momento

um pequeno momento
doce encantamento
é só o que sinto
viver é sucinto
como um verso de bolero
uns passos incertos
nas noites de boemia
das velhas poesias


e o que guardo agora
é o sentir bem de outrora

memorial

Eu espero que na velhice você se lembre de segurar a minha mão ao descer do ônibus.
Espero que você não enjooe de acordar ao meu lado.
Que se lembre de me dar um abraço ao chegar cansado do trabalho, mesmo tendo acordado comigo.
Por vezes esquecido, quero que me conte das noites em que me deixastes sozinha para se aquecer nos braços de outrém, porque por algum motivo você se sentiu sozinho e vazio.
Quero ver alegria e me sentir bem por estar com você como nos velhos tempos.
Quero sentir que os ponteiros dos relógios estão girando rapido demais uando eu estiver ao seu lado, como na primeira vez em que nos vimos.
Espero que você se lembre de me cobrir com o edredon nas noites frias, quando eu me descobrir de tanto me mexer.
Quando minha pele já não for mais a mesma, eu ainda vou esperar suas que suas mãos contem nossos anos juntos nas minhas rugas.
Quando eu estiver caducando na velha cadeira de balanço, lembre-se de me aceitar, afinal eu sempre fui meio caduca mesmo.
Na minha morte, não chore, lembre-se que o fim de alguma coisa é o recomeço de outra, que geralmente é muito melhor.
Agora vamos embora, porque o tempo não espera a gente e a vida é muito curta pra ficarmos esperando todos os semaforos fecharem, feito japonês.
Vamos continuar com os velhos drinks, ainda somos jovens e podemos morrer jovens.
Então viva cada dia como se fossemos envelhecer rápido demais.

simples

As vezes é fácil ser feliz com um pedaço triangular de bolo de chocolate, uma colher e três amigos. É encontrar a doçura num pequeno momento, tão doce que o chocolate até enjoou. O chão por vezes se parece o melhor lugar do mundo e dá vontade de dividir a vida pra sempre, assim como o pedaço de bolo que na hora da fome parecia a coisa mais deliciosa e eterna do mundo. É montar uma comunidade alternativa e leva-la a sério a ponto de se manter junto em todos os momentos. É saber que você tá protegido dentro de um casulo e que qualquer coisa que faltar terá alguém pra segurar a sua mão, mesmo que as pernas não consigam te deixar ficar em pé ou que todo o ar do mundo não lhe pareça suficiente. De repente, a gente percebe que quase nada é importante e que quase tudo importa. Num instante descobrimos que não estamos sozinhos, as boas e velhas amizades e as novas estão lá, para nos amparar. De repente, viver intensamente, cometer loucuras, se tornam pouco importantes e o simples toma conta. A gente encontra nossa verdadeira essencia, aquela coisinha simples guardada bem aqui no fundo. E ai eu percebo que nem preciso de mais nada, que nem preciso fazer algo insano, que só preciso mesmo de um pouco de carinho, atenção e respeito. Ai todas as pessoas do mundo ficam pra trás e todas as coisas são esquecidas, tudo se resumo a nós quatro, o chão, o bolo, a amizade, o carinho, o respeito e a bondade escondida em cada um. Compartilhado esses sentimentos, encontramos o simples, pronto não precisa de mais nada. No fim de tudo um pequeno e singelo presente. Pequeno fisicamente, mas grande simbolicamente e que trouxe uma grande alegria. As vezes é bom se encontrar com o simples e nessas horas concordo com o Mario Quintana "a vida é breve".

Entre

Clarisse dormia com dois travessereiros, um lhe ocupava e amaciava a cabeça e o outro os braços. A trilha sonora vinha lá de longe, uma dessas músicas antigas que seu pai escutava em uma vitrola velha. A luz da rua tranpassava a persinana entreaberta, fazia brilhar a gotinha de lágrima no canto do olho esquerdo de Clarisse. Iluminava o cobertor vermelho de erros, acertos, alegrias, tristezas, euforia e dor. A menina chorava a saudade do que tinha perdido para o tempo, das boas e velhas amizades, dos sorrisos, das dores, dos sentimentos. De repente, ela que tanto gostava da noite, sentiu uma vontade imensa de ver o céu azul, um sol bem no meio entre a dança das nuvens. Sentiu saudade de calçar a velha sandalha de madeira, vestir seu vestido vermelho e sair pelo mundo confundindo o dia com a noite, sentada nas praças vazias, vazias por fora, mas repletas de sentimentos por dentro. Dentro daquela rodinha de amigos que se formava com papos filosoficos ou piadas alegras permeadas pela fumaça dos cigarros. Ah! Como ela sentia saudades. Naqueles dias não haviam erros ou acertos, estavam todos no mesmo barco e afundariam se fosse preciso e nadariam rumo a margem, mas juntos. Estavam unidos pelos seus erros, talvez por isso fossem tão fortes. Sempre seguravam a mão de Clarisse e não importava quantos obstaculos iam passar, os dedos entrelaçados não se soltavam. Agora Clarisse anda com os cadarços desamarrados, tropeçando nos próprios passos. Caindo pelos seus caminhos. O coração continua com as portas escancaradas como quem abre a porta de um carro. Mas os antigos cadarços ela não tem mais, hoje se baseia em laços frouxos, por vezes esquecidos de amarrar. No fundo uma remota esperança, dessas florzinhas que encontramos solitárias num campo enorme. A esperança de encontrar nos novos laços, mãos que entrelaçem seus dedos na chuva, enfrentando as enchentes, poças e correntezas, esperando o dia clarear e formar um arco iris pra sentar na praça e olhar o céu, ainda que sem fumança mas com as nuvens dançando a velha música do seu pai que tocava na vitrola agora quebrada. Boa noite, Clarisse adormece.

A Surpresa de ser

A ti meu amigo dedico esse bonito e doce poema do Mario Quintana que desde a primeira vez que li achei que tinha sido escrito pra você.



A Surpresa de Ser

A florzinha
Crescendo
Subia
Subia
Direito
Pro céu
Como na história de Joãozinho e o Pé de Feijão.
Joãozinho era eu
Na relva estendido
Atento ao mistério das formigas que trabalhavam tanto...
E as nuvens, no alto, pasmadas, olhavam...
E as torres, imóveis de espanto, entre vôos ariscos
Olhavam, olhavam...
E a água do arroio arregalava bolhas atônitas
Em torno de cada pedra que encontrava...
Porque todas as coisas que estavam dentro do balão
Azul daquela hora
Eram curiosas e ingênuas como a flor qua nascia
E cheias do tímido encantamento de se encontrarem juntas,
Olhando-se

As vezes a amizade é tanta que as palavras ficam gastas, só um poema pra tentar traduzir tantos sentimentos. Mas de verdade pequeno João, vc foi um ser surpresa na minha vida. Um grande amigo, que mesmo nos furacões da vida, eu sei que estamos juntos. Nossa amizade é como um porto seguro. Espero comemorar muitos e muitos aniversários com você.
Parabéns e eu amo você putinho.

Acho que essa é nossa primeira foto, quase uma reliquia.
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