de amor, eu sempre me apaixonei por guris que aos meus olhos tinham uma sensibilidade e uma doçura incrivel, mas que aos olhos sociais não eram lá muito bacanas. Eu ainda acho que o importante é o que as pessoas são pra gente e o quanto nos fazem bem ou não. Na verdade eu sempre gostei de guris que eram praticamente impossíveis de conseguir. Acho que é essa minha fuga por não saber lidar com o amor. Vivo me encantando o tempo todo e sempre digo que quero alguém pra vida toda, mas acho que só me convem ser for algo intenso. Talvez as coisas que eu consiga, percam a intensidade. Acho que eu realmente nunca me dei bem com laços sociais, sempre tenho medo de invadir o espaço do outro e tenho medo que invandam meu espaço também. Contudo, eu aprendi a lidar com as pessoas, as vezes faço coisas demais por elas e raramente sou retribuida, as vezes não me importo com nada. Passei a maior parte da minha vida sozinha, desde criança, quando eu sabia brincar solitária, mas confesso que as vezes sinto falta de alguém comigo.
Não estou conseguindo me lembrar de nada para o filme, só estou me martirizando por ter escolhido ser sozinha. A solidão dói como as ferragens do carro que agora perfuram o meu peito lentamente. Cada fração de segundo de tempo sozinho é uma dor. Eu decidi colocar a culpa do acidente na minha juventude. Quando a gente é jovem, a gente acredita que nada vai nos acontecer, como se fossemos super herois ou sei lá o que. Ai de repente você se vê preso entre ferragens com tudo de cabeça pra baixo e sozinho, delirando de febre. Só consigo pensar na situação em que estou agora e não sei ao certo o porquê, mas não paro de pensar no amor. Acho que o amor sempre permeou a minha vida, tanto quanto a solidão, por mais contraditório que isso pareça. No ápice do meu delirio, me lembrei do meu último encantamento. Mais um para minha lista dos casos muito dificeis. Um desses encantamentos que surgem pelo que a pessoa é pra você e pelo bem que te faz. Nem chega a ser amor ou gostar, mas é carinho e admiração. A juventude é também a época que a gente mais encontra, ou perde, amor. Somos intensos demais. Mas também somos um pouco solitários, cada um tá preocupado com seu próprio umbigo e as vezes esquecemos de olhar nos olhos dos outros. Acho que nesse acidente, atropelei a mim mesma e matei a solidão e o amor de uma vez só.

Nudez de espírito

um dia eu ouvi "não espere que os outros façam por você o que você faz por eles" e ainda "faça o que é melhor para você, pois não sabemos o que as pessoas podem nos fazer amanhã".

Permaneço nua
Está escuro
Não estou só
Uma leve luz atravessa a fresta
Acaricio minhas companhias com a sombra da ponta dos meus dedos
Começa a chover
Meu corpo nu soluça de frio
Meu coração congelou
Fez todo meu sangue esfriar
Mas eu respiro, ainda que asmática
Os olhos lacrimejam mágoas
Já não reconheço ninguém
Meu anjo da guarda vem batucando
Vejo com os ouvidos
Apago a luz
Afinal não escuto com os olhos
Fria, sou agora uma sujeita a procura de um verbo
Sem o calor da luz, esfrio-me mais ainda
Procuro teu corpo para aquecer o meu
Apenas para que eu não morra
Jogue um cobertor sobre mim, amigo
Jogue um cobertor amigo sobre mim
Aqueça-me com tua honestidade
Aqueça-me com tuas verdades
As pessoas do quarto me viraram do avesso
e me comeram por dentro
como canibais
Sou só carcaça agora
Sinto-me forte
Mas estou nua de espírito.

