O Rei Arthur e a Puta

Sentei-me bem na ponta daquele banco de madeira branco. Noutro canto estava ele, Arthur. Nunca tinha o visto tão quieto, sentado daquele jeito. Faz exatamente 3 meses que Arthur internou-se na clinica de recuperação para drogados, mas fazem 3 anos que não nos vemos. Eu não fazia idéia do que dizer e ele ficou com o olhor perdido em mim. De repente, ele soltou:
- Você está ainda mais bonita.
Dei um sorriso tímido. Eu estava usando uma blusa de um seriado, um short jeans e um colete preto. Muito diferente das saias curtinhas, botas e tomara que caia que eu costumava usar quando ele me conheceu.
A única coisa que consegui perguntar foi:
- Tá tudo bem com você?
- Que que aconteceu com a gente hein? Éramos tão felizes. (Ele me disse com um olhar triste)
Eu queria responder que a droga estragou tudo, mas a verdade é que o Arthur não é o vilão dessa história. Quando eu e Arthur nos conhecemos eu trabalhava no cabaré da Dona Odilia, foi lá que me fiz puta e aprendi tudo que sei. Um dia, amargurado com o namoro que não lhe trazia felicidade, Arthur foi até o puteiro em busca de distração. Dona Odilia me apresentou para ele e acabei não fazendo o programa naquela noite. Conversamos a noite toda e quando ele quis pagar não aceitei. Arthur voltou muitas noites no Cabaré. Entre os homens que iam e vinham ele foi o único por quem eu senti vontade de passar a noite e não fazia pelo dinheiro.
Arthur me fez aprender a coisa mais esquisita da vida, é possível amar alguém e ser amado, mas mesmo assim não ser feliz. Eu estava enlouquecida com ele e ele comigo. Quase todas as noites ele ia ao Cabaré, riamos muito e a companhia dele era a melhor coisa que eu tinha. Passavamos a noite conversando e o tempo voava, um dia brinquei que ele era o Rei Arthur e eu apenas uma puta.
No mês de janeiro, Arthur começou a não ir todas as noites me visitar e eu fui ficando cansada daquilo. Um dia, de supetão, disse a ele que nunca mais queria vê-lo. Não era verdade, mas eu achei conveniente. Ele foi embora meio triste. Eu ainda não sei porque tomei aquela atitude, mas também nunca soube porque ele parou de me visitar.
Em três anos Arthur usou todo tipo de drogas possíveis, se tornou também um lixo que a sociedade queria se livrar. Assim como eu na minha condição de puta. Eu conheci vários amores, mas nenhum foi como ele e com ele aconteceu a mesma coisa. Engraçado como o mundo muda em 3 anos. Eu resolvi largar o Cabaré, escrevi um livro "O Rei Arthur e a Puta". Passei um ano me dedicando a ele e o lancei ontem, foi um sucesso. Se você tava se perguntando porque eu vim visitar o Arthur, tá ai a resposta. Vim lhe entregar o livro que diz o quanto ele me fez bem e o quanto me fez mal.
- Vim lhe trazer isso
- "O Rei e a Puta"? (Ele riu)
- Pois é, escrevi.
Passamos o resto da tarde rindo da situação.Arthur foi o grande amor da minha vida. Eu queria que ele ficasse com o livro de recordação. No inicio da noite fui embora.
- Adeus Arthur
- Adeus... (o meu nome não importa, agora podem escolher me chamar de puta ou de escritora, tanto faz.)

5 comentários:

João Killer disse...

Magnífico texto. Bem ousado e rasgado como eu gosto. Leitura boa, atraente e convidativa como deve ser! Acho, ou melhor tenho a certeza que você é uma das poucas meninas e pessoas que conheço que sabem escrever a realidade como eu gosto. Esse final é muito como eu imagino o mundo, sempre com uma supresa e que não é uma obrigação o "viveram felizes para sempre". O mundo é construido dessas realidades que parecem ser bobas, ou textos de comedia, mas isso são para os limitados que não percebem que nessa bola redonda na qual vivemos e chamamos de terra, está cheio de Rei Arthur e é claro que de puta! Foi muito prazeroso te ler.

* July * disse...

Concordo com o comentário de João Killer. Muito bom o texto. Envolvente na medida e bem realista. Final surpresa, com incentivo de amar sem viver junto, o que traz a tona diversas histórias cotidianas.
Maravilhoso, parabéns!

Jéssica Virgínia disse...

Ah Menina! Quando te leio sempre paro e me pergunto: De onde a Natália tira essas idéias? Aí lembro que você tem aquele planta, só seu, pra onde você viaja de vez enquando. Adorei o texto. Como disse o João, muito convidativo. Impossível começar e não chegar ao fim! Na realidade, muitas vezes (e por incrível que isso pareça) só o amor não basta! É preciso um bocado de coisas pra tirar o romance da literatura e fazê-lo real.

Nayara Malta disse...

Não é twitter, mas #vouconfessarque fiqeui com preguiça de ler esse texto no meio do trabalho, alguém podia dizer que eu não estava trabalhando. Mas era um texto da Natália, eu gosto dos textos dela, não os poemas, dos contos. E foi impossível parar de ler, mesmo quando vieram me perguntar o que eu fazia. Chegou ao fim com vontade de quero mais. Eu queria mais. Abri o blog para relaxar e li a página toda. Os contos, não os poemas....

G.C disse...

Nat, achei o texto envolvente e imagético. Acho bacana demais essa coisa da persongam conduzir a história, cria um laço, sabe? uma coisa de cumplicidade com quem tá lendo.

Mesmo na técnica de uma garota igual que vc descreveu, é bacana saber que mesmo "a trabalho" a emoção não fica trancada dentro do guarda roupa quando saímos de casa.

Nem sempre o amor é suficiente pras coisas darem certo, e isso é triste... Deveria, né? Tem hora que a gente complica demais as coisas.

Gostei muito, pequena.

Beijo.

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