Gosto de terminar dividindo um colchão apertado nas noites mal dormidas. Gosto dos teus pés invadindo meu espaço durante a madrugada. A respiração tão perto que quase dá pra sentir o cheiro do pulmão. Gosto de ouvir o batuque do seu coração misturado ao meu, no encostar dos peitos. Gosto do gosto amargo de cigarro na minha boca depois de um beijo. Gosto das madrugadas na praça porque eu não tenho ônibus. Gosto do abraço pra gente tentar não sentir frio.
Gosto de me programar para te ver, mas se você espera pontualidade, saiba que eu não vou chegar no horário, porque sou naturalmente atrasada. Se você espera que eu vou pegar sua mão no meio da rua quando estivermos caminhando, esqueça, eu sou tímida. Se você espera um beijo surpresa, espera um pouco mais, uma hora eu chego lá.
Não ligo se você quiser fazer novos amigos ou amigas, se puder até me apresente. Não ligo se tenho que pegar três ônibus e andar quatro quilometros pra te buscar ou te levar a algum lugar. Não ligo de ter que assistir o jogo do seu time, mesmo preferindo que você não gostasse de futebol. Não me importo se você não tem grana e vamos ter que dividir o bar com as putas, os drogados e um garçom já velho que demora um pouco e traz a cerveja errada.
Mas eu vou me importar se você me deixar sozinha a noite toda. Vou me importar se você não me levar ao ponto de ônibus a noite como cavalheirismo. Vou me importar com coisas imbecis como você esquecer de me perguntar se quero a última azeitona antes de come-la. Vou me importar se você não se importar.
E se dizem hoje em dia que o amor virou uma coisa liberal, vão me perdoar, mas eu sou mulher a moda antiga. Lavo, passo, cozinho, faça tudo por você, mas não me faça ver essa troca de salivas. Só sei lidar com liberalismo se ele estiver muito bem conversado. Não sou mulher de n~çao sentir. Não sei nem ao certo se sou mulher, as vezes acordo tão menina. Sou menina que sonha. Sonha que nalgum lugar do mundo, há alguém que um dia vá querer dividir as noites suadas e os colchões apertados.