Escondida por trás de sua jaqueta de couro,  observava as putas semi nuas se oferecendo para os homens sedentos por  sexo. Nunca entendeu muito das relações sociais, entendia mais de  solidão, e nisso ela sabia que se assemelhava as putas. Por terem tanta  gente, parecia-lhes que não tinham ninguém. As vezes ela era uma puta  com seu coração, vendia-o a qualquer preço, mas o sedentismo pelo sexo  não é o mesmo do amor.
Um dos homens atropelou uma das putas e  arrancou o carro. As outras correram para ajuda-la. No chão ela estava  um pouco ensanguantada, o cigarro voou longe e ainda acesso queimava no  asfalto. A puta se levantou meio cambaliando e começou a gritar que não  aguentava mais aqueles canalhas e aquela merda de vida. As vezes quando  eu me machuco eu também sinto vontade de levantar e gritar as mesmas  coisas que a puta, mas eu me limito a admirar a coragem dela. Achei que a  puta fosse embora para um hospital, mas um homem lhe deu um pouco de  água para lavar o machucado e ela saiu no carro dele. Tudo é muito  efêmero com as putas.
Uma delas contou que o homem que atropoleu a  amiga é apaixonado por ela e quer tira-la "dessa vida". O amor é mesmo  uma coisa estranha, ninguém quer se apaixonar por uma puta e nem as  putas querem se apaixonar por seus clientes, mas não há escolhas. O amor  é o sentimento mais sincero que existe, porque somos impulsivos e  bobos. Atropelamos as pessoas para o bem delas e queremos cuidar tanto  que só pensamos em tira-las de suas vidas e trazê-las para as nossas.  Principalmente quando elas vêem de um submundo, não um submundo externo,  mas um que existe dentro delas. A madrugada esconde a sujeira da  claridade, ela tem partes de um sub mundo.
Na verdade tudo na  madrugada é um submundo, e como não existe um manual você só precisa  saber que estar sozinho é a melhor maneira de estar seguro. Volta e meia  passava um bebado, cambaliando a madrugada. A madrugada é por si só  meio tonta e também meio solitária. Ela estava entediada de observar as  putas. Queria uma cerveja e também queria queimar todo o maço de solidão  que ainda tinha.
Tirou uma folha em branco e a folha exigiu uma  explicação. Não conseguiu escrever absolutamente nada. Queria saber  desenhar, ao menos faria uma caricatura e resolvia o problema. Tirou o  livro de poesias, leu, tentava se inspirar, mas nada conseguiu.  As  horas iam passando, o silêncio era constante. Deu seu último trago  solitário e pegou o ônibus as pressas.
Sentou-se num dos bancos e  suspirou. A folha branca sentou ao seu lado cobrando uma explicação. Ela  nada pode dizer, então a folha logo lhe avisou que a madrugadam estava  dentro dela, era interna. A folha branca era a vida, esperando ser  preenchida
GRANDES SERTÕES DOMINGUINHO
Há 3 meses
4 comentários:
É menina de muitas pernas, a cada dia que passa seus textos falam mais forte comigo. =/ Pior que eu não sei se é bom. Ando com o coração pequenino...
Ps. Que tal criar uma final alternativo? ...a menina pega a folha branca, coloca umas ervas finas, enrola...
Pss. Qual é o seu email?
Psss. Tenho um bom filme para te indicar. Procure por Mary and Maxy.
Pssss. Abraço e bom fim de semana.
É um puta(sem trocadilhos,haha) conto ,meio sombrio e totalmente sujo... curto esse tipo de estética, na verdade busco escrever coisas desse tipo tambem...é meio violento...Gostei!!!
Bom texto!
Gosto desse clima meio Bukowski que vc criou nesse texto. é bacana explorar o sujo (como disse o Marcos) e buscar na essência das coisas um significado diferente do aparente.
''Ela nada pode dizer, então a folha logo lhe avisou que a madrugadam estava dentro dela, era interna.''
não abandone, então, tão na madrugada os desejos desses personagens que crescem dentro de ti.
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