suicidio transcedente

eu suicidei essa noite
abdiquei de mim mesma
suicidei de frente para o espelho
embaçado pelo calor
me perdi na falta de imagem
mas quem és tu que fostes embora?
não tive tempo de te ver
na minha morte não quis ver um filme real
não me cobres ter amor agora
pois tu nunca fostes inteira
no meu último suspiro de dor
suspirei a ti
suspirei a tua ausência
jurei a ti amor eterno
prometi que viveria apenas para ti
agora estou te matando aos poucos
no calor do espelho
eu me rendo, não vivo inteiramente para ti
mas também não deixo ninguém viver por ti
e nunca deixei ninguém viver para ti
confesso que te quis apenas para mim
mas deixei que tu vivesses para os outros
agora é o fim
meu coração agoniza de aflição
o sangue escorre pelo meu corpo
me martirizo de dor
lhe peço perdão por te matar dessa forma tão dolorida
quero que saibas que fui e sou sua melhor companhia
todas as vezes que fiquei a sós contigo foi para te proteger
agora eu vou, estou seca por dentro
acabou minha última gota de sangue
meu coração deu seu útimo pulsar e adormeceu
lhe deixo sozinha
cometi um suicidio transcendente.

Paradigma do (des)encontro


Eles já se conheciam, mas nunca foram, de fato, apresentados. Ela achava estranho conhecê-lo e desconhecê-lo há tanto tempo. As vezes ela sentia saudades da presença um pouco ausente dele. Quando presente ele figia não vê-la mesmo olhando para ela. Ela fingia não olhar para ele, mesmo o vendo. Ela só conseguia conversar a sós com ele se houvessem muitas pessoas ao redor. Ele falava com muitas pessoas quando estava a sós com ela. Ela as vezes o tocava, mesmo sem lhe tocar. Ele a tocava, sem que ela se sentisse tocada, mas as vezes ele também a tocava, sem tocar. Ela não sabe o que fazer ao lado dele e faz muitas coisas. Ele sabe o que fazer, não faz nada. A quietude dele, por ser inquieto demais. A inquietude dela por ser quieta demais. Ela queria ser natural, personificava- se. Ele queria encanta-la, agia naturalmente. Ele a elogiava, negando. Ela não o elogiava, afirmando. Ela era timida, todos a conheciam. Ele era extrovertido, poucos sabiam. O alccol os aproximava, a embriguez os afastava. Ela estava sempre perdida no mundo. Ele se encontrava em cada esquina. Ela sorria demais, com os lábios sérios. Ele sorria pouco, com os lábios sorridentes. Ela as vezes o procurava, sem procurar. Ele nunca a procurava, a procurando. Ela só sabia o que os outros diziam dele e ele só sabia o que os outros diziam dela. A sós, eles conversavam muito, em silêncio. Eles se encontraram várias vezes, mas nunca se encontraram.

Foto do site: http://troll-urbano.weblog.com.pt/arquivo/2006/03/a_m.html

Mendigo de coração


-Você arreda para lá e me deixa sentar aqui no cantinho do seu coração?
-Hummm. Não sei. Abre sua mala.
-Trago um pouco de carinho, muito apego, uma pitada de amor, um dose de lourcura, um pouco de sal, um pouco de açucar, um mucadinho de dor e bastante amizade.
- Quais as consequências de eu te deixar entrar?
- Se um dia resolver me tirar dai, vai matar um pouquinho do seu coração junto, pois eu já farei parte da circulação do seu sangue.
- Se eu te deixar entrar vou ter que entrar no seu também?
- Não necessariamente, mas talvez você já esteja aqui.
- Mas eu não lembro de ter entrado. O que eu levei nas malas?
- Ainda não sei.
- Acho não posso te deixar entrar.
- Tudo bem. Não é fácil mesmo.
- Isso se chama amizade?
- Sim.
- Isso é tão infantil.
- Por isso é verdadeiro.
- Mas crianças vivem no mundo da fantasia.
- Talvez por isso o mundo delas seja tão real.
- Para deixar você entrar eu preciso saber quem você é.
- Sou um mendigo
- Dá pra ver pelas suas roupas e pela sujeira.
- Mas você não me pediu dinheiro e nem comida.
- Sou um mendigo de coração, não sou profissional.
- Entendi
- Bom, boa sorte. Até mais.
- Obrigada. Até.

