Outrora

Mãe sempre diz para deixarmos as coisas onde encontramos

Mas eu tinha me esquecido
Agora vim devolver o obtido

Ou o perdido

Deixo tudo aqui e sigo por ai

Vou sem malas

Sem nada


Devolvo o violão sem cordas
Entrego-te as conversar demoradas
Devolvo meu sorriso sincero
Guardo para mais tarde os abraços singelos
Devolvo os cuidados

Alias, estes lhe deixo de presente

Porque nenhum cuidado é suficiente


Deixo aqui os cafés que não tomamos juntos

Levo todos os momentos injustos

Deixo as tardes que não sentamos no banco da praça

Escondo meu rosto sem graça

Vou a locadora devolver os filmes que não assistimos

Deixo no circo o tempo que não nos divertimos


Coloco uma luva em todas as vezes que nossos dedos não se entrelaçaram

Deixo em cima do cômodo todo o passado

Apago a melodia que eu nunca compus

Guardo os beijos para quando não houver luz

Jogo fora as preocupações em não perder

Me perco


Rasgo a carta que um dia eu escrevi

Fecho as portas que abri

Devolvo a proteção

Escondo meu coração

Vou embora

Talvez eu volte

Outrora

Talvez não

3 comentários:

Débora Gomes disse...

... esse texto me fez chorar hoje a tarde. Tanto que deixei pra comentar agora de noite, mas estou chorando outra vez. Não porque você tenha o escrito pra ser triste, mas porque li estando triste...
Sim! é preciso pôr um fim, uma ordem nas coisas, dar uma calma pro coração. A gente às vezes tem pergunta pra tudo, mas precisa aceitar que às vezes também não existe resposta pra tanta pergunta.

enquanto isso a gente sorri. e vai tocando em frente. sem parar...

G.C disse...

Vim dar uma moral pra blogs velhos, rs.

A gente tem que ter um pouco de calma com a gente. Tem que tomar cuidado com a solidão... a solidão é triste, e machuca. a solidão de espírito é pior porque mata, não matar no sentido real da coisa, mas nos deixa vazios.

Feche portas e rasgue cartas, mas esteja certa que o remendo é um bom remédio. o erro, quando é fruto da tentativa do melhor pra gente, é um erro sábio.

Gostei, mesmo!

Nayara Malta disse...

Pra dar Eco!

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