A pequena grande menina

Então a encheu de doçura
mas também colocou uma pitada de loucura
Fez teu rosto de menina
mas lhe obrigou a ser madura
A fez loira para que se diferencia-se na multidão
mas a fez baixinha para que não a notassem tanto
Lhe deu vontades para abraçar o mundo
porém encurtou os seus braços para que ela não conseguisse

Colocou um sorriso em teus lábios
e jogou tristeza nos seus olhos
para que ela não fosse feliz demais e nem triste demais
Deu-lhe um nariz de palhaço para que conseguisse divertir os olhares tristes
mas esqueceu de lhe entregar um espelho
Ensinou-lhe conceitos
fazendo com que ela nunca entendesse as regras

Encheu-lhe de sonhos
contudo esqueceu de lhe falar sobre a realidade
Esqueceu de colocar ar em seu pulmão
mas engrandeceu teu coração
Deu-lhe ouvidos pequenos para que não ouvisse os erros do mundo
porém deu-lhe uma alma grande para acolher os errantes

Ensinou-lhe a rezar
para que conversasse com ele
Não lhe deu uma beleza exuberante
e nem uma feiura assustadora
Lhe deu inteligência
mas a fez lerda
para que não se tornasse chata

Entregou-lhe a sensibilidade
mas escondeu nela uma dose de frieza
A criou forte como um touro
e frágil como uma flor
Colocou pedras em seu caminho
mas lhe ensinou a continuar

A fez timida
mas não a ponto de não poder um dia escrever sobre si

Dois Corpos

O silêncio reinava absoluto
Ainda que houvessem dois corpos ali
Corpos com movimentos perdidos
Intactos entre si

O silêncio incomodava
Não era falta do que dizer
Era excesso de palavras
Amedontrava-lhes pecar
Pecavam pelo medo
O silêncio tornava-se obsoleto

Olhos perdidos
Ouvidos aflitos
Mãos euforicas
Pernas inquietas
Continuam a andar
Sentem, mentem

Lado a lado
Separados por um muro
Não de concreto
Mas concreto

O silêncio continua a incomodar
Pensa ela em um jeito de quebrar
Enquanto ele sorri
Pensa ela no que ele está a pensar

Pensa ela em embriguez
Ao menos uma vez
Embriagar-se de palavras por um minuto
Não ter nada a dizer
Dizer muito

Passam-se dois minutos
Parace-lhes ter andando muito
Parece- lhes não ter andado nada
Passam suas almas
Intactas
Terminam com uma palavra
Adeus!


Ah, Deus!

Outrora

Mãe sempre diz para deixarmos as coisas onde encontramos

Mas eu tinha me esquecido
Agora vim devolver o obtido

Ou o perdido

Deixo tudo aqui e sigo por ai

Vou sem malas

Sem nada


Devolvo o violão sem cordas
Entrego-te as conversar demoradas
Devolvo meu sorriso sincero
Guardo para mais tarde os abraços singelos
Devolvo os cuidados

Alias, estes lhe deixo de presente

Porque nenhum cuidado é suficiente


Deixo aqui os cafés que não tomamos juntos

Levo todos os momentos injustos

Deixo as tardes que não sentamos no banco da praça

Escondo meu rosto sem graça

Vou a locadora devolver os filmes que não assistimos

Deixo no circo o tempo que não nos divertimos


Coloco uma luva em todas as vezes que nossos dedos não se entrelaçaram

Deixo em cima do cômodo todo o passado

Apago a melodia que eu nunca compus

Guardo os beijos para quando não houver luz

Jogo fora as preocupações em não perder

Me perco


Rasgo a carta que um dia eu escrevi

Fecho as portas que abri

Devolvo a proteção

Escondo meu coração

Vou embora

Talvez eu volte

Outrora

Talvez não